Europa. António Costa regista “grande curiosidade” sobre situação política portuguesa
GARANTIA Na “despedida” de Bruxelas, António Costa tranquiliza instituições sobre compromisso de Portugal com valores europeus, após subida da extrema-direita.
António Costa inicia hoje aquela que será a sua última participação em cimeiras europeias, enquanto primeiro-ministro. O ainda chefe do Governo aproveitou a véspera do encontro dos 27, para uma ronda de “despedidas” pelas instituições europeias.
Nos múltiplos encontros, incluindo com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, aproveitou para deixar uma “mensagem de tranquilidade”, perante as abordagens a propósito do novo panorama político na Assembleia da República.
“As pessoas estão curiosas para saber o que vai acontecer”, afirmou António Costa, num encontro com os jornalistas portugueses. Costa acrescentou que transmitiu em Bruxelas que, apesar do resultado alcançado pela extrema-direita, Portugal vai continuar alinhado com os valores europeus, mantendo o mesmo objetivo relativamente à política externa uma vez que “os dois principais partidos, que têm sido a base do suporte de Portugal ao projeto europeu, continuam a ser largamente maioritários”.
“O próprio Chega, ao contrário do que acontece com outros partidos de extrema-direita em outros países da Europa, nunca fez uma campanha contra a União Europeia a explorar qualquer atitude de euroceticismo”, afirmou o primeiro-ministro, destacando que “mesmo relativamente àquilo que tem sido a deriva pró russa de muitos dos partidos de extrema-direita – como o Chega – não tem sido o caso em Portugal, visto que o partido liderado por André Ventura tem apoiado todo o ‘apoio’ que a Europa tem dado”.
Por essa razão, António Costa considera que “as instituições europeias têm boas razões para estar totalmente tranquilas, deste ponto de vista, quanto à mudança de governo”. A poucos dias de passar o testemunho a um novo primeiro-ministro, Costa garante que “não haverá mudança de política europeia ou de política externa portuguesa”.
Sobre o seu futuro político, António Costa é reticente, nomeadamente, pela falta de esclarecimentos a propósito do processo Influencer, que investiga potenciais suspeitas de prevaricação, durante o seu mandato como primeiro-ministro. Baixando as expectativas quanto à possibilidade de vir a ocupar um cargo europeu, António Costa afirma que os encontros em Bruxelas são apenas “uma despedida”, uma vez que, na próxima cimeira já haverá “seguramente” um novo Governo.
“É, obviamente, uma despedida quanto às funções do primeiro ministro. Não sei se será na próxima semana, [se] será a seguir à Páscoa, mas seguramente, quando (...) tivermos os resultados finais, haverá seguramente uma indigitação do novo primeiro ministro, haverá a transição. Portanto, o próximo Conselho já será seguramente com o novo primeiro-ministro português”, afirmou, ainda antes do líder da AD, Luís Montenegro ser recebido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
António Costa dizia-se pronto para passar o Executivo a um novo primeiro-ministro, considerando que “em democracia, o país fica sempre em boas mãos, pois fica nas mãos que resultaram da escolha dos portugueses e, portanto, sempre em boas mãos”.
Questionado sobre se considera que tem o próprio futuro político europeu refém da Justiça portuguesa, António Costa recusou responder à pergunta.
“Eu respeito a Justiça, sempre a respeitei, fui advogado, fui ministro da Justiça, trabalhei muito para que este sistema fosse um sistema independente, que funcionasse com as devidas garantias de defesa. É o que eu desejo, que funcione para qualquer cidadão”.
Na Comissão Europeia, António Costa encontrou-se com a comissária com a pasta da Concorrência, com o comissário dos Assuntos Sociais, com o comissário para Indústria e Mercado Interno e com a própria presidente, Ursula von der Leyen. Mais tarde, no Parlamento Europeu reuniu-se com a presidente Roberta Metsola e com eurodeputados do grupo socialista. Hoje, antes da reunião magna dos 27, Costa tem encontro marcado com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.