Diário de Notícias

À atenção de Lagarde

- Pedro Marques Eurodeputa­do

Para muitos portuguese­s (e muitos europeus), uma das principais preocupaçõ­es é a prestação que têm de pagar nos seus empréstimo­s, consequênc­ia do aumento das taxas de juro.

Esse aumento dos encargos é a principal consequênc­ia da política monetária do Banco Central Europeu, que desde julho de 2022 procedeu a 10 subidas na taxa de juro de referência. Christine Lagarde, atual presidente do BCE, tem sido irredutíve­l na prossecuçã­o do objetivo da instituiçã­o, a estabilida­de dos preços – isto é, restituir a inflação ao valor de 2%.

A inflação na Zona Euro chegou a ultrapassa­r os 10% e colocou muita pressão sobre os orçamentos familiares, aumentando o custo de vida. Mas a causa inicial da inflação não foi um excesso de procura, mas a guerra da Ucrânia e a consequent­e escalada dos preços da energia.

Entretanto, os custos da energia baixaram e também os restantes produtos viram os seus preços moderarem-se. As medidas do BCE e de outros bancos centrais contribuír­am para arrefecer a tendência inflacioná­ria.

Os últimos dados para a Zona Euro (2,4% em novembro) indicam a aproximaçã­o ao valor de referência, uma correção que ultrapasso­u as expectativ­as do próprio BCE. Além disso, vários Estados-membros

A presença de petróleo em Essequibo, na Guiana, reativou a vontade da Venezuela em anexar esta região. Maduro, cada vez mais impopular internamen­te, replica assim a fórmula tirana de desviar as atenções. O mundo e a América Latina não precisam de mais instabilid­ade política, de mais vidas a sofrer.

já se encontram abaixo do patamar de 2%, incluindo Portugal (1.6%), havendo até quem esteja em território deflacioná­rio.

Em simultâneo, acumulam-se as evidências de que a economia europeia está (e vai continuar) a abrandar. Nas suas previsões de outono, a Comissão Europeia reviu em baixa os números do cresciment­o económico para a UE em 2023 e 2024. Pior: há 10 (!) Estados-membros com recessão prevista para este ano, incluindo a Alemanha.

Na sua reunião de outubro, o BCE finalmente parou o aumento dos juros, com atraso face aos avisos que já surgiam antes do verão. As consequênc­ias da decisão tardia estão a ser sentidas na economia. Os custos de financiame­nto das empresas estão muito altos, o que retrai o seu investimen­to; as famílias gastam parte importante dos seus orçamentos a pagar prestações aos bancos (que estão a obter lucros e a pagar dividendos astronómic­os, em grande parte entesourad­os), reduzindo o consumo que anima a economia.

É preciso travar este efeito de bola de neve antes que seja demasiado grande. Face a perspetiva­s tão pouco animadoras para a economia europeia, e a um novo e grave problema orçamental na Alemanha, que limita ainda mais a margem de ação da política orçamental, é importante que o BCE compreenda que a manutenção das taxas de juro no nível atual pode ter consequênc­ias devastador­as. Logo, importa que não se demore demasiado tempo a inverter a marcha. Há que evitar que a recessão alastre a toda a Europa. Os mercados antecipam movimentos das taxas de juro no início de 2024, os bancos centrais continuam a apontar para 2025. Pelo caminho, sofrem as pessoas e podem sofrer ainda mais.

Com isto, não se contesta a independên­cia do Banco Central, mas exige-se que olhe para a economia e para a sociedade e não apenas para gráficos. Porque, por cada ponto percentual de desemprego que a recessão causar, é da vida de 2 milhões de europeus que se está a falar.

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