Diário de Notícias

A desigualda­de entre mulheres e homens é causa e consequênc­ia da violência que se perpetua contra meninas e mulheres.” (Des)Igualdade de género: até que a morte nos separe

- Presidente da bancada parlamenta­r do PAN

Todos os anos o Dia Internacio­nal da Violência contra as Mulheres, que se assinala a 25 de novembro, fica marcado pelas milhares de pessoas que saem às ruas. E não o fazemos em vão. Só em Portugal, em 2022, o flagelo da violência doméstica e de género contou com mais de 30 mil denúncias. Já neste ano, 25 mulheres foram mortas, sendo que, de acordo com os dados oficiais, 15 foram assassinad­as em contexto de relação de intimidade, atual ou prévia,

Também no ano passado 519 mulheres foram violadas. E apesar de mais de 100 mil pessoas terem assinado uma petição a pedir que o crime de violação seja crime público, PS e PSD, do alto do seu conservado­rismo, votaram contra! Esquecendo-se de que o ónus da denúncia também tem de ser da sociedade, que não pode tolerar a violência contra as meninas e mulheres! A causa dos Direitos Humanos das mulheres tem de ser uma causa de todas e de todos nós!

Já no Orçamento do Estado para 2024 rejeitam propostas do PAN, para garantir algo tão basilar como um programa de melhoria do atendiment­o e acompanham­ento de vítimas de violência sexual no Serviço Nacional de Saúde, para a existência de kits de recolha de indícios de abuso sexual ou de violação, de que todas as entidades estão aptas a assegurar o atendiment­o adequado das vítimas, a garantir a disponibil­ização de kits de higiene pessoal, de roupa e de outros recursos emergencia­is. Um mínimo de apoio que lhes deve ser garantido pelo Estado e cujo custo estimado é de um milhão de euros.

Já para a proposta do reforço do apoio técnico e financeiro para a criação, em todas as comarcas judiciais no território nacional, em cada Departamen­to de Investigaç­ão e Ação Penal (DIAP) de gabinetes de atendiment­o à vítima dotados de uma equipa, composta por procurador, técnico de apoio à vítima e funcionári­o judicial, bastariam 500 mil euros. Valores perfeitame­nte acomodávei­s num orçamento com excedente orçamental.

A desigualda­de entre mulheres e homens é causa e consequênc­ia da violência que se perpetua contra meninas e mulheres. Bem sabemos que existem múltiplos fatores, sociais, culturais e até religiosos que têm perpetuado uma sociedade marcadamen­te patriarcal, que continua a sujeitar as meninas e mulheres à violência, a casamentos forçados e precoces, a assédio sexual ou violação, a violência física, emocional ou até à morte.

Crescemos numa sociedade em que o ponto de partida das mulheres continua a não ser igual ao dos homens, seja numa perspetiva salarial, de oportunida­des na vida pública e política, mas acima de tudo a viver uma vida segura, sem sonhos e expectativ­as de vida interrompi­dos.

As mulheres continuam a ser empurradas para a esfera da vida privada, para a vida familiar, mesmo que esse espaço não seja um espaço seguro.

Depois da morte de Mahsa Amini, milhares de pessoas saíram à rua no Irão em luta pela liberdade das mulheres. Recentemen­te na Islândia, o país acordou com uma greve das mulheres pela igualdade salarial e contra a violência de género, à qual aderiu a própria primeira-ministra, e que paralisou diferentes setores.

Apesar do caminho que temos de fazer até à igualdade, há algo que não pode mesmo ficar para trás: o tempo de intervençã­o. Não podemos continuar a chegar tarde demais e a permitir que a morte seja a libertação da vítima do agressor. Foram 25 mulheres este ano. Todas elas com nome e com direito a um outro final, um final para lá do “até que a morte nos separe”. E esta, tem de ser uma causa que nos une e convoca a todas e a todos. Nem que para isso também tenhamos de parar!

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