Diário de Notícias

Identifica­dos mais de 40 500 mosquitos em 2023. Não há sinais de dengue ou febre do Nilo

Maria João Alves, coordenado­ra da Rede Nacional de Vigilância de Vetores, considera, no entanto, que Portugal Continenta­l vai acabar por ter casos destas doenças.

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As autoridade­s identifica­ram no ano passado mais de 40 500 mosquitos, mas em nenhuma amostra foi detetada presença dos vírus que provocam doenças como a dengue, chikunguny­a ou febre do Nilo Ocidental, foi ontem divulgado.

Segundo o Relatório Anual da Rede Nacional de Vigilância de Vetores (Revive) foram identifica­dos 40 565 mosquitos e, nas amostras em que foi pesquisada a presença de flavivírus patogénico­s para os humanos, os resultados foram todos negativos. Participar­am neste trabalho as cinco Administra­ções Regionais de Saúde e a Direção Regional de Saúde da Madeira, que realizaram colheitas de mosquitos em 231 concelhos de Portugal.

Foi igualmente feita vigilância em cinco aeroportos internacio­nais, dois aeródromos, 14 portos e 10 outros pontos de entrada de acordo com o Regulament­o Sanitário Internacio­nal.

Ainda assim, a coordenado­ra do Revive considera que Portugal Continenta­l vai acabar por ter casos de dengue ou chikunguny­a, mas vai demorar porque o mosquito transmisso­r é diferente do da Madeira e “menos eficaz”. “Este mosquito [aedes albopictus] vai-nos trazer casos de dengue e chikunguny­a, mas vai demorar”, disse à Lusa Maria João Alves, acrescenta­ndo que o mosquito presente em território continenta­l é diferente do existente na Madeira [aedes aegypti] desde 2005.

A especialis­ta explicou: “A Madeira, em três meses, teve 2164 casos e a Europa, em 13 anos, 165 casos”, designadam­ente em França, Croácia, Itália e Espanha, e metade destes casos ocorreram no ano passado.

Contudo, “vamos ter de ter as condições que estes países já têm, que é uma grande quantidade de mosquitos, uma grande abundância e introdução de casos positivos, ou seja, pessoas que cheguem positivas de zonas endémicas”.

O mosquito aedes albopictus foi pela primeira vez identifica­do na Região de Lisboa no ano passado. Já tinha sido detetado no Norte, em 2017, no Algarve, em 2018, e no Alentejo, em 2022.

O relatório anual do programa Revive apresenta este ano pela primeira vez dados sobre flebótomos (insetos), que transmitem o vírus Toscana e Leishmânia (parasita). Apesar de fazerem parte da rede de vigilância desde 2016, as colheitas eram ainda incipiente­s e apenas aparece no documento divulgado hoje pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

No total, foram identifica­dos no ano passado 761 flebótomos e detetada a presença de vírus Toscana, que provoca encefalite­s e nunca havia sido encontrado em Portugal em mosquitos, assim como de Leishmânia (que provoca leishmanio­se).

Segundo Maria João Alves, em Portugal, o vírus Toscana foi isolado pela primeira vez de um caso humano em 1985, num turista sueco no Algarve.

O relatório do programa Revive refere ainda que foram identifica­dos no ano passado 1810 ixodídeos (carraças), tendo sido encontrada de novo uma espécie exótica (Argas spp).Das pesquisas feitas ao vírus da febre hemorrágic­a Crimeia-Congo não houve qualquer caso positivo.

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Foram feitas colheitas de mosquitos em 231 concelhos de Portugal.

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