Uma escola para todos
Ao passo que o Estado desinveste no ensino, o dilema dos pais aumenta em relação às oportunidades de futuro que a escola pública permite alcançar. Este é, depois, o país que entrega para a emigração os jovens mais qualificados de sempre. O que dá que pensar: será este o país onde os políticos querem investir no futuro dos alunos?
A escola pública tem uma característica que nunca se deveria perder, que é a capacidade de promover maior sucesso escolar dos alunos de meios socioeconómicos mais desfavorecidos quando estes se integram com outros que pertencem a meios mais favorecidos. E assim se combate também a segregação social, combatem-se ideologias xenófobas e racistas. O Estado não pode provocar desigualdades sociais, mas é a isso que leva o desinvestimento na educação, o descontentamento de professores, incompreendidos pelo seu papel na construção do futuro (e a falta de interesse dos universitários em seguir a via de ensino), e o descrédito dos pais, que já não sabem quantos furos no horário terão os filhos em aulas essenciais para a sua aprendizagem.
“A instabilidade da escola pública, principalmente no que se refere à falta de professores, tem um peso relevante nas opções das famílias. Acreditamos que este ano possa haver um aumento da procura, mas ainda é cedo para ter dados concretos”, explica ao DN, nesta edição, Rodrigo Queiroz de Melo, diretor-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo. “Há mais famílias a fazer um esforço para ter os filhos no privado e em muitos casos com a ajuda dos avós.” São cada vez mais as famílias de classe média baixa a pensar nesta opção.
A falta de professores em algumas disciplinas, as más condições físicas de muitas escolas, a sobrelotação nas grandes metrópoles e o sentimento de insegurança por falta de profissionais que acompanhem os alunos nos recreios são motivos que levam alguns pais a procurar uma alternativa para os filhos nos colégios. O ensino privado sempre existiu – e bem –, até porque numa sociedade democrática as famílias têm liberdade de fazer escolhas. Não sejamos é hipócritas, porque a escolha entre a escola pública e os colégios é uma prerrogativa dos mais privilegiados. É, por isso, mais uma razão para o Estado investir na qualidade do ensino que está à sua responsabilidade, dar condições de trabalho aos profissionais e dar confiança a todos os pais, independentemente das condições socioeconómicas, na escola pública.
Ao passo que o Estado desinveste no ensino, o dilema dos pais aumenta em relação às oportunidades de futuro que a escola pública permite alcançar. Este é, depois, o país que entrega para a emigração os jovens mais qualificados de sempre. O que dá que pensar: será este o país onde os políticos querem investir no futuro dos alunos?