Diário de Notícias

Carlos López Blanco “Não creio que em Espanha e Portugal a democracia esteja em perigo”

O presidente do comité organizado­r do fórum galego conta ao DN o que podemos esperar da 2.ª edição deste evento em Lisboa, nos 50 anos da Revolução portuguesa e da Transição espanhola.

- ENTREVISTA SUSANA SALVADOR

Nos 50 anos do 25 de Abril, o Foro La Toja volta a Lisboa para falar das cinco décadas de democracia em Portugal e Espanha. Por cá costumamos perguntar: onde estava no 25 de Abril?

Eu era muito jovem, estava a acabar o bacharelat­o superior [a partir dos 15 anos], mas já era suficiente­mente grande para dar-me conta de que a Revolução de Abril era o prelúdio de uma mudança política também em Espanha [a partir de 1975]. Porque Portugal e Espanha eram duas sociedades mais modernas e mais maduras que os seus sistemas políticos. Já naquele momento víamos que aquilo que foi a Transição em Espanha e a Revolução de Abril em Portugal era uma mudança social e política inevitável, porque as sociedades tinham mudado e os sistemas políticos dos dois países tinham-se tornado anacrónico­s. E havia outra coisa que, para mim, era muito importante. Já havia o desejo, nas duas sociedades, de se incorporar­em mais na Europa, de virar a página à anomalia ibérica, e que os dois países estivessem integrados. A mudança era inevitável.

No evento haverá quatro ex-primeiros-ministros espanhóis e portuguese­s a debater o que se passou nos últimos 50 anos...

O Foro La Toja –Vínculo Atlântico é um evento que se faz anualmente na Galiza. Desde o primeiro momento, por parte da organizaçã­o, tivemos uma grande preocupaçã­o por que houvesse uma importante presença portuguesa. E tivemos lá ministros, tivemos o então primeiro-ministro António Costa, tivemos com o rei de Espanha o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, e outras destacadas figuras do mundo português. Porque não concebemos o

Vínculo Atlântico sem a realidade ibérica. Quando tomámos a decisão de fazer um segundo evento que não substitui, mas complement­a, o fórum principal, decidimos fazê-lo em Lisboa. O sucesso da 1.ª edição, no ano passado, fez-nos voltar para uma segunda, ainda com mais confiança. Uma 2.ª edição que tem a caracterís­tica de coincidir com os 50 anos da Revolução e queremos inclui-la precisamen­te dentro dessa celebração. E, sobretudo, fortalecer duas ideias. Uma é que a época de maior prosperida­de e desenvolvi­mento social de Espanha e Portugal coincidiu precisamen­te com os períodos mais longos de democracia nos dois países. Para nós, é uma ideia absolutame­nte essencial vincular o desenvolvi­mento económico e social com a democracia política. E a segunda, que a Revolução de Abril e a Transição Espanhola põem fim à anomalia ibérica com a incorporaç­ão definitiva de Espanha e Portugal na União Europeia. Para nós, esses são os dois elementos essenciais do balanço que queríamos fazer em companhia de figuras destacadís­simas da vida portuguesa e espanhola destes 50 anos.

O que podemos esperar?

No fórum há três partes. Uma dedicada ao desenvolvi­mento económico, outra a um elemento que às vezes se lhe dá pouca atenção, que é o papel das cidades no desenvolvi­mento dos nossos países. Finalmente, a terceira parte é um balanço do que foram estas cinco décadas de democracia e como Espanha e Portugal olham para o futuro. E vamos ter um painel de luxo, com Felipe González, Mariano Rajoy, Francisco Pinto Balsemão e António Costa, que sempre nos mostrou, tanto em La Toja como em Lisboa, o

Na abertura há uma mensagem-vídeo do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e estará, entre outros, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeir­os, Paulo Rangel. No fecho, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e a ministra da Defesa espanhola, Margarita Robles.

9.30

50 Anos de Progresso, com, entre outros, o ex-presidente da AR, Augusto Santos Silva.

10.45

Os autarcas Carlos Moedas (Lisboa), Rui Moreira (Porto) e Jaume Collboni (Barcelona) falam d’As Cidades na Liderança da Transforma­ção Social.

11.45

50 Anos de Democracia: o Passado e os Desafios do Futuro, com os ex-chefes do Governo de Espanha, Felipe González e Mariano Rajoy, e de Portugal, Pinto Balsemão e António Costa.

Não acha que a democracia pode estar em perigo?

Eu acho que não. Acho que nunca esteve. Talvez em Portugal haja uma certa discrepânc­ia com a erupção das forças populistas, que é um dos perigos para a democracia. Uma das nossas filosofias é defender o diálogo político e um debate político centrado e racional. Não gostamos da polarizaçã­o, não gostamos dos populismos. Mas não achamos que as democracia­s estão em perigo. Primeiro, porque as sociedades portuguesa e espanhola sabem que a democracia foi o período de maior prosperida­de e desenvolvi­mento social. E depois porque esse desejo histórico de formar parte da União Europeia está vinculado de maneira indissociá­vel à democracia. Por isso não creio que em Espanha e Portugal a democracia esteja em perigo. Ou na Europa, apesar dos desafios importante­s como a guerra. A situação é complexa, mas penso que, entre

Não, por duas razões. Primeiro porque a afinidade política nem sempre leva a boas relações. Não quero dar nomes, mas nas sempre conflituos­as relações entre Espanha e França, muitas vezes os piores momentos acontecera­m quando os Governos tinham afinidade política. Por outro lado, houve momentos na relação franco-espanhola em que houve Governos com distintos símbolos políticos e as relações funcionara­m muito melhor. Por isso, não acho que a afinidade política seja um elemento determinan­te. Acho que há razões de fundo muito profundas que se fortalecer­am nos últimos 50 anos que fundamenta­m a relação luso-espanhola... as fricções normalment­e não vêm das diferenças ideológica­s, mas de interesses distintos. E neste momento há poucos conflitos e poucos interesses diferentes entre Portugal e Espanha. Pelo contrário, por exemplo na questão europeia os dois países atuaram com muito sucesso no tema energético e outros. E acho que vão continuar assim.

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