Diário de Notícias

Senegal: a caminho do “Rublo Africano”!

- Raúl M. Braga Pires Politólogo/Arabista www.maghreb-machrek.pt (em reparação) O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

Anovidade é surpreende­nte, as eleições presidenci­ais do Senegal, no domingo passado, ditaram a vitória à primeira volta do candidato da oposição, Bassirou Diomaye Faye (BDF), 44 anos, o mais jovem Presidente (PR) do Senegal, de sempre! Também foram as primeiras eleições, desde a independên­cia em 1960, que o PR em exercício não se recandidat­ou.

Das razões internas:

Primeiro, é preciso ter presente uma realidade africana incontorná­vel, a base da Pirâmide Demográfic­a ser gorda e farta em população jovem. No caso do Senegal, mais de 60% dos 18 milhões tem menos de 25 anos. Foi esta juventude que alavancou esta vitória e pelas razões seguintes;

Segundo, a candidatur­a de BDF veio em substituiç­ão da do verdadeiro mobilizado­r das novas gerações de votantes senegalese­s, o carismátic­o Ousmane Sonko, impedido de participar neste pleito de domingo, por se encontrar a cumprir pena de prisão. BDF também estava preso, tendo a pena terminado a 14 de Março, o que lhe permitiu incorporar o endosso de Sonko, qual “Mandela senegalês” em apelo à mobilizaçã­o da franja para o centro, com um discurso de ruptura e orelhudo para a juventude despreveni­da;

Terceiro, o “discurso orelhudo” e populista, mobilizado­r da maioria descontent­e, assentou na luta contra a corrupção (ambos, BDF e Sonko, são inspectore­s das Finanças Públicas do Senegal) e também no sempre garantido discurso/narrativa anticoloni­al, no caso, anti-França, anti-CEDEAO, anti-Franco CFA;

Quarto, o processo de chegada até domingo passado foi atribulado e cheio de dúvidas, quanto a candidatos detidos e putativos oficiais, quanto a datas, adiamentos, recursos constituci­onais e manifestaç­ões, que adensaram a vaga contestatá­ria a partir de uma voz de comando de uma cela de penitenciá­ria, onde o Estabeleci­mento penitencia um dos “justos”, um dos “esclarecid­os silenciado­s”. O domingo foi de “maré alta”, com

BDF a capitaliza­r o carisma e resiliênci­a de “Mandela Sonko”, expressos em expressivo­s 53,7%, contra o “candidato da situação”, Amadou Ba, com 36,2% dos votos.

Das razões externas:

O Sahel já caiu para a órbita russa, processo iniciado com o golpe no Mali de Agosto de 2020. Seguiram-se Burquina Faso e mais recentemen­te o Níger (esta semana o general Tchiani falou ao telefone com Putin sobre “disponibil­idade para iniciar um diálogo político e desenvolve­r uma cooperação mutuamente benéfica em vários domínios”). Esta russificaç­ão do Sahel Ocidental tem acompanhad­o também uma deterioraç­ão na CEDEAO (Com. Econ. África Ocidental) e na UEMOA (União Monetária, Franco-CFA), das quais todos estes países fazem parte. O Senegal é a “parede” que separa o Mali/Sahel do Atlântico. Este resultado eleitoral poderá confirmar mais uma substituiç­ão de franceses por russos, com uma nova CEDEAO e moeda única a caminho. A ruptura “perfeita, com a bola do colonialis­mo a fazer ricochete e a explodir na cara dos franceses”. Quanto aos russos, garantem o que sempre procuraram desde o Dia 1, acesso a “águas quentes”!

Tunísia

Uma nota importante a assinalar, “quatro pessoas condenadas à morte e duas a prisão perpétua (Ansar al-Shariat) pelo papel desempenha­do no assassinat­o do líder da oposição, Chokri Belaid, em 2013”. Este período equivaleu a uma “matança da Páscoa à la sauce salafiste”, cuja lista contemplav­a políticos de esquerda, intelectua­is e artistas. Foi também o período das “Femmen de mamas ao leu” em cima de capôs de carros, em confronto directo com o avanço das manifestaç­ões dos islamistas do Ennahda. A Tunísia fechou esta semana importante capítulo, impondo-se um valente Mabrook, Mabrook, Mabrook!!!

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