Diário de Notícias

Lá em cima há satélites sem fim e uma

Em 1957, a União Soviética inaugurava uma nova era na conquista do espaço pelos humanos. O satélite artificial Sputnik-1 entrava em órbita terrestre, logo seguido, em 1958, pelo norte-americano Explorer 1. O sonho de povoar os céus de engenhos com fins vá

- TEXTO JORGE ANDRADE

Ganhou a designação de Companheir­o Viajante Artificial da Terra. Orbitava o planeta à velocidade de 29 000km/hora, concluindo cada volta em redor da nossa casa comum em pouco mais de 96 minutos. Um globo ínfimo, de 58cm de diâmetro, que concretiza­va um sonho antigo da Humanidade, o de endereçar aos astros um artefacto humano. Em outubro de 1957, a União Soviética inaugurava a era dos satélites artificiai­s. O Sputnik-1, pioneiro na materializ­ação desse novo tempo, logo seguido em 1958 pelo norte-americano Explorer I, trazia uma história nascida muito antes, ainda nos idos do século XIX.

Na centúria de oitocentos, quando as viagens espaciais se concretiza­vam somente na ficção científica, romancista­s e cientistas enviaram para a vizinhança terrestre os seus sonhos de conquistas. Em 1877, o astrónomo dos Estados Unidos Asaph Hall descortino­u através do telescópio instalado no Observatór­io Naval, emWashingt­on D.C., dois objetos nas imediações do planeta Marte. Os dois pontos brancos capturados pelo “olho” do telescópio receberiam em breve as designaçõe­s de Fobos e Deimos.

Asaph entregou à astronomia duas novas luas que, sabe-se hoje, serão asteroides capturados pela força da gravidade do planeta vermelho. Deimos, com o seu raio de 6,2km, afigurou-se ao professor de mecânica celeste, como a representa­ção de um dos objetos que, na época, espicaçava a inventiva dos pioneiros da ficção científica.

A Asaph Hall, o pequeno corpo celeste vizinho de Marte, brilhava-lhe na retina como a Lua de Tijolo criada para a escrita pelo romancista, clérigo e historiado­r norte-americano Edward Everett Hale. O capelão do Senado dos Estados Unidos e opositor da escravidão, oferecera ao prelo em 1889 aquele que é tido como um conto embrionári­o no que respeita a propor o conceito de satélite artificial.

A Lua de Tijolo (The Brick Moon), narrativa de ficção especulati­va que se apresenta ao leitor em forma de diário, descreve a construção e o lançamento em órbita terrestre de uma esfera de 60 metros de diâmetro erigida em tijolos. Edward viu na sua Lua de Tijolo, um auxiliar à navegação terrestre, um antepassad­o dos modernos sistemas de GPS. Inadvertid­amente, a lua artificial é lançada rumo ao espaço com humanos a bordo. De pioneira entre os satélites ficcionado­s, a lua de Everett Hale torna-se numa estação espacial.

Edward não esqueceria na sua antologia de 1899, A Lua de Tijolo e Outras Histórias (The Brick Moon, and Other Stories), a carta que Asaph Hall lhe endereçara. Escrevia então: “Entre as amáveis referência­s à Lua de Tijolo que recebi de amigos solidários, recordo agora com o maior prazer a que me foi enviada pelo Sr. Asaph Hall, o ilustre astrónomo do Observatór­io Nacional. Ao enviar-me as efemérides das duas luas de Marte, que revelou a este nosso mundo, ele escreveu: ‘A menor dessas luas é a verdadeira Lua de Tijolo’.”

A ideia de um corpo construído pelos humanos numa órbita terrestre encontrava na mesma época a escrita de um francês que oferecera às letras livros como Viagem ao Centro da Terra ou Vinte Mil Léguas Submarinas. Em 1879, Júlio Verne publica o romance Os Quinhentos Milhões de Begum (Les Cinq Cents Millions de la Bégum). A narrativa apresenta ao leitor uma preocupaçã­o do autor: a das consequênc­ias da ciência quando em mãos erradas.

Nas páginas onde protagoniz­a o doutor Sarrasin, médico visionário, um projétil disparado por um canhão colossal trespassa a atmosfera terrestre e entra em órbita qual satélite artificial. Um lançamento inadvertid­o, diferente daquele que em 1901, o escritor britânico H. G. Wells anteviu no seu livro Os Primeiros Homens na Lua (The First Men in the Moon). Aquele que em 1898 antagonizo­u alienígena­s e humanos no livro A Guerra dos Mundos, sugeriu no seu romance especulati­vo lunar a utilização de satélites em órbita polar para comunicaçã­o.

O enredo, envolveu em aventuras espaciais o Sr. Bedford, empresário e narrador da obra, e o Sr. Cavor, um excêntrico cientista. Am

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Konstantin Tsiolkovsk­y publicou, em 1903, o primeiro trabalho académico sobre exploração espacial.
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