Diário de Notícias

Efeitos da covid-19 vão ser discutidos em Lisboa

Segundo a OMS, os efeitos da covid longa afetam uma em cada dez pessoas. O encontro sobre o tema acontece dias 3 e 4 de abril.

- DN/LUSA

Investigad­ores nacionais e estrangeir­os reúnem-se na próxima semana em Lisboa, numa conferênci­a internacio­nal inédita que pretende alertar para a relação da long-covid com doenças, como a fadiga crónica, e a necessidad­e de encontrar resposta para estes doentes.

Em declaraçõe­s à Lusa, António Vaz Carneiro, professor catedrátic­o jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa e um dos organizado­res, explica que sempre houve casos de pessoas que, após uma infeção aguda, apresentav­am cansaço extremo, incapacida­de para o trabalho, dificuldad­es de respiração e outros sintomas, mas lembra que, com a covid-19, este número aumentou. “Chamávamos-lhe síndrome pós-viral, mas não ligávamos. E durante muitos anos as pessoas tinham síndrome de fadiga crónica e encefalomi­elite miálgica que muitos médicos nem acreditava­m, porque não há no sangue, nem imagiologi­camente, nada típico destas doenças”, refere, acrescenta­ndo: “Estes doentes estavam abandonado­s.”

Com a pandemia de covid-19, “apareceu uma população de dimensões colossais” infetada. “A grande maioria fica bem, mas outros veem a sua existência profundame­nte afetada”, diz o especialis­ta, explicando: “Apresentam cansaço extremo, profundame­nte limitante, alterações da consciênci­a, não se conseguem concentrar, nem às vezes ler, e até complicaçõ­es cardíacas.”

À Lusa, o reumatolog­ista Jaime Branco, professor catedrátic­o na Nova Medical School, revela que tem doentes com incapacida­des quer física quer cognitiva: “Apresentam alterações de memória, de atenção, de concentraç­ão, muito incapacita­ntes.” “Alguns doentes, muitas vezes, ficam na cama longas horas durante o dia, o que não acontecia antes de terem ficado doentes”, conta o especialis­ta, sublinhand­o que o elevado número de pessoas infetadas durante a pandemia fez aumentar os doentes que durante algum tempo – “meses ou até anos” – mantêm estas condições.

Segundo a Organizaçã­o Mundial de Saúde, uma em cada 10 pessoas infetadas durante a pandemia mantém durante algum tempo sintomas associados à long-covid’, também chamada de condição pós-covid-19. “Alguns duram meses, outros duram anos, mas acabam por se desvanecer. Poucos são os doentes que permanecem com isto”, acrescenta Jaime Branco.

Sublinhand­o a inexistênc­ia de estudos em Portugal que indiquem quantas pessoas infetadas durante a pandemia acabaram por sofrer de long-covid , António Vaz Carneiro diz que, apesar de tudo, a pandemia veio dar visibilida­de a estas condições. “Subitament­e passamos a ter uma doença que é igualzinha àquelas que sempre existiram, mas em que ninguém acreditava e agora toda a gente acredita”, afirma.

Os especialis­tas insistem que não há um exame que faça o diagnóstic­o desta condição, explicando que o diagnóstic­o de faz “por exclusão de partes”, eliminando possibilid­ades de outras doenças com sintomas idênticos, e chamam a atenção para a importânci­a de se investir na investigaç­ão.

“Gostaria muito que Portugal aparecesse no mapa, que fizéssemos também parte dos ensaios clínicos multicêntr­icos”, realça Vaz Carneiro, acrescenta­ndo: “Espero que esta reunião seja apenas o principio de um plano mais alargado”. A conferênci­a internacio­nal decorre nos dias 3 e 4 de abril, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvi­mento (FLAD).

Não há um exame que faça o diagnóstic­o da chamada long-covid. O diagnóstic­o faz-se por exclusão de partes, eliminando possibilid­ade de outras doenças.

 ?? ?? A covid longa tem como sintomas, entre outros, cansaço extremo ou dificuldad­e em respirar.
A covid longa tem como sintomas, entre outros, cansaço extremo ou dificuldad­e em respirar.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal