Rui Tavares já tem grupo parlamentar e ultrapassa CDU
Câmaras de televisão apontadas e um aglomerado numeroso de jornalistas. Ao fundo do corredor surge Rui Tavares. Passada confiante e sorriso estampado, o corpo inclinado para a frente numa ânsia de chegar aos holofotes. São quase oito da noite e daqui a nada as televisões anunciam sondagens à boca das urnas. “Estamos preparados para tudo”, declara o porta-voz do Livre e cabeça-de-lista por Lisboa.
É óbvia a expectativa. A esta hora Rui Tavares congra- tula-se com a previsão de uma histórica abstenção entre 32 e 46,5% (que ao fim da noite irá beirar os 34%). “Um bom resultado” para o Livre nestas legislativas é obter “um grupo parlamentar e isso começa com dois”, comenta. Esta “vai ser uma noite longa”, vaticina. E será mesmo.
As horas seguintes vão confirmar as melhores expectativas e superar o entusiasmo só aparentemente contido de Rui Tavares. Aquela passada confiante, aquele sorriso estampado, a ânsia dos holofotes — anuncia-se triunfo desde a chegada do líder ao quartel-general desta noite eleitoral. Uma sala fria do Teatro Thalia, ao lado do Jardim Zoológico, em Lisboa.
Naquela sala, a primeira a dirigir-se aos militantes foi Isabel Mendes Lopes, número dois do Livre por Lisboa. Cautelosa. “É muito cedo para nos pronunciarmos sobre cenários”. Foi pouco depois de a RTP1 mostrar a projeção da Universidade Católica
Rui Tavares viu os resultados do Livre dispararem.
com o brinde de 3 a 5% para o Livre, o que poderia corresponder a um mínimo quatro deputados e um máximo de seis.
“Se houver uma maioria de esquerda, faremos parte da solução. Se houver uma maioria de direita, faremos parte da oposição”, acrescentou Isabel Mendes Lopes, fazendo sua a máxima que Rui Tavares tinha proferido durante a campanha. Mas as estratégias e alianças ficam para os dias que se seguem.
Hora a hora, noite dentro, a sala foi-se galvanizando, a contenção deu lugar à celebração. Quando era quase meia-noite já o entusiasmo seguia desenfreado. O Livre tinha conseguido o que queria e muito além. Rui Tavares renovou o mandato como cabeça-de-lista pela capital e os eleitores quiseram que a ele se juntasse Isabel Mendes Lopes (segunda por Lisboa), Jorge Pinto (primeiro pelo Porto) e Paulo Muacho (primeiro
por Setúbal). Os grandes centros urbanos como base de apoio fundamental do partido da “esquerda verde europeia”.
Ao fim da noite de domingo, o novo fôlego do Livre cifrava-se em 3,3%, em cima dos 3,3% da decrescente CDU, que deverá ficar-se pelos três deputados. Finalmente, Rui Tavares entrou para falar aos apoiantes. Passava da meia-noite. Constatou que estas “eleições muito disputadas” deixam a governabilidade em aberto e disse que a “principal lição” que o Livre deixa é a de que “uma campanha feita com propostas, e não com divisão, pode ser tão ou mais eficaz do que uma campanha baseada no medo”.
Prometeu “trabalhar muito para servir o país” e comprometeu-se a seguir “as melhores tradições de democracia e tolerância”. À hora de fecho desta edição estava em aberto a eleição de um quinto deputado.