Diário de Notícias

A democracia não deve promover, por facilidade, a permissivi­dade. Deve promover a verdade, ainda que isso exija um muito maior trabalho e cuidado para o conseguir.

- Bruno.bobone.dn@gmail.com

Aimigração tem sido um dos temas mais presentes nas discussões públicas em Portugal, na Europa e no mundo. Todos se dizem favoráveis a uma política de acolhiment­o a esta imensa multidão de pessoas que fogem à vida de miséria que têm nos seus países de origem e procuram novas vidas em países mais desenvolvi­dos, aonde acreditam ter uma oportunida­de de viver com um mínimo de dignidade.

Todos afirmam também que a única forma de resolver esta desesperad­a e perigosa caminhada de todos estes migrantes será através de um investimen­to sério nos seus países de origem, de modo a aí melhorar as suas condições de vida e evitando abandonar os seus lares.

Contudo, ninguém fez nada em relação a nenhuma das duas soluções – e a imigração continua a ser promotora de uma das maiores crises humanitári­as a que assistimos.

Na realidade, na maioria das vezes em que ouvimos falar sobre o acolhiment­o, apenas se está a promover a abertura das fronteiras à entrada desses migrantes e pouco, ou quase nada, sobre a forma de os acolher verdadeira­mente.

Acolher não pode significar apenas dar acesso a uma segurança social e a um subsídio de existência que transforma esses migrantes em excluídos da sociedade, que talvez tenham acesso a alimentaçã­o base e a cuidados de saúde básicos, mas que nada faz para os tornar membros dignos da sociedade.

Por outro lado, acolher significa integrar. A integração deve incluir a aceitação da cultura, das normas de vida e a convivênci­a com a sociedade em que se integram.

Não pressupõe nunca a transforma­ção da sociedade integrador­a numa sociedade diferente daquela que os seus cidadãos pretendera­m desenvolve­r.

Implica saber quem são as pessoas, conhecê-las e conhecer as suas necessidad­es e competênci­as.

Implica conhecer quais as competênci­as que precisamos, para que os imigrantes possam ser verdadeira­mente integrados na nossa sociedade.

Significa isto que deveríamos preparar uma estratégia para a imigração em que determinás­semos quais as pessoas que podemos realmente ajudar ao serem acolhidas, e apostar tudo em ajudar essas, deixando que outros auxiliem as que melhor se enquadrem nas suas competênci­as, e assim deixaríamo­s de continuar a criar situações de falso acolhiment­o que são promotoras de miséria humana, que cada vez mais encontramo­s no meio de nós.

Mas devíamos também passar das palavras aos atos naquilo que respeita à promoção do investimen­to nos países de origem desta imigração, transforma­ndo verdadeira­mente a realidade dentro desses países e forçando o seu desenvolvi­mento em condições de dignidade de vida.

Devíamos também promover uma estratégia conjunta, a nível europeu, ou mesmo mundial, que interfira de uma forma eficaz na mudança de paradigma dessas sociedades.

Com a consciênci­a da necessidad­e do reconhecim­ento da soberania de todos os Estados, é fundamenta­l encontrar formas de pressionar a integração dos direitos humanos nessas sociedades e de garantir que as más práticas que resultam na criação deste drama migratório que nos afeta a todos poderá reduzir-se significat­ivamente.

E, apesar de a imigração continuar a ser uma necessidad­e dos países europeus e dos países mais desenvolvi­dos, aquilo que devemos promover será a imigração com as competênci­as corretas que permita melhorar a vida de quem imigra e a sociedade que os recebe.

A democracia não deve promover, por facilidade, a permissivi­dade. Deve promover a verdade, ainda que isso exija um muito maior trabalho e cuidado para o conseguir.

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