“Não percebo que estigmatizem o 25 de Novembro”
Antigo Presidente da República lamenta que as Forças Armadas caminhem para a “irrelevância” e teme uma nova guerra mundial.
Oprimeiro Presidente da República democraticamente eleito após o 25 de Abril, António Ramalho Eanes, lamentou, em entrevista à RTP divulgada ontem, o esquecimento do 25 de Novembro nas celebrações do 25 de Abril. “A Democracia foi prometida no 25 de Abril, com Estado de Direito e eleições livres, mas o 25 de Novembro foi a continuação do 25 de Abril. Não percebo que estigmatizem essa data”, afirmou o antigo militar, de 89 anos, que salienta que o Partido Comunista Português (PCP) foi arrastado pela extrema-esquerda para tentar impor a sua ideologia. “Entendo que o esquecimento do 25 de Novembro não ajuda a democracia”, reforçou.
“Entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro houve um período muito complicado em que alguns grupos tentaram impor as suas ideologias. Mas o MFA não permitiu”, acrescentou Ramalho Eanes, que impediu a ilegalização do PCP: “Todos os partidos eram não necessários, mas indispensáveis.”
Sobre a posição de Portugal na União Europeia, o antigo chefe de Estado frisa que “os 35 anos de fundos europeus foram extremamente importantes para a criação do Estado social português” e explicou o maior crescimento económico dos países de leste em comparação com Portugal: “Têm menos despesa com Estado social.”
Antigo militar, lamentou que as Forças Armadas caminhem “para a irrelevância”. “Nas Forças Armadas quase tudo está mal. Os chefes do Estado-Maior fazem das tripas coração”, vincou, considerando “interessante” o debate sobre o serviço militar obrigatório, “para que os portugueses conheçam a situação das Forças Armadas, que percebam que a situação hoje é muito complicada, e que poderemos estar envolvidos numa guerra”.
Ramalho Eanes é contra a ideia de um Governo de unidade nacional, porque “mataria o pluralismo”, a não ser “numa situação de guerra”, o que teme que possa vir a acontecer em virtude de um possível alastramento da guerra na Ucrânia para os países bálticos e de uma intromissão dos EUA no conflito entre China e Taiwan.