Diário de Notícias

O Prémio Lux é um luxo!

Ontem, numa cerimónia no hemiciclo do Parlamento Europeu, o Prémio Lux foi atribuído ao poderoso A Sala de Professore­s, de Ilker Çatak, uma vitória importante do cinema alemão.

- TEXTO RUI PEDRO TENDINHA, EM BRUXELAS

Não são os Óscares europeus populares, mas os Prémio Lux do Público querem servir de promoção para o melhor cinema europeu. São votados pelo público via internet e promovidos pelo Parlamento Europeu e a Academia de Cinema Europeia.Visam estreitar os laços entre a política e os cidadãos, tentando fomentar uma proximidad­e cinéfila através do cinema de autor com estreia comercial. O objetivo é também envolver o público em debates sobre a Europa, em ‘viver a Europa’, por muito que isso possa parecer institucio­nal.

A pergunta é se o cinema europeu, para além do programa Europa Cinemas, para a exibição, e dos prémios da Academia Europeia, precisa de mais promoção? Precisa e precisará cada vez mais, sobretudo quando as salas de cinema de arte e ensaio são cada vez mais os últimos bastiões de uma arte que continua a resistir à mediocrida­de que erroneamen­te se proclama dominante.

Um Lux para a Alemanha

Talvez por isso, seja relevante celebrar a vitória de A Sala de Professore­s, de Ilker Çatak, cinema vital alemão revitaliza­do pela sua relevância social, uma história no interior de uma escola alemã, em que há suspeitas e dúvidas acerca de um roubo num retrato que também serve de radiografi­a a uma sociedade de preconceit­os e ideias feitas.

Este filme, também nomeado para os Óscares, deixou para trás concorrênc­ia forte, em especial um dos grandes sucessos europeus do ano, Folhas Caídas, de Aki Kaurismaki. Os outros nomeados eram A Irmandade da Sauna, filme estónio de Anna Hints que passou despercebi­do nas salas portuguesa­s; Sobre L’Adamant, Urso de Ouro de Berlim, de Nicolas Philibert; e 20 000 Espécies de Abelhas, de Estibaliz Urresola Solaguren, obra espanhola que aborda questões sobre identidade de género na infância.

Politizar o cinema

Esta 17ª edição foi bem politizada, sempre com os nomeados a falar de temas que são parte das grandes questões desta Europa dos nossos dias, bem perto das eleições que se aproximam em junho.

Porém, num dos encontros com a imprensa, o francês Nicolas Philibert, documentar­ista de Sobre L’Adamant, filme finalista nestes prémios votados por quem quis ir ao site do Lux Award, confessava nada saber sobre este prémio: “Desconheço como, na verdade, se processa, mas é sempre bom vir – tratam de mim, põem-me aqui. Mas não é importante, para mim, ganhar prémios, importante é conseguir fazer cinema.”

Por outro lado, a vice-presidente do Parlamento Europeu, Evelyn Regner, não se mostrou surpreendi­da com a vitória alemã: “Na verdade, era impossível estar surpreendi­da, este ano tivemos mesmo cinco filmes muito bons a concorrere­m entre si. Mas, pessoalmen­te, gosto mesmo muito de A Sala de Professore­s, um filme com uma grande mensagem, mas que não deixa de ser misterioso, onde nunca sabemos o que vai acontecer e mostra-nos uma história sobre o Sistema Educativo. Tem uma atriz espantosa que interpreta uma professora que parece estar a lutar contra uma estrutura, contra o sistema! Todos os que temos filhos que estão no Sistema Educativo vemos este filme e ficamos perturbado­s. Ilker Çatak fez um filme muito humano e aborda todos esses problemas estruturai­s do ensino e das escolas.”

Todos os filmes nomeados foram mostrados em diversas sessões gratuitas nos diversos países da União Europeia. Uma mensagem forte do Parlamento Europeu de aposta na cultura.

De relembrar que o ano passado Portugal conseguiu ter um filme nomeado nesta cerimónia, o bem inflamante Fogo Fátuo, de João Pedro Rodrigues, embora a vitória tenha ido para o drama belga Close, de Luka Dhont.

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A Sala de Professore­s, mais uma conquista de um filme que agrada a todos.

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