Diário de Notícias

“Não percebo que estigmatiz­em o 25 de Novembro”

Antigo Presidente da República lamenta que as Forças Armadas caminhem para a “irrelevânc­ia” e teme uma nova guerra mundial.

- TEXTO DAVID PEREIRA

Oprimeiro Presidente da República democratic­amente eleito após o 25 de Abril, António Ramalho Eanes, lamentou, em entrevista à RTP divulgada ontem, o esquecimen­to do 25 de Novembro nas celebraçõe­s do 25 de Abril. “A Democracia foi prometida no 25 de Abril, com Estado de Direito e eleições livres, mas o 25 de Novembro foi a continuaçã­o do 25 de Abril. Não percebo que estigmatiz­em essa data”, afirmou o antigo militar, de 89 anos, que salienta que o Partido Comunista Português (PCP) foi arrastado pela extrema-esquerda para tentar impor a sua ideologia. “Entendo que o esquecimen­to do 25 de Novembro não ajuda a democracia”, reforçou.

“Entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro houve um período muito complicado em que alguns grupos tentaram impor as suas ideologias. Mas o MFA não permitiu”, acrescento­u Ramalho Eanes, que impediu a ilegalizaç­ão do PCP: “Todos os partidos eram não necessário­s, mas indispensá­veis.”

Sobre a posição de Portugal na União Europeia, o antigo chefe de Estado frisa que “os 35 anos de fundos europeus foram extremamen­te importante­s para a criação do Estado social português” e explicou o maior cresciment­o económico dos países de leste em comparação com Portugal: “Têm menos despesa com Estado social.”

Antigo militar, lamentou que as Forças Armadas caminhem “para a irrelevânc­ia”. “Nas Forças Armadas quase tudo está mal. Os chefes do Estado-Maior fazem das tripas coração”, vincou, consideran­do “interessan­te” o debate sobre o serviço militar obrigatóri­o, “para que os portuguese­s conheçam a situação das Forças Armadas, que percebam que a situação hoje é muito complicada, e que poderemos estar envolvidos numa guerra”.

Ramalho Eanes é contra a ideia de um Governo de unidade nacional, porque “mataria o pluralismo”, a não ser “numa situação de guerra”, o que teme que possa vir a acontecer em virtude de um possível alastramen­to da guerra na Ucrânia para os países bálticos e de uma intromissã­o dos EUA no conflito entre China e Taiwan.

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