Feijóo ameaça lançar inquérito parlamentar à mulher de Sánchez
PP insiste nas ligações de Begoña Gómez à Air Europa, que o Governo espanhol resgatou durante a pandemia. Primeiro-ministro responde com o escândalo de Ayuso.
As polémicas e escândalos de corrupção que envolvem os dois maiores partidos espanhóis voltaram a marcar o debate parlamentar, com o líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, a ameaçar desta vez lançar um inquérito parlamentar à mulher do primeiro-ministro, Pedro Sánchez. Em causa está a relação entre Begoña Gómez e a Air Europa, que o Governo do marido resgatou. O secretário-geral socialista respondeu com o caso de corrupção em torno do companheiro da líder da Comunidade de Madrid, voltando a instar Feijóo a exigir a demissão de Isabel Díaz Ayuso.
Na semana passada, o PP tinha anunciado que ia pedir um parecer sobre um eventual conflito de interesses de Sánchez. Tudo porque este não se ausentou da reunião do Conselho de Ministros na qual, durante a pandemia, foi decidido o resgate (no valor de 475 milhões de euros) da companhia aérea , com a qual a sua mulher teria “vínculos de natureza económica e profissional”, segundo o PP. O gabinete responsável pela análise, que depende do Ministério da Transformação Digital e Função Pública, arquivou na segunda-feira a queixa.
O relatório explica que foram pedidas explicações sobre a relação da mulher de Sánchez com a Air Europa, sendo que foi explicado que esta não ocupou qualquer cargo de direção, assessoria ou administração – que poderiam implicar um conflito de interesses. A denúncia do PP prendeu-se ao facto de a empresa ter financiado projetos do Instituto de Empresas, onde Begoña Gómez trabalhava. Esta universidade privada já deixou claro que não houve qualquer benefício económico num convénio assinado em janeiro de 2020 com a companhia aérea, antes do resgate em novembro desse mesmo ano.
Apesar disso, Feijóo insistiu ontem no caso, além de lembrar o escândalo Koldo que envolve vários membros do seu partido em esquemas de corrupção na compra de máscaras e outro material durante a pandemia. Dirigindo-se a Sánchez, o líder da oposição deixou a ameaça: “Se volta a negar dar explicações, e já pedi três vezes, haverá uma investigação específica sobre os assuntos que afetam quem está à sua volta, parlamentar, certamente, e judicial também, se é necessário”. E insistiu: “Os espanhóis vão saber tudo. Tudo é mentira. Esta amnistia fraudulenta é mentira e o seu Governo também.”
O líder do PP também questionou a decisão de Sánchez de desistir de apresentar um Orçamento para este ano, diante da necessidade de complicadas negociações no Congresso no meio de um calendário eleitoral com escrutínios no País Basco, na Catalunha e
Europeias. Feijóo acusou o primeiro-ministro de não ter hoje os mesmos parâmetros que tinha em 2018, porque se tivesse “apresentaria uma moção de censura” contra si próprio por estar “cheio de corrupção” e pediria a si próprio que convocasse eleições por falta de Orçamento. “Os espanhóis merecem algo mais e teremos algo mais”, disse.
“Governar não é viver na Moncloa”, atirou finalmente Feijóo. Sánchez respondeu voltando a falar da polémica com Ayuso. “Efetivamente governar não é viver na Moncloa, nem em dois andares avaliados em dois milhões de euros e pagos pela fraude fiscal”, indicou o primeiro-ministro, voltando a insistir com Feijóo para que “enfrente a corrupção” no seu partido e peça a demissão da presidente da Comunidade de Madrid.
Ayuso tem estado debaixo de fogo pelas acusações contra o atual companheiro, sendo que a sua equipa é acusada de tentativa de intimidação dos jornalistas do El País e de outros meios de comunicação que têm investigado o caso. Dois jornalistas do jornal que questionavam os vizinhos sobre alegadas obras na casa do companheiro de Ayuso, o empresário Alberto González Amador, foram identificados pela polícia e depois a sua identidade foi revelada (incluindo fotos) alegando-se que estavam a assediar os vizinhos. O Governo pediu a demissão do chefe de gabinete de Ayuso que foi o responsável pela divulgação da informação.
Choque de instituições
Entretanto, na questão da amnistia aos independentistas catalães, o PP avançou com um choque entre Congresso e Senado. O partido de Feijóo alega que esta medida implica uma “reforma constitucional encoberta”, sendo que isso é uma valia da Câmara Alta. Insistem então que o Congresso retire a lei.
O PP tem maioria no Senado, pelo que a proposta deverá ser aprovada em plenário, tendo depois o Congresso um mês para responder. O caso pode, em última análise, acabar no Constitucional. A jogada não travará contudo a tramitação da Lei da Amnistia,