Movimentações militares travadas
Uma tentativa de insubordinação militar dominava a primeira página do Diário de Notícias. “Renderam-se sem resistência vários oficiais que se tinham insubordinado no Regimento de Infantaria 5 nas Caldas da Rainha e que haviam tomado a direção de Lisboa”, podia ler-se na manchete do DN, há 50 anos.
Na véspera, Lisboa amanhecera cercada por tropas e militares da GNR que guardavam as principais entradas da cidade. Estranhamente, para os populares que nada sabiam do que se passava nos meandros das Forças Armadas, também muitos jornalistas estrangeiros estavam, já, na capital portuguesa. “O país despertara ontem sob a vaga dos boatos mais desencontrados e alarmantes”, podia ler-se na primeira página. “Uma parte da população da capital surpreendera, manhã cedo, um certo movimento de tropas e de efetivos da G.N.R. que de harmonia com os dispositivos tomados, ocuparam pontos estratégicos às portas de Lisboa.” Tratava-se, ainda com Marcello Caetano na cadeira do poder de algo “insólito” e “grave”.
A secretaria de Estado da Informação fez publicar um comunicado, na primeira página do jornal.
“Na madrugada de sexta para sábado alguns oficiais de serviço no Regimento de Infantaria n.º 5, aquartelado nas Caldas da Rainha, capitaneados por outros que nele se introduziram, insubordinaram-se, prendendo o comandante, o 2.º comandante e três majores, fazendo em seguida sair uma companhia autotransportada, que tomou a direção de Lisboa”, pode ler-se, no comunicado. “Para intercetar a marcha da coluna vinda das Caldas foram imediatamente colocados à entrada de Lisboa forças de Artilharia 1, de Cavalaria 7 e da G.N.R.”
À chegada à capital, o movimento rendeu-se. “(...) vVerificando que na cidade não tinha qualquer apoio, a coluna rebelde inverteu a marcha e regressou ao Quartel das Caldas da Rainha (...).”
O DN prossegue no seu relato dos acontecimentos, à época: “Que algo andava no ar atesta-o, para lá da onda de boatos esparsos de norte a sul do país, a presença em Lisboa de numerosos elementos da Imprensa e Televisão estrangeiros, desejosos de registar o que viria a perturbar o ritmo normal da nossa vida coletiva.” O Governo realçava: “Reina a ordem em todo o país.”