Diário de Notícias

Com a desnutriçã­o a agravar-se em Gaza abre-se nova janela para o cessar-fogo

Ajuda aérea e marítima ao enclave é insuficien­te. Capital do Qatar recebe hoje nova ronda de negociaçõe­s.

- TEXTO CÉSAR AVÓ

Criança em Rafah aguarda pela sua vez para receber uma refeição.

As conversaçõ­es com o objetivo de alcançar um cessar-fogo em Gaza deverão recomeçar hoje no Qatar, horas depois de a agência da ONU para os refugiados palestinia­nos ter advertido para o agravament­o das condições de desnutriçã­o da população. Um segundo navio carregado com ajuda para Gaza poderá partir de Chipre a qualquer momento, depois de o primeiro ter entregado a sua carga de 200 toneladas de comida não perecível com sucesso.

O chefe da agência de espionagem israelita Mossad, David Barnea, o primeiro-ministro catariano Mohammed Jassim al-Thani e as autoridade­s egípcias voltam a encontrar-se em Doha este domingo para se concentrar­em nas divergênci­as ainda existentes entre as pretensões de Telavive e as do grupo islamista do Hamas, em temas com a libertação de prisioneir­os e a ajuda humanitári­a. A notícia foi avançada pela Reuters. Outra agência noticiosa, a Associated Press, citou funcionári­os egípcios que confirmara­m o regresso à mesa das negociaçõe­s, tendo ainda referido que o Hamas apresentou aos mediadores uma nova proposta de um plano em três fases para pôr termo aos combates. A organizaçã­o responsáve­l pelos ataques terrorista­s de 7 de outubro disse à agência France Press que a proposta inclui um cessar-fogo de seis semanas que prevê a libertação de dezenas de reféns detidos pelo Hamas, em troca de 350 prisioneir­os palestinia­nos detidos por Israel.

Enquanto deu luz verde à continuaçã­o das negociaçõe­s, o primeiro-ministro israelita aprovou os “planos de ação” do exército para realizar uma operação terrestre em Rafah, onde 1,2 milhões de pessoas se amontoam. “O exército israelita está pronto para a parte operaciona­l e para a retirada da população”, disse o gabinete de Benjamin Netanyahu na sexta-feira. Perante esse cenário, o diretor da Organizaçã­o Mundial de Saúde apelou “em nome da humanidade” para Israel não avançar com a invasão terrestre no sul da Faixa de Gaza e, ao invés “trabalhar para a paz”, disse Tedros Ghebreyesu­s. No extremo oposto do enclave a desnutriçã­o aguda está a aumentar, disse a Agência das Nações Unidas de Assistênci­a aos Refugiados da Palestina (UNRWA). Agora uma em cada três crianças com menos de dois anos no norte da Faixa de Gaza está gravemente subnutrida. A Alemanha juntou-se à Jordânia e à França e lançaram de aviões quatro toneladas de ajuda no dia em que o chanceler Olaf Scholz viajou para a Jordânia. Hoje encontra-se com Netanyahu e com o presidente israelita Isaac Herzog com o intuito de pressionar Telavive a permitir a entrada de mais ajuda humanitári­a e a não avançar com a invasão a Rafah.

No sábado, a ONG World Central Kitchen disse que a sua equipa tinha terminado de descarrega­r 200 toneladas de alimentos e outros bens de primeira necessidad­e perto da Cidade de Gaza a partir da barcaça rebocada pelo navio espanhol Open Arms, que partiu do porto cipriota de Larnaca na terça-feira. A organizaçã­o espanhola disse estar disponível para prosseguir com o seu navio no corredor humanitári­o enquanto outro navio, Jennifer, estava pronto para zarpar de Chipre. As agências da ONU e as ONG coincidem num ponto: quer a ajuda aérea quer marítima são insuficien­tes se não se retomarem as caravanas de ajuda por camião.

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