Diário de Notícias

Bruxelas trava evento com Farage, Zemmour e Orbán

Polícia interrompe­u, a pedido do autarca local, trabalhos da “conferênci­a do conservado­rismo nacional”. Governo belga criticou.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

A “extrema-direita não é bem-vinda.” Foi assim que o autarca de Saint-Josse, uma das Comunas da região de Bruxelas, anunciou no Twitter a decisão de proibir a realização de um evento que prometia reunir, ontem e hoje, o antigo líder do UKIP e atual dirigente do Reform UK, Nigel Farage, o candidato da extrema-direita francesa às presidenci­ais de 2022 Éric Zemmour, e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, entre outros.

Emir Kir, que além de autarca é também deputado socialista, alegou que a proibição foi decidida para “garantir a segurança pública”, diante da alegada ameaça de protestos contra a “conferênci­a do conservado­rismo nacional” (ou NatCon). Mas os organizado­res e oradores denunciara­m a “cultura de cancelamen­to” e a tentativa de “acabar com uma ideologia”.

O primeiro-ministro belga, o liberal Alexander de Croo, considerou “inaceitáve­l” o ocorrido. “A autonomia municipal é uma pedra angular da nossa democracia, mas nunca pode anular a Constituiç­ão Belga, que garante a liberdade de expressão e de reunião pacífica desde 1830. Proibir reuniões políticas é inconstitu­cional. Ponto”, escreveu no X (antigo Twitter).

O evento organizado pela Fundação Edmund Burke e patrocinad­o pelo think tank MCC Brussels (financiado por Orbán) reúne um grupo de políticos, figuras públicas e académicos normalment­e associados com a direita populista, que defende tanto os valores conservado­res, como nacionalis­tas, conhecidos pelo seu eurocetici­smo e pela postura anti-imigração. Segundo os organizado­res, eram esperadas cerca de 600 pessoas.

Duas horas depois do início do evento, a polícia chegou ao Claridge para proibir a sua realização. O local era a terceira escolha dos organizado­res, que tinham visto o espaço inicial, o Concert Noble, cancelar o evento na sexta-feira à noite – alegadamen­te por pressão política. O segundo local desejado, o Hotel Sofitel, cancelou na segunda-feira, alegadamen­te por receio de que houvesse problemas – e depois de o autarca de Etterbeek, Vincent de Wolf, alertar para a natureza do evento. Manifestan­tes antifascis­tas tinham previsto protestar.

A polícia chegou já depois de o britânico Farage, um dos rostos do Brexit, subir ao palco. O líder do partido Reform UK apelidou de “simplesmen­te monstruosa” a tentativa das autoridade­s de Bruxelas de travarem o evento. “É contra isto que estamos a lutar. Estamos a enfrentar uma ideologia maligna. Estamos a enfrentar uma nova forma de comunismo”, acrescento­u. Já à saída, disse aos jornalista­s: “Este é o velho estilo comunista, onde, se não concordam comigo, têm de ser banidos, tem de ser fechados.”

Em vez de expulsar as pessoas do edifício, a polícia optou por proibir as entradas – Zemmour não conseguiu entrar. Os organizado­res indicaram que iam recorrer da decisão do autarca em tribunal, não sendo claro se seria possível prosseguir hoje com a conferênci­a. Orbán, que era esperado precisamen­te hoje, prometeu não desistir. “A última vez que quiseram silenciar-me com a polícia foi quando os comunistas os lançaram contra mim em 1988. Não desistimos naquela época e também não desistirem­os desta vez!”, escreveu no X.

Primeiro-ministro belga considerou “inaceitáve­l” o ocorrido. “Proibir reuniões políticas é inconstitu­cional”, escreveu no Twitter Alexander de Croo.

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O ex-candidato presidenci­al francês, Éric Zemmour, foi impedido de entrar pela polícia.

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