Diário de Notícias

Comércio, Ucrânia e Médio Oriente no 1.º encontro UE-China pós-covid

Representa­ntes da União Europeia discutem em Pequim relação comercial “desequilib­rada”. Bruxelas vai apelar à influência chinesa para travar guerra na Ucrânia. Pequim e Bruxelas enfrentam um braço-de-ferro sobre questões comerciais, na sequência da invest

- TEXTO JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, EM RUXELAS

Líderes da União Europeia e da China encontram-se hoje, em Pequim, naquela que é a primeira cimeira presencial desde 2019 e que terá como temas dominantes o posicionam­ento sobre a agressão russa à Ucrânia e o conflito no Médio Oriente, mas também o futuro da relação comercial entre as duas partes. Ao que o DN apurou, os representa­ntes europeus vão mandatados para apelar a Pequim para que exerça “pressão sobre a Rússia” para que Moscovo ordene “a retirada das tropas da Ucrânia”, de modo a fazer “parar a guerra”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, vão também apelar à China para “prevenir tentativas da Rússia de contornar ou contrariar os efeitos das sanções”, além de apelarem à “defesa da ordem internacio­nal baseada em regras”. Os dois líderes europeus vão também abordar “a situação” no Médio Oriente e “a crise humanitári­a”, apelando ao “envolvimen­to diplomátic­o para incentivar a paz na região”, refere uma nota do Conselho.

Do lado de Pequim, o objetivo da cimeira é “traçar um plano” para identifica­r “áreas-chave” de interesse mútuo que possam “dar um impulso à relação” com o bloco europeu, de acordo com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeir­os,WangWenbin, o qual entende que “os interesses” na relação de UE-China “superam as diferenças existentes”. Este porta-voz assinalou ainda, a poucos dias da cimeira, que “a UE e a China são parceiros e não rivais”

O encontro acontece, porém, numa altura em que Pequim e Bruxelas enfrentam um braço-de-ferro sobre questões comerciais, na sequência da investigaç­ão lançada em outubro à atribuição de subsídios estatais da China à produção de carros elétricos. O Governo Chinês considera que a investigaç­ão, que pode decidir a favor da aplicação de tarifas às importaçõe­s de automóveis chineses, se trata de um “ato de protecioni­smo descarado”.

No Parlamento Europeu, eurodeputa­dos ouvidos pelo DN são quase unânimes a defender que a União Europeia deve exigir um maior equilíbrio na relação comercial com a China. Nuno Melo (CDS) aponta a “falta de reciprocid­ade” na relação comercial com a China, para a qual há agora “finalmente” essa perceção por “pôr em causa a

Xi Jinping e Ursula von der Leyen na cimeira virtual de 2022. indústria automóvel da Alemanha”. Melo dá também os exemplos “do têxtil, vestuário e calçado”, como indústrias afetadas, com impacto direto em Portugal.

“Nós sabemos que há dumping, ou seja, há um subsídio às exportaçõe­s chinesas para elas entrarem no nosso mercado mais baratas”, denuncia Paulo Rangel (PSD), lamentando que haja “também restrições grandes em importaçõe­s europeias [que] se têm agravado (...) com a crise chinesa”.

A União Europeia deve agir para “equilibrar a relação comercial” com a China, defende Margarida Marques (PS), de modo a assegurar às empresas europeias um “maior acesso ao mercado chinês”. Por outro lado, a eurodeputa­da alerta para a necessária “fiscalizaç­ão no mercado interno a potenciais distorções e desequilíb­rios gerados por investimen­tos com empresas subsidiada­s ou estatais chinesas”.

Rangel considera que a aplicação de tarifas comerciais às importaçõe­s chinesas não é a solução, defendendo que “tem de haver um grande esforço no sentido de evitar que tenhamos de ter alguma retaliação de tipo comercial ou económico”.

Lembrando que a UE vê a China como “parceiro, competidor global e rival sistémico”, Marques salienta que, no domínio do combate às alterações climáticas, os dois podem atuar como “importante­s parceiros”, assim como relativame­nte à “segurança alimentar”. Mas, também, dando contributo para a resolução “nos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente”.

Já Rangel é crítico da ambiguidad­e da China face à agressão russa na Ucrânia, consideran­do que “mesmo que não haja um apoio de tipo militar, tem havido um conjunto de ações que, claramente, beneficiam o regime russo”. O que se traduz “num problema sério nas relações entre a UE e a China”.

O PCP considera que Portugal deve bater-se “nos espaços multilater­ais em que participa” pelo “respeito da soberania e princípios do direito internacio­nal, nomeadamen­te da soberania e independên­cia nacional, rejeitando uma qualquer lógica de confrontaç­ão e ingerência como a que tem sido promovida pelos EUA, e com a qual a UE tem alinhado, contra a República Popular da China”.

A anterior cimeira UE-China foi em abril de 2022, por videoconfe­rência, com a Europa ainda no rescaldo da pandemia, e serviu para uma discussão estratégic­a sobre as relações entre os dois blocos.

O tema da Saúde Pública não vai, por isso, passar ao lado, agora que a cimeira ocorre por via presencial, sendo que a UE vai apelar ao reforço da “cooperação na prevenção de pandemias”.

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