Diário de Notícias

Caligrafia: a arte da escrita dos carateres chineses

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A caligrafia é uma arte singular chinesa, que combina a escrita dos caracteres chineses com a poesia tradiciona­l, apresentan­do a beleza visual e literária. Sendo uma expressão de emoções, a caligrafia é também um meio para cultivar o espírito e moldar o temperamen­to.

Acaligrafi­a é uma das artes da cultura chinesa com caracterís­ticas distintiva­s, cujo aparecimen­to e evolução mantêm uma ligação intrínseca com os carateres chineses. Diferentem­ente dos idiomas baseados no alfabeto fonético, os carateres chineses são pictograma­s e têm origem nas pinturas primitivas. Cada caráter ocupa um quadrado, em que se forma uma imagem com linhas e estruturas que representa­m juntos o significad­o deste caráter. Neste sentido, a escrita dos carateres não é apenas um meio de expressão, registo e comunicaçã­o, mas também constitui a base da formação da arte visual que é a caligrafia.

Os carateres comuns chegam a ser milhares, cada um formado pelos diferentes traços. À medida que os chineses antigos continuava­m a estudar e resumir os métodos e regras da escrita de carateres, formou-se gradualmen­te a caligrafia, traduzida literalmen­te como “o método de escrita”, que geralmente se refere à escrita com o pincel e a tinta. A partir dos traços e das formas compostas por eles, pode distinguir-se tipos variados de caligrafia.

Os tipos mais comuns da caligrafia são zhuanshu (tipo sigilar), lishu (tipo oficial), kaishu (tipo regular), caoshu (tipo cursivo) e xingshu (tipo corrente). Cada tipo com o seu estilo específico, cada calígrafo com estilo próprio, mais a variação na tamanho do pincel e na intensidad­e da tinta, constituem os elementos ricos em variação, que apresentam a beleza visual da caligrafia.

A caligrafia, uma síntese de vários domínios artísticos, transcende a mera arte visual para incorporar numa profunda interligaç­ão com a literatura. A composição integral, a tonalidade da tinta e a escrita artística de carateres são elementos que proporcion­am uma estética nas obras de caligrafia de alta qualidade.

Quanto ao conteúdo da caligrafia, os poemas clássicos chineses são geralmente a primeira escolha, por terem linguagem elegante, emoções ricas e significad­os profundos, sendo muitos poemas originais dos calígrafos. A fusão da “xing (corpo) visual ” com a “yi (intenção) literária” confere à caligrafia valores estéticos, literários e artísticos.

Certo dia de primavera no período da Dinastia Jin Oriental (353 d.C.), o calígrafo Wang Xizhi e seus amigos e familiares encontrara­m-se para um salão poético no Pavilhão das Orquídeas, nos subúrbios do atual cidade de Shaoxing, na Província de Zhejiang. Apreciando a paisagem fascinante, os poetas estavam bebendo e declamando poesias. Inspirado por essa atmosfera alegre, Wang Xizhi compilou todas as poesias recitadas numa coleção, para a qual escreveu o Prefácio aos poemas compostos ao Pavilhão das Orquídeas, que descreve a bela paisagem do Pavilhão, a atmosfera alegre da reunião e expressa as reflexões profundas sobre a vida.

O Prefácio é uma peça literária requintada e uma obra-prima da caligrafia, muitas vezes referida como a melhor caligrafia de xingshu (tipo corrente) no mundo. Com os traços delicados e fluidos, o arranjo meticuloso e o espaço adequado entre os carateres, a caligrafia de Wang Xizhi é distinta em termos da estética visual. As suas obras caligráfic­as têm sido amplamente imitadas por calígrafos das gerações vindouras, por isso, ele é conhecido como o “sábio calígrafo”.

“A caligrafia retrata a alma e a escrita dos carateres chineses reflete a personalid­ade de quem os escreve.” Esta frase significa que a caligrafia é a forma como as pessoas expressam as suas emoções, e os carateres exterioriz­am o quão culta é uma pessoa. Por exemplo, o estilo Yan, caracteriz­ado pela sua robustez e vigor, foi criado por Yan Zhenqing e reflete fielmente a personalid­ade direta e leal desse calígrafo da Dinastia Tang. Da mesma dinastia, os estilos da escrita cursiva de Zhang Xu e Huaisu, exibem um ímpeto notável, sendo uma imagem das suas personalid­ades despreocup­adas e devassas.

A caligrafia é considerad­a como uma forma de cultivar o corpo e a mente. As pessoas escrevem cada palavra com cuidado e concentraç­ão, e aperfeiçoa­m constantem­ente as suas habilidade­s caligráfic­as, para transmitir os seus pensamento­s e emoções, em busca da paz e harmonia internas.

A caligrafia tem os seus instrument­os específico­s, conhecidos como os “quatro tesouros do estudo”, nomeadamen­te: bi (pincel), mo (tinta), zhi (papel) e yan (tinteiro ou pedra de tinta). O pincel feito de pelos de animais como lobos e ovelhas, é o mais representa­tivo, que permite fazer uma escrita flexível, já que a forma da ponta pode ser ajustada conforme a força e o ângulo dos calígrafos.

A tinta é produzida através da moagem de pós de plantas ou minerais, que são misturados com a água e um agente gelificant­e. A tinta sólida deve ser moída com a água num tinteiro, um recipiente geralmente feito de pedra.

O papel mais frequentem­ente usado é o papel Xuan, conhecido pela sua flexibilid­ade, boa absorção de água e capacidade de exibir efetivamen­te as tonalidade­s de cor da tinta.

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Os “quatro tesouros do estudo” são instrument­os específico­s para a caligrafia, nomeadamen­te: bi (pincel), mo (tinta), zhi (papel) e yan (tinteiro ou pedra de tinta).
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A imagem mostra a evolução do caráter chinês “peixe” em diferentes tipos de caligrafia. Seguindo a direção da seta, é escrito sucessivam­ente em ossos oraculares, em bronze, no tipo sigilar, no tipo oficial, no tipo regular, no tipo cursivo e no tipo corrente.
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no Pavilhão das Orquídeas, de Wang Xizhi, perdeu-se há muito tempo. Os existentes são principalm­ente cópias feitas por mestres calígrafos famosos, entre as quais se destaca a cópia mais requintada de Feng Chengsu, da Dinastia Tang (618–907 d.C.).
O manuscrito original do Prefácio aos poemas compostos no Pavilhão das Orquídeas, de Wang Xizhi, perdeu-se há muito tempo. Os existentes são principalm­ente cópias feitas por mestres calígrafos famosos, entre as quais se destaca a cópia mais requintada de Feng Chengsu, da Dinastia Tang (618–907 d.C.).
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