Famílias fazem múltiplas pré-inscrições para garantir uma vaga
Procura por escola no privado deve ser feita com antecedência, avisam pais, pois ter condições para pagar não significa ter um lugar garantido.
Joana Marques, magistrada, mãe de três crianças, fez pré-inscrição em três estabelecimentos de ensino privado para o ano letivo de 2025-2026. A escola que os filhos gémeos, de nove anos, frequentam não tem oferta de 2.º ciclo e “a janela temporal começa a ficar curta”. Apesar de tentar várias opções, não obteve garantia de vaga em nenhuma das escolas e terá de aguardar uma resposta. Esta dificuldade já não é nova para a encarregada de educação, que passou pelo mesmo quando transferiu os filhos de escola. “Não tem sido fácil. Fazemos pré-inscrição, pagamos a taxa, mas nenhum colégio garante vaga. A meio do ciclo, quando os transferi a primeira vez, foi muito difícil. Ficaram numa escola que não é na minha área de residência, mas era a única com vagas e a nível de ensino estou muito contente”, recorda. A saga da procura recomeçou, embora as crianças, a frequentar o 3.º ano, só precisem de mudar de escola para o ano letivo de 2025-2026. “Esta situação deixa-me ansiosa e preocupada, porque não sei quando terei resposta. Tenho mais amigos na mesma situação. Cada vez mais as famílias têm de procurar uma escola com muito tempo de antecedência.” Questionada pelo DN sobre o motivo que a leva a não considerar a escola pública, Joana Marques aponta várias causas. “O público não é opção por causa da instabilidade do corpo docente, os professores contratados mudam de escola todos os anos e há muitos miúdos sem professor a uma ou mais disciplinas. E isso é assustador, principalmente para os alunos que vão fazer exame. Pelo menos essa parte as escolas privadas garantem”, justifica. A somar a essas preocupações está “a ausência de atividades integradas no currículo e não apenas como AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular)”. “Não é fácil encontrar uma escola que ofereça valências diversificadas. A insegurança que há nas escolas também pesa muito na minha escolha. As escolas são lugares pouco seguros, algo que vejo, na prática, na minha experiência profissional. Há poucos funcionários nos recreios para vigiar as crianças”, desabafa.
Alexandra e Ricardo Pereira, pais de uma menina de sete anos e um rapaz de 10, estão a passar pelo mesmo processo de procura de uma vaga e apresentam as mesmas justificações para não optar pelo ensino público. “Vão ficar em escolas diferentes, para já. As escolas que queríamos não tinham vaga. Procurámos três alternativas antes de termos um sim. Andámos quase dois anos à procura e percebemos que foi tarde. Fizemos pré-inscrição em três colégios e acabámos por ficar no terceiro”, recordam. Contudo, numa fase inicial a opção era a escola pública. A falta de professores fez o casal mudar de ideias e procurar garantias de estabilidade. “O que nos fez mudar de opinião foi a instabilidade da escola pública, principalmente a falta de docentes. Temos amigos com filhos no público a viver esse drama da falta de professores. Acreditamos que no privado daremos mais oportunidades de futuro aos nossos filhos. Além disso, a escola pública pode ser gratuita, mas é preciso pagar as atividades extracurriculares e as explicações, se for necessário”, referem, sublinhando que “o privado já acautela essas situações”.
Alexandra e Ricardo conseguiram vaga fora da área de residência, implicando deslocações mais demoradas. Contudo, garantem, o esforço é necessário para garantir uma educação estável para os filhos.
O plano inicial de Alexandra e Ricardo era que os filhos frequentassem o ensino público, mas acabaram por seguir outro rumo: “O que nos fez mudar de opinião foi a instabilidade da escola pública, principalmente a falta de docentes.”