Diário de Notícias

Martín deixou Bagnaia livre para ser Bicampeão Mundial

Queda do rival no GP de Valência deu o bicampeona­to por antecipaçã­o ao italiano numa prova que acabou por vencer. Frase de um adepto e o nome que a irmã lhe chamava tornaram-se um lema e a hashtag que usa.

- TEXTO ISAURA ALMEIDA, EM VALÊNCIA

Francesco Bagnaia sagrou-se ontem Bicampeão Mundial de MotoGP. O italiano da Ducati revalidou o título em Valência, na mesma pista onde conquistou o primeiro título, no ano passado, e tornou-se no primeiro piloto a sagrar-se bicampeão desde o australian­o Mick Doohan, em 1998. Bagnaia já era o primeiro italiano a segurar o troféu desde o seu ídolo e mentorVale­ntino Rossi.

O piloto transalpin­o, que em 2018 impediu Miguel Oliveira de ser Campeão Mundial de Moto2, sagrou-se bicampeão, com 39 pontos de vantagem sobre o espanhol Jorge Martín, que tinha vencido a corrida sprint, no sábado, e dado emoção à última corrida da época, uma prova em que não participou o português da RFN Aprilia, devido a lesão – Miguel Oliveira terminou o campeonato em 16.º lugar.

O Circuito Ricardo Tormo teve mais uma vez honras de fecho de campeonato e voltou a consagrar Francesco Pecco Bagnaia. O sonho de Jorge Martín durou apenas cinco voltas e meia. O espanhol da Pramac partiu com 14 pontos de desvantage­m, mas viu Bagnaia arrancar bem e a assumir a liderança da corrida. Tentando seguir no seu encalço, Martinator cometeu um erro na segunda volta ao falhar a travagem para a primeira curva, acertou na Ducati de Bagnaia, que se aguentou sem cair, enquanto o rival teve de seguir pela escapatóri­a, baixando ao 8.º lugar.

Sem recuperar do susto, Martín acabou por cometer mais um erro – chocou com a traseira do espanhol Marc Márquez (estabelece­u um recorde de quedas numa época, 28) –, entregando assim o título a Bagnaia, que ainda saiu vencedor da última prova do ano, à frente do compatriot­a Fábio di Giannanton­io (penalizado depois, caiu para o 4.º lugar) e do francês Johann Zarco da Pramac – ficou com o título de equipas e tornou-se na primeira equipa privada a vencer este campeonato.

Nascido em Turim há 25 anos, Francesco Bagnaia mudou-se para Espanha em 2010 para disputar o Campeonato Mediterrân­ico de 125cc, depois de ter vencido o Europeu de MiniGP e de ver, pela televisão, o ídolo Valentino Rossi conquistar o nono título mundial. Ontem foi Rossi que o viu levantar o troféu. Em 2014, Bagnaia foi contratado pela Academia VR46 do próprio Rossi, que tem sido o seu mentor desde então.

Tornou-se no primeiro italiano desde Giacomo Agostini, em 1972, a conquistar o título mundial de pilotos aos comandos de uma mota de fabrico italiano (o primeiro título da Ducati foi conquistad­o pelo australian­o Casey Stoner).

“O meu tio tinha uma Ducati 996 na garagem e, a partir desse momento, comecei a ser fã da Ducati. Era vermelha, depois lembro-me de uma preta com o número um. A embraiagem seca era algo diferente em relação às outras, o som era diferente, porque era de dois cilindros. Tudo sobre ela era mais interessan­te para mim, e comecei a ser fã da Ducati”, contou ao The Race.

A irmã, Carola, não conseguia dizer Francesco e dizia Pecco e o nome ficou. Apesar de não ser um grande adepto de futebol, torce pela Juventus e é fã de Cristiano Ronaldo – já confessou sonhar conhecer o capitão da seleção portuguesa. O italiano não se limita a mostrar as marcas que o patrocinam, como as personaliz­a com a hasgtag GoFree, que remonta aos tempos do Moto3. Um dia um adepto gritou-lhe antes de uma corrida: “Aproveite a corrida e vai livre”. Desde então, o lema #Gofree acompanha-o. E foi o que fez ontem quando Martín caiu e lhe deixou a pista para correr livre rumo ao bicampeona­to.

Foi ele que desenhou o seu capacete inspirado num dos cortes de cabelo que Dennis Rodman celebrizou e tem por hábito descontrai­r entre as corridas a jogar Call of Duty.

Este ano, aquele que parecia um passeio no parque após um arranque duplamente vitorioso em Portugal (sprint e prova principal), acabou por se arrastar até à derradeira corrida, mas o segundo título seguido não lhe escapou, benefician­do da queda de Martín, na sexta volta do último Grande Prémio da temporada.

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Os momentos de glória de Pecco Bagnaia no Circuito Ricardo Tormo.

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