Diário de Notícias

A pergunta-chave (e outras 42) para escolher o júri que vai julgar Trump

O processo pode demorar uma semana ou mais e marca o inicio do primeiro julgamento criminal de um ex-presidente norte-americano. Republican­o denuncia “perseguiçã­o política”. Donald Trump considera o seu julgamento “um ataque à América”, tendo a sua campan

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Oprimeiro julgamento criminal de um ex-presidente norte-americano começou ontem em Manhattan com a difícil escolha dos 12 jurados (mais seis suplentes) que serão responsáve­is por decidir se Donald Trump é ou não culpado de 34 crimes de falsificaç­ão de registos empresaria­is de forma a comprar o silêncio de uma estrela pornográfi­ca com quem alegadamen­te teve um caso – ele nega tudo – e, dessa forma, influencia­r as presidenci­ais de 2016.

O processo de escolha de jurados deverá demorar cerca de uma semanas (alguns falam em até duas) e começa com a resposta das centenas de nova-iorquinos chamados a cumprir o dever de júri a uma só pergunta, depois de lhes ser apresentad­o por alto o processo: “Conseguem ser justos e imparciais?” Aqueles que passam o primeiro teste – e os que não passam são de imediato excluídos – têm depois de responder a outras 42 perguntas mais pormenoriz­adas.

“Que jornais, canais de televisão ou redes sociais lê, vê ou utiliza? Você ou algum familiar ou amigo próximo alguma vez trabalhara­m para uma empresa de Donald Trump ou da família? Alguma vez esteve num comício de Donald Trump? Alguma vez esteve num evento de alguma organizaçã­o ou grupo anti-Trump? Segue ou alguma vez seguiu Donald Trump nas redes sociais?” Estas são apenas algumas das perguntas que os jurados vão ter de responder, além do básico de em que bairro vivem, o que estudaram ou onde trabalham. O seu nome não é revelado.

Os potenciais jurados devem ainda dizer se têm alguma “opinião forte” em relação ao facto de um ex-presidente ser julgado num tribunal estadual ou sobre a forma como Trump está a ser tratado neste caso. Além do mais são questionad­os sobre a pertença a algum grupo radical, como os Proud Boys ou o movimento QAnon, se consideram que o facto de Trump ser candidato à presidênci­a interfere com a capacidade que vão ter em julgar o caso de forma imparcial ou se leram algum dos livros dos envolvidos neste processo.

Apesar do extenso questionár­io, não lhes será perguntado diretament­e em quem votaram ou vão votar, nem se pertencem a algum partido ou contribuír­am para alguma campanha. A ideia não será alcançar um equilíbrio entre republican­os ou democratas, mas garantir que os escolhidos conseguem pôr de lado as opiniões que possam ter e decidir apenas com base nas provas apresentad­as.

Os advogados de Trump, assim como os procurador­es, terão um número limitado de oportunida­des para excluir jurados de que não gostem, sem dar qualquer razão. Também podem argumentar em relação a outros jurados, mas para os excluir o juiz tem de concordar com esse argumento. Nos anteriores processos com júri a envolver Trump – os casos civis sobre a agressão sexual e difamação apresentad­os pela autora E. Jean Carroll – o processo de escolher os seis jurados e três suplentes demorou apenas horas. Mas a previsão era que este fosse mais complicado.

A decisão de condenar ou não o ex-presidente fica na mão dos 12 jurados, tendo de ser unânime. Caso não seja possível, o julgamento é anulado e poderá ter de ser repetido. Para absolver Trump basta que os jurados considerem haver “dúvida razoável”. Se decidirem que é culpado, será o juiz a estabelece­r a pena que terá de cumprir – cada um dos 34 crimes tem uma pena máxima de quatro anos de prisão, o que somado daria 136 anos. Mas, o juiz poderá decidir não somar as penas e, dado que Trump não tem registo criminal, pode ficar só em liberdade condiciona­l.

Campanha à noite

O ex-presidente, candidato de novo à Casa Branca nas eleições de novembro, disse no passado que pretende assistir ao julgamento durante o dia, enquanto prossegue as ações de campanha à noite. O julgamento deverá durar entre seis a oito semanas, sendo que a sua equipa procura capitaliza­r a sua presença em tribunal – ainda ontem enviou um e-mail aos apoiantes de Trump a pedir donativos.

Como no passado, o ex-presidente criticou o julgamento ao entrar para o tribunal. “Isto é perseguiçã­o política, perseguiçã­o como nunca antes”, disse aos jornalista­s. “Isto é um ataque à América. É por isso que tenho muito orgulho em estar aqui. Isto é um ataque. Ao nosso país. E o país está a falhar.”

Ainda antes do início da seleção dos jurados, os advogados do ex-presidente tentaram pedir a recusa do juiz Juan M. Merchan, que consideram não ser imparcial, mas este rejeitou o pedido. Noutra derrota para Trump, o juiz aceitou que sejam apresentad­as em tribunal as provas sobre a ligação do ex-presidente ao tabloide National Enquirer, que foi quem o avisou de que Stormy Daniels estava a tentar vender a história do seu caso. Mas, numa vitória para a defesa, Merchan recusou permitir que os procurador­es falem de outros processos de abusos sexuais de Trump.

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Trump, rodeado pelos advogados, na sala do tribunal de Manhattan.

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