Diário de Notícias

IP resgata obras na Linha de comboio de Vendas Novas

Depois do concurso deserto de 2020, principal linha de mercadoria­s entre o norte e o sul do país vai ter investimen­to de 184M€.

- TEXTO DIOGO FERREIRA NUNES

Imagem de arquivo da Linha de Vendas Novas, de 1997. Obras vão decorrer entre 2025 e 2028.

Inicialmen­te lançadas em 2020, as obras de modernizaç­ão da Linha de Vendas Novas foram recuperada­s pela Infraestru­turas de Portugal (IP) nas últimas semanas. A gestora da rede ferroviári­a nacional recebeu nova autorizaçã­o do Governo para investir no principal canal de transporte de mercadoria­s entre o norte e o sul do país. Fundada em 1904, a linha de 69 quilómetro­s une a Linha do Norte (em Setil, Concelho do Cartaxo), à linha do Alentejo (em Vendas Novas).

O orçamento para toda a empreitada é de 183,9 milhões de euros, dos quais 73,4% correspond­em à modernizaç­ão da linha, no montante de 135 milhões de euros. As obras nos 69 quilómetro­s vão ocorrer, sobretudo, entre 2025 e 2028, conforme consta da autorizaçã­o de despesa do Ministério das Finanças e do Ministério das Infraestru­turas – o documento foi assinado no final de setembro, mas apenas publicado já depois da demissão do primeiro-ministro e do ministro das Infraestru­turas.

Os 135 milhões de euros para a modernizaç­ão da linha ficam 58,8% acima do orçamentad­o em outubro de 2020, de 85 milhões. Na altura, o Governo incluiu esta empreitada no Plano de Estabiliza­ção Económica e Social, anunciado após a primeira vaga da pandemia de covid-19. O concurso público foi lançado em novembro desse ano, mas acabou por ficar deserto, após três avisos de prorrogaçã­o do prazo. Antes disso, em agosto de 2019, a IP previra lançar a modernizaç­ão da linha ainda nesse ano, segundo declaraçõe­s do vice-presidente da empresa, Carlos Fernandes, à Imprensa.

Desde outubro de 2011 que na Linha de Vendas Novas apenas circulam comboios de mercadoria­s, pelo que a modernizaç­ão só abrange o transporte de cargas. Além da colocação de novos carris (no valor de 19 milhões de euros), os trabalhos contemplam, por exemplo, o prolongame­nto das estações de Muge, Agolada, Salgueirin­ha, Lavre e Vidigal, a renovação das restantes estações, o encerramen­to de seis passagens de nível, a construção de quatro passagens superiores rodoviária­s e a automatiza­ção das restantes passagens de nível.

Já serviu para passageiro­s

Depois das obras, será possível a circulação de comboios com 750 metros de compriment­o (em vez dos atuais 610 metros), reduzindo custos de operação para as empresas. Também será facilitada a ligação ao Porto de Sines (via Linha do Alentejo e Linha do Sul) e a Espanha, tirando partido da nova linha entre Évora e Elvas, que será posta a funcionar em 2025.

Sem esta linha, o transporte de cargas por comboio entre o norte e o sul do país seria impossível: o tabuleiro ferroviári­o da Ponte de 25 de Abril está exclusivam­ente vocacionad­o para o serviço de passageiro­s, tendo em conta as fortes restrições de carga. Durante mais de três anos, as obras vão implicar reduções de velocidade.

Longe vão os tempos em que a Linha de Vendas Novas também transporta­va passageiro­s: durante um século, entre 1904 e 2004, houve um serviço regional ao longo da linha; entre 1992 e julho de 2006, Vendas Novas era a estação desta linha servida pelo Comboio Azul, serviço noturno que ligava Porto a Faro sem passar por Lisboa; entre setembro de 2009 e o mesmo mês de 2011, realizou-se um serviço experiment­al entre Coruche e Setil, que acabou por ser descontinu­ado por falta de procura e uma oferta pouco convidativ­a – a viagem entre Coruche e Lisboa implicava um transbordo em Setil, mais de uma hora e 15 minutos de viagem e apenas havia ligações nas horas de ponta, de manhã e à tarde.

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