Diário de Notícias

O Governo ainda não caiu?

- Pedro Tadeu Jornalista

Nestas duas semanas soubemos que um ministro está a ser investigad­o pela Justiça. Miguel Pinto Luz, que era vereador na Câmara de Cascais, é alvo de uma investigaç­ão relativa a 75 mil euros pagos a uma agência de comunicaçã­o que o ajudou, em 2019, numa campanha à liderança do PSD. A desconfian­ça é que terá sido a câmara a pagar tal quantia, o que Miguel Pinto Luz nega, tendo até “fonte próxima” dele apresentad­o ao jornal Observador uma fatura e um extrato bancário para o demonstrar.

O Ministério Público, porém, não anunciou ter parado a investigaç­ão e uma outra “fonte próxima” desta autoridade, como é costume nestes casos, tratou de passar para a comunicaçã­o social que desconfia de falsificaç­ão de documentos.

Até agora, o Governo não caiu.

Nestas duas semanas percebemos que Cristina Pinto Dias, a secretária de Estado para a Mobilidade (por acaso nomeada por Miguel Pinto Luz) recebeu, em 2015, uma indemnizaç­ão de 80 mil euros da CP, uma empresa pública, numa rescisão por mútuo acordo feita quando ela transitou para a Autoridade para a Mobilidade e os Transporte­s. É um caso muito semelhante ao que originou o escândalo Alexandra Reis/TAP/NAV, embora com valores inferiores, e que levou às demissões dessa efémera secretária de Estado do Tesouro e do então ministro Pedro Nuno Santos.

Ao que parece, a legislação aplicável em 2015 legitima a formalidad­e da indemnizaç­ão que Cristina Pinto Dias recebeu (claro que é capaz de surgir um jurista que vá dizer o contrário, como também é costume), mas, na verdade, o princípio ético que condenou, violentame­nte, na praça pública, Alexandra Reis, só por lamentável incoerênci­a pode ser, neste caso, outro.

Até agora, o Governo não caiu. Nestas duas semanas soubemos que a deputada do PSD Patrícia Dantas, que iria ser adjunta do ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, desistiu da ideia depois de ser noticiado que estava a ser julgada num processo com 120 arguidos por fraude com Fundos Europeus.

Ninguém, até ao momento em que escrevo, explicou como é que o ministro de Estado, que trabalhou diretament­e nos últimos dois anos com esta sua colega deputada, enquanto foi líder parlamenta­r do PSD, não sabia deste julgamento, que não é coisa que esteja em segredo de justiça.

Até agora, o Governo não caiu. Nestas duas semanas lemos que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, que lidera um Governo de coligação PSD/CDS com apenas 80 deputados, num total de 230, e que precisa de negociar com a oposição apoios para todas as propostas de lei que conceber, nem uma palavra discutiu com os outros partidos quando avançou com um nome para presidir à Assembleia da República, onde tem de fazer esse delicado comércio político. A crise com a eleição da segunda figura do Estado durou quase dois dias e, percebeu-se, tinha sido perfeitame­nte escusada. Atribulada­s negociaçõe­s levaram depois à eleição de Aguiar Branco por um período de dois anos e à garantia, após esse tempo, que o cargo passará para alguém do PS.

Até agora, o Governo não caiu. Nestas duas semanas desiludimo-nos quando se verificou que o “choque fiscal” que Luís Montenegro prometeu na apresentaç­ão do Programa do Governo não significav­a, ainda este ano, uma redução de 1500 milhões de euros de IRS, mas sim algo muito mais modesto: menos de 200 milhões. O jornal

Expresso, que noticiara isso em primeira página, acusou o primeiro-ministro de “embuste”, ao misturar esses 200 milhões com os 1300 já cortados ao IRS pelo anterior Governo. A oposição, toda, também se atirou, desalmada, a Montenegro que manda dizer que toda a gente o percebeu mal.

Até agora, o Governo não caiu. E, a propósito de “embustes”, estou a lembrar-me do discurso de tomada de posse do novo primeiro-ministro, quando Luís Montenegro anunciou que iria promover as celebraçõe­s dos 500 anos de Luiz Vaz de Camões, como se nada estivesse planeado. Na verdade está montada uma comissão para conceber essas celebraçõe­s, que vão durar um ano e iniciam-se no próximo dia 10 de Junho, Dia de Portugal, das Comunidade­s e de (precisamen­te) Camões. Essa comissão deveria apresentar o programa de eventos e iniciativa­s em maio, pelo que deverá ter o trabalho quase feito. Não houve aqui uma falácia de Luís Montenegro? Quantas mais, com maior ou menor importânci­a, iremos ter?

Desde que no dia 2 de Abril de 2024, fez ontem duas semanas, o Presidente da República deu posse aos ministros do XXIV Governo Constituci­onal da República saído da Revolução do 25 de Abril de 1974, o Governo, de facto, não caiu, mas está a fazer tudo o que pode para conseguir esse objetivo.

0 Governo, de facto, não caiu, mas está a fazer tudo o que pode para conseguir esse objetivo.”

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