“Achei logo que não ia morrer disto”
Marta Fonseca, 34 anos, gestora de Recursos Humanos, descobriu que tinha cancro aos 32, por acaso.“Estava no escritório e comecei a sentir uma dor na mama direita. Fui à casa de banho apalpar-me e senti um nódulo”, recorda.
Marta é um dos casos de cancro em pessoas em idade jovem e, na sua família, não há histórico da doença. “Cada vez é mais comum em pessoas novas. Tenho uma página no Instagram – Ser Paciente – onde recebo imensas partilhas de outras pessoas que também desenvolveram a doença.”
A gestora de Recursos Humanos fez uma ecografia mamária. “O médico, assim que fez o exame aconselhou-me logo a fazer a biópsia. Deu positivo, era um cancro de mama dos mais agressivos. A partir daí, foi seguir em frente e começar com os tratamentos.”
Marta sempre teve uma postura positiva perante a doença. “Obviamente que, quando percebi que estava doente, não foi uma notícia feliz. Mas não fiquei destroçada ou a chorar. Fui prática. Sabia que tinha a doença e preparei-me para os tratamentos”, explica. “De início eram para ser só seis meses de quimioterapia e um mês de radioterapia. Só que, como tive de fazer uma mastectomia radical, ainda tive de fazer mais seis meses de químio oral”, explica.
Marta Fonseca garante: “Nunca tive medo. Só tive medo no final, quando fui fazer a operação para a reconstrução mamária, porque é uma cirurgia que dura 12 horas. Antes, quando me deram o diagnóstico, achei logo que ia correr tudo bem e que não ia morrer disto.”
O diagnóstico aconteceu em novembro de 2022 e Marta fez a cirurgia de reconstrução mamária há cerca de um mês. Durante todo este tempo, viu o corpo passar por várias alterações. “A primeira vez que fiquei sozinha, em casa, e me olhei ao espelho sem a mama, foi difícil. Mas, ao mesmo tempo, foi mais natural do que eu pensava porque aquilo não tinha mau aspeto e a cicatriz era muito fininha.”
Começou a perder o cabelo. “Foi um processo complicado, porque eu tinha o cabelo muito comprido. Só que assim que começou a cair – e cai muito, mesmo – decidi rapar a cabeça.”
Na altura, tentou encarar o seu novo aspeto com naturalidade. Hoje conclui que “foi difícil”. “Quando olho para as fotografias daquela altura faz-me confusão, não gosto de ver. Além de careca estava inchada porque tomei muitos corticoides; engordei 12 quilos em todo este processo. Todo o conforto com o corpo desaparece, mas, ao mesmo tempo, sempre tive a consciência de que preferia estar viva, com aquele corpo, do que não estar aqui”.
Durante um mês ainda usou peruca. Depois, resolveu doá-la a outra pessoa que tem a doença. “Assumi a careca e andei assim durante cerca de seis meses, até ao final da quimioterapia.” Agora, o cabelo já cresce. “Ainda me sinto estranha, porque olho-me ao espelho e não estou como era antes do cancro”.
Apesar de nunca ter tido medo da morte, assume: “Com a doença percebi que há essa possibilidade. Afinal, não sou imortal”.