Do apoio aliado à Cúpula de Ferro: como Israel travou ataque do Irão
Os israelitas têm um sistema em várias camadas, mas contaram também com EUA, Reino Unido ou Jordânia para evitar que drones e mísseis iranianos fizessem mais estragos.
OIrão lançou na noite de sábado para domingo mais de 300 drones e mísseis contra Israel. Mas graças ao apoio dos países aliados – EUA, Reino Unido, França e Jordânia – e aos seus sistemas de defesa – com nomes como Flecha, Funda de David ou Cúpula de Ferro –, Israel conseguiu intercetar “99%” dos projéteis ao longo do ataque de cinco horas, com apenas “um pequeno número” de mísseis balísticos a atingirem o país sem causar grandes danos. Como funciona este sistema de várias camadas que garante a segurança dos israelitas?
Flecha, para intercetar mísseis fora da atmosfera
O Sistema Arrow (Flecha) foi desenhado com a ajuda dos EUA tendo em mente, precisamente, os mísseis iranianos e permite intercetar estes projéteis fora da atmosfera terrestre. Se o Arrow 2 contava com uma ogiva com explosivos, o Arrow 3 (operacional desde 2017) depende apenas dos danos causados pela colisão com o míssil inimigo – tendo um alcance de quase 1500 quilómetros. Foi usado pela primeira vez a 31 de outubro, para intercetar um míssil lançado pelos rebeldes Houthis, aliados do Irão no Iémen. Cada um dos sistemas tem capacidade para seis mísseis. Os especialistas estimam que cada interceção do Arrow 2 custe 1,5 milhões de dólares e do Arrow 3, dois milhões.
Funda de David contra mísseis balísticos
Este sistema foi desenhado para abater mísseis balísticos (ou até rockets de médio alcance) disparados de uma distância de 100 a 200 quilómetros. Igualmente desenvolvido com o apoio dos EUA, pode também intercetar aviões, drones e mísseis de cruzeiro a uma altitude máxima de 15km e a até 300km de distância. Cada interceção custará à volta de 700 mil euros.
O nome deste sistema vem da história bíblica de David, que usou uma funda para atirar a pedra que matou o gigante Golias. Foi usado pela primeira vez em 2018, quando se pensou que tinham sido lançados dois mísseis da Síria em direção a Israel – o que não se veio a confirmar. Ap ri me irainterceçãob em-sucedida, de um rocket lançado a partir da Faixa de Gaza, foi já em maio do ano passado.
Cúpula de Ferro, a última linha de defesa
O Iron Dome, ou Cúpula de Ferro,éa última linha de defesa aérea de Israel, desenhado pelos israelitas (com apoio financeiro dos norte-americanos) para intercetar rockets e outros projéteis, normalmente usados pelo Hamas ou pela Jihad Islâmica. Funciona desde 2011, tendo já intercetado milhares de rockets, estimando-se que cada uma das interceções custe cerca de 30 mil dólares.
O sistema consiste numa unidade de radar, que deteta o projétil (pode até ser um drone) que se dirige ao espaço aéreo israelita. A informação é analisada numa unidade de controlo, que avalia a ameaça e a possível rota para a sua interceção, sendo disparado um míssil do lançador apenas se estiver em risco uma zona povoada ou alguma infraestrutura importante. Cada sistema individual – e acredita-se que Israel tenha pelo menos dez, que são móveis – consegue intercetar rockets até 70 quilómetros, com os israelitas a alegar que tem 90% de eficácia.
Uma versão naval deste equipamento – o C-Dome (o C, em inglês, lê-se como sea, isto é, mar) – entrou em funcionamento no início deste mês. Instalado numa corveta tipo Saar 6, foi usado para intercetar um drone lançado do MarVermelho que tinha como destino a cidade de Eliat, no sul de Israel.
Aliados participaram numa defesa coordenada
Os israelitas não estiveram sozinhos na resposta ao ataque iraniano, tendo contado com o apoio dos principais aliados. Os EUA disseram ter intercetado mais de 80 drones-suicidas Shahed-136 iranianos (também usados pela Rússia na Ucrânia), que podem levar até 50 quilos de explosivos e voar a uma velocidade máxima de 185 quilómetros por hora. Estima-se que, cada um, custe entre 20 mil a 40 mil dólares. Os EUA indicaram ainda ter destruído seis mísseis.
Os britânicos, que tinham os seus caças em alerta numa base no Chipre, não especificaram o número de drones que intercetaram, tendo os jordanos – com o apoio dos franceses que têm uma base no país – dito ter abatido dezenas de drones que cruzavam o seu território. Todos os 170 drones que o Irão terá lançado – e que demoraram horas a chegar – terão sido intercetados e destruídos ainda antes de chegarem ao espaço aéreo israelita.
Os caças das Forças de Defesa de Israel intercetaram 25 dos 30 mísseis de cruzeiro lançados pelo Irão, ainda fora das fronteiras do país. Seriam os Paveh-351, que também demoram duas horas a chegar a Israel vindos do Irão. Os mísseis que acabaram por chegar ao alvo eram os mais rápidos, os balísticos, levando apenas 15 minutos a chegar a Israel. Terão sido lançados 120 – os EUA estimam que o Irão tenha cerca de três mil. Alguns deles atingiram a Base Aérea Nevatim, a partir de onde terá sido lançado, no início do mês, o ataque que atingiu o consulado iraniano em Damasco, na Síria, e que desencadeou a retaliação de Teerão.