Diário de Notícias

Seis dúvidas para os novos ministros

- Bruno Contreiras Mateus Diretor interino do Diário de Notícias

Agora que já se conhece a composição do Governo, não se pode esquecer o que aconteceu no Parlamento, com a eleição da segunda figura do Estado português à quarta tentativa, e seguir em frente sem uma leitura das consequênc­ias possíveis. Será agora a vez do embate entre Pedro Nuno Santos, que em 2015 foi o negociador da geringonça, e o novo ministro dos Assuntos Parlamenta­res, Pedro Duarte – contando como aliado com Hugo Soares, líder de bancada do PSD e braço-direito de Luís Montenegro –, que terá uma vida bem mais difícil e de maior desgaste na próxima legislatur­a do que teve aquele que hoje é o líder da Oposição.

Primeiro, o princípio da responsabi­lidade política tem de ser o verdadeiro mediador das negociaçõe­s (e disso Pedro Duarte é um defensor). Segundo, as negociaçõe­s não se farão numa solução ao estilo Bloco Central: o Chega já se revelou, nesta fase, um construtor do caos e da autovitimi­zação, encostando Luís Montenegro contra as cordas e o resultado pode trazer sérios riscos para a governação da Aliança Democrátic­a (AD) e provocar uma rápida erosão nos ministros mais pressionad­os.

Os partidos de direita têm um longo trabalho de comunicaçã­o pela frente, excluindo o Chega que é exímio numa estratégia mais popular, como sabemos.

Nesta fase, será crucial para a AD informar e esclarecer a estratégia governativ­a em todos os momentos da legislatur­a, e para Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, mostrar claramente onde se posiciona. Nos debates parlamenta­res e nos momentos críticos, António Costa mostrou que é um mestre da retórica, e isso ajudou-o a alcançar maior longevidad­e governativ­a. Será um desafio para Luís Montenegro nesta geometria parlamenta­r.

Posto isto, ainda sem conhecer os secretário­s de Estado e o Programa do Governo, que outros grandes desafios terá no futuro próximo o novo Executivo?

Primeiro, falta clarificar quem ficará responsáve­l pela execução do PRR, se o ministro da Presidênci­a, António Leitão Amaro, juntamente com o ministro Adjunto e de Coesão Territoria­l, Manuel Castro Almeida – mantendo a estrutura anterior, – ou se caberá ao ministro da Economia, Pedro Reis, o que fará algum sentido. O Governo terá de cumprir as metas propostas para receber o quinto cheque, de 2775 milhões de euros.

Segundo, terá o ministro do Estado e das Finanças peso político para defender o tão aguardado choque fiscal e o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), a maior prova de fogo deste ano para este Executivo, e se sempre haverá lugar a um retificati­vo, fazendo a vontade ao PS?

Terceiro, o ministro das Infraestru­turas e da Habitação, Miguel Pinto Luz, terá entre mãos não só temas sensíveis como o novo aeroporto e a privatizaç­ão da TAP, que exigem algum consenso com o principal partido da Oposição, mas ficará também debaixo de fogo na habitação; fará isso sentido?

Quarto, sobre as eleições europeias de 9 de julho – que nenhum partido quer perder para o Chega –, este Executivo tem quatro eurodeputa­dos, sendo que as pastas da Agricultur­a e do Ambiente e Energia serão cruciais nas políticas europeias, o que poderá ser uma aposta acertada do Governo.

Quinto, a inovação e a modernizaç­ão deveriam estar num único ministério – dos mais importante­s para a máquina do Estado –, por isso não se compreende a solução de juntar a inovação à educação e ciência, colocando, ainda por cima, lá dentro também o ensino superior – é um desafio arriscado para Fernando Alexandre.

E em sexto, resta sempre a urgência de resolver problemas estruturai­s na saúde, educação, justiça e aumentos salariais – que comportam uma despesa muito grande nos serviços públicos. Para uma parte destes, Pedro Nuno Santos já disse que o PS estaria disposto a negociar a viabilizaç­ão de um orçamento retificati­vo. Mas até que ponto, o Governo não irá preferir esticar a corda para tentar levar estas mudanças a aprovação no OE2025, forçando os socialista­s a um acordo e assim o Governo garantia maior longevidad­e?

Por último, dentro do próprio Governo terá de haver coesão, o que significa que, provavelme­nte, o ministro Manuel Castro Almeida terá um papel importante de coordenaçã­o, que não lhe será difícil dada a sua experiênci­a autárquica, nomeadamen­te, enquanto vice-presidente da Junta Metropolit­ana do Porto.

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