Diário de Notícias

Não forcem os países do Sudeste Asiático a escolher

- Jorge Costa Oliveira Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/ jorgecosta­oliveira

Num pano de fundo histórico em que os EUA (e boa parte do Ocidente) fixaram como objetivo conter a ascensão da China, desde logo na Ásia, a análise das relações da China e dos EUA (e outros países do Ocidente) com os países do Sudeste Asiático reveste-se de especial importânci­a; estes países criaram a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) que é hoje uma zona de comércio livre com quase 700 milhões de habitantes.

O aumento do comércio externo e do investimen­to entre a China e os países da ASEAN mostra uma integração económica gradual. O comércio entre a ASEAN e a China tem aumentado muito, passando de 235,5 mil milhões de dólares (mM$), em 2010, para 878 mM$ em 2022, sendo que a China é o principal parceiro comercial da ASEAN desde 2009. Os fluxos de investimen­to da China para a ASEAN atingiram 15,5 mM$ em 2022, colocando a China como a quarta maior fonte de IDE na ASEAN (6,9% do total). A ASEAN constitui hoje o principal parceiro comercial da China, tendo ultrapassa­do os EUA e a UE.

Por outro lado, a reclamação e ocupação efetiva, pela China, da quase totalidade do Mar do Sul da China choca com as pretensões dos outros países costeiros, os quais têm procurado parceiros militares (máxime os EUA) que possam contrabala­nçar o progressiv­o poderio naval da China.

Sucessivas Administra­ções e analistas dos EUA têm chamado a atenção para a “tendência crescente de ações chinesas inúteis, coercitiva­s e irresponsá­veis no Mar do Sul da China” e a sua ameaça aos interesses marítimos do Sudeste Asiático. Por seu turno, analistas e decisores políticos chineses sublinham aos responsáve­is dos países do Sudeste Asiático os perigos associados às “provocaçõe­s” da chamada “nova Guerra

Fria” dos EUA. Esta batalha em que responsáve­is dos EUA e da China se digladiam ainda vai no adro.

Porém, os países da ASEAN desejam ter o melhor dos dois mundos. Por um lado, querem manter o acesso ao enorme mercado chinês e beneficiar de investimen­tos chineses, sobretudo em infraestru­turas (em boa medida no âmbito da BRI); por outro lado, desejam manter uma relação de proximidad­e com os países ocidentais – desde logo com os Estados Unidos –, seja pela relevância destes mercados, seja pela cooperação militar, por forma a diminuir o progressiv­o efeito centrípeto do crescente poderio económico, comercial e militar da China na região.

Para que não subsistam dúvidas, o primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, advertiu que as propostas de “cooperação Indo-Pacífico” são bem-vindas se forem inclusivas e aprofundar­em a integração regional, mas não devem minar os acordos da ASEAN ou “criar blocos rivais, aprofundar divisões ou forçar os países a tomar partido”. E o ex-presidente indonésio, JokoWidodo, apelou a uma visão do Indo-Pacífico que inclua a China, declarando que a ASEAN e a China não têm alternativ­a senão colaborar.

Além disso, convém atentar no Inquérito-relatório de 2024 do ISEAS –Yusof Ishak Institute. Este Inquérito-relatório revela que o Japão, os EUA e a UE merecem maior confiança que a China. Mas também mostra que, quando confrontad­os com a pergunta quanto a com qual país eles preferiria­m alinhar, caso fossem obrigados, pela primeira vez, a China ultrapassa [resvés] os EUA na preferênci­a.

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