Miguel Gomes na competição — voilà!
Marco para o cinema português, presença na competição de Cannes. Miguel Gomes e a sua equipa vão subir a escadaria vermelha do festival com Grand Tour. É um feito! “Incrível!”, como conta Gonçalo Waddington, o protagonista.
Podemos voltar a sonhar com uma Palma de Ouro, 18 anos depois da passagem de Juventude em
Marcha, de Pedro Costa, pela competição do Festival de Cannes. Grand Tour, de Miguel Gomes, como se esperava, tem lugar nesta luxuosa seleção do melhor festival do mundo. Desde já uma vitória do cinema português e de uma ideia política de apoio aos autores. A importância de se estar a competir em Cannes é de tal modo grande que a Shellac, label de buyer do mercado, já anunciou as intenções de internacionalização deste filme. Se não houver grandes tragédias, este novo projeto de Gomes vai ter uma grande vida internacional com um potencial de negócio fortíssimo, já como tinha acontecido com Tabu, o seu filme premiado em Berlim.
Mesmo depois de uma birra com o diretor artístico Thierry Frémaux – birra essa documentada no seu livro sobre os bastidores do festival – por ocasião de As Mil e Uma Noites, que estava apontado à secção Un Certain Regard e supostamente não teria o modelo de exibição desejado por Gomes, a verdade é que anteontem, na conferência de imprensa, o mesmo Frémaux elogiou o trabalho do cineasta português, tendo mesmo
referido que desde novembro que o filme estava visto e aprovado, facto que dá razão à produtora Filipa Reis por ter eventualmente recusado o convite para a corrida ao Urso de Ouro de Berlim.
Gonçalo Waddington feliz
Grand Tour é a história de um noivado desfeito no sudoeste asiático, ou como uma noiva decide ir à procura do seu noivo numa jornada pela Ásia. Espera-se um filme bem mais no molde de Tabu do que As Mil e Uma Noites , ou o mais recente Os Diários de Otsoga. Crista Alfaiate e GonçaloWaddington são os protagonistas deste filme filmado maioritariamente a preto e branco.
E foi precisamente Gonçalo a confessar ao DN que “a ficha ainda
não lhe caiu!”: “Só ouvindo agora que posso também estar nomeado para Melhor Ator nesse festival é que começo a pensar nisso. Tenho 47 anos e comecei muito cedo a representar e, apesar de estar muito contente e achar incrível isto tudo, estou felizmente numa fase de muito trabalho e esse tipo de surpresas boas, de vez em quando, sucede-me, mas a verdade é que estou sempre a trabalhar e o Grand Tour é algo que está no passado. Estou sempre a seguir em frente e sinto que, acima de tudo, estes dias em Cannes vão ser para celebrar com toda a equipa e poder parar um pouco. Depois volto a ser assaltado por uma rodagem de uma série bem intensa. Mas estou mesmo muito feliz pelo Miguel Gomes!”
De referir que em As Mil e Uma Noites a interpretação de Gonçalo Waddington era um dos trunfos desse épico português: “Na altura, não conhecia o Miguel, apenas o seu trabalho, e demo-nos muito bem. Ele sabe tratar-me tão bem! Gosto muito de ser dirigido por ele e quando estava a filmar o Grand Tour fiquei logo com aquela sensação de que estávamos a fazer algo especial.”
Para lá de Grand Tour, ainda poderão ser anunciados nos próximos dias outras obras nacionais, sobretudo se pensarmos que ainda faltam mais alguns títulos da seleção oficial e a revelação dos programas da Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica. Fica a incógnita de se os novos filmes de Sérgio Graciano (Os Papéis do Inglês), Pedro Cabeleira (Entroncamento), Pedro Pinho e Teresa Villaverde (Justa) podem ainda desembarcar na Croisette...
Mad Max e Kevin Costner
Fora da competição há também uma série de filmes que fazem salivar, com o destaque da antestreia mundial de Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller, cujo último Mad Max também aqui teve estreia. Este é precisamente uma prequela, a narração da juventude da personagem de Charlize Theron. Agora, a destemida Furiosa é a sempre exaltante Anya Taylor-Joy. Além dela, o poder do estrelato desse tapete vermelho, logo no segundo dia do festival, terá também a presença de um vilão sempre especial: Chris Hemsworth.
Outro peso-pesado de Hollywood é Horizon: An American Saga – Chapter One, a primeira parte do western antológico de e com Kevin Costner, um projeto ambicioso que terá mais três tomos. Trata-se de um projeto muito especial para Costner e uma aposta da Warner (ainda que, em certos territórios, como em Portugal, tenha sido vendido de forma independente). Se for tão admirável como Danças Com Lobos, temos uma nova obra-prima; se for tão certinho como Open Range: A Céu Aberto será igualmente esquecível, mas já é realmente um bom sinal esta sessão especial em Cannes.
A sessão mais esperada da seleção do Cannes Première, uma espécie de “restos” do cinema francês, será sem dúvida C’est Pas Moi, uma aventura autobiográfica de Leos Carax que convoca também Monsieur Merde, ou seja, a personagem de Dennis Lavant em Holy Motors.
Atirado para as sessões da meia-noite, alguma expectativa para The Surfer, um thriller de Lorcan Finnegan, com Nicolas Cage de novo a querer reconquistar credibilidade.
Enfim, a enésima tentativa de comeback de um ator que em breve será visto no bem divertido O Homem dos Teus Sonhos, de Kristoffer Borgli.