Diário de Notícias

Do apoio aliado à Cúpula de Ferro: como Israel travou ataque do Irão

Os israelitas têm um sistema em várias camadas, mas contaram também com EUA, Reino Unido ou Jordânia para evitar que drones e mísseis iranianos fizessem mais estragos.

- TEXTO SUSANA SALVADOR ComAGÊNCIA­S susana.f.salvador@dn.pt

OIrão lançou na noite de sábado para domingo mais de 300 drones e mísseis contra Israel. Mas graças ao apoio dos países aliados – EUA, Reino Unido, França e Jordânia – e aos seus sistemas de defesa – com nomes como Flecha, Funda de David ou Cúpula de Ferro –, Israel conseguiu intercetar “99%” dos projéteis ao longo do ataque de cinco horas, com apenas “um pequeno número” de mísseis balísticos a atingirem o país sem causar grandes danos. Como funciona este sistema de várias camadas que garante a segurança dos israelitas?

Flecha, para intercetar mísseis fora da atmosfera

O Sistema Arrow (Flecha) foi desenhado com a ajuda dos EUA tendo em mente, precisamen­te, os mísseis iranianos e permite intercetar estes projéteis fora da atmosfera terrestre. Se o Arrow 2 contava com uma ogiva com explosivos, o Arrow 3 (operaciona­l desde 2017) depende apenas dos danos causados pela colisão com o míssil inimigo – tendo um alcance de quase 1500 quilómetro­s. Foi usado pela primeira vez a 31 de outubro, para intercetar um míssil lançado pelos rebeldes Houthis, aliados do Irão no Iémen. Cada um dos sistemas tem capacidade para seis mísseis. Os especialis­tas estimam que cada interceção do Arrow 2 custe 1,5 milhões de dólares e do Arrow 3, dois milhões.

Funda de David contra mísseis balísticos

Este sistema foi desenhado para abater mísseis balísticos (ou até rockets de médio alcance) disparados de uma distância de 100 a 200 quilómetro­s. Igualmente desenvolvi­do com o apoio dos EUA, pode também intercetar aviões, drones e mísseis de cruzeiro a uma altitude máxima de 15km e a até 300km de distância. Cada interceção custará à volta de 700 mil euros.

O nome deste sistema vem da história bíblica de David, que usou uma funda para atirar a pedra que matou o gigante Golias. Foi usado pela primeira vez em 2018, quando se pensou que tinham sido lançados dois mísseis da Síria em direção a Israel – o que não se veio a confirmar. Ap ri me irainterce­çãob em-sucedida, de um rocket lançado a partir da Faixa de Gaza, foi já em maio do ano passado.

Cúpula de Ferro, a última linha de defesa

O Iron Dome, ou Cúpula de Ferro,éa última linha de defesa aérea de Israel, desenhado pelos israelitas (com apoio financeiro dos norte-americanos) para intercetar rockets e outros projéteis, normalment­e usados pelo Hamas ou pela Jihad Islâmica. Funciona desde 2011, tendo já intercetad­o milhares de rockets, estimando-se que cada uma das interceçõe­s custe cerca de 30 mil dólares.

O sistema consiste numa unidade de radar, que deteta o projétil (pode até ser um drone) que se dirige ao espaço aéreo israelita. A informação é analisada numa unidade de controlo, que avalia a ameaça e a possível rota para a sua interceção, sendo disparado um míssil do lançador apenas se estiver em risco uma zona povoada ou alguma infraestru­tura importante. Cada sistema individual – e acredita-se que Israel tenha pelo menos dez, que são móveis – consegue intercetar rockets até 70 quilómetro­s, com os israelitas a alegar que tem 90% de eficácia.

Uma versão naval deste equipament­o – o C-Dome (o C, em inglês, lê-se como sea, isto é, mar) – entrou em funcioname­nto no início deste mês. Instalado numa corveta tipo Saar 6, foi usado para intercetar um drone lançado do MarVermelh­o que tinha como destino a cidade de Eliat, no sul de Israel.

Aliados participar­am numa defesa coordenada

Os israelitas não estiveram sozinhos na resposta ao ataque iraniano, tendo contado com o apoio dos principais aliados. Os EUA disseram ter intercetad­o mais de 80 drones-suicidas Shahed-136 iranianos (também usados pela Rússia na Ucrânia), que podem levar até 50 quilos de explosivos e voar a uma velocidade máxima de 185 quilómetro­s por hora. Estima-se que, cada um, custe entre 20 mil a 40 mil dólares. Os EUA indicaram ainda ter destruído seis mísseis.

Os britânicos, que tinham os seus caças em alerta numa base no Chipre, não especifica­ram o número de drones que intercetar­am, tendo os jordanos – com o apoio dos franceses que têm uma base no país – dito ter abatido dezenas de drones que cruzavam o seu território. Todos os 170 drones que o Irão terá lançado – e que demoraram horas a chegar – terão sido intercetad­os e destruídos ainda antes de chegarem ao espaço aéreo israelita.

Os caças das Forças de Defesa de Israel intercetar­am 25 dos 30 mísseis de cruzeiro lançados pelo Irão, ainda fora das fronteiras do país. Seriam os Paveh-351, que também demoram duas horas a chegar a Israel vindos do Irão. Os mísseis que acabaram por chegar ao alvo eram os mais rápidos, os balísticos, levando apenas 15 minutos a chegar a Israel. Terão sido lançados 120 – os EUA estimam que o Irão tenha cerca de três mil. Alguns deles atingiram a Base Aérea Nevatim, a partir de onde terá sido lançado, no início do mês, o ataque que atingiu o consulado iraniano em Damasco, na Síria, e que desencadeo­u a retaliação de Teerão.

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O lançador de mísseis do sistema Iron Dome, perto de Jerusalém.

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