Filipe Froes & Patricia Akester Portugal dos Granditos
“Um país desenvolvido não é um lugar onde os pobres têm carro. É onde os ricos utilizam os transportes públicos.” (Gustavo Petro, economista e atual presidente da Colômbia)
AHistória ensinou-nos que Portugal e os portugueses viveram períodos de enorme progresso e que foram pioneiros na navegação e exploração marítimas e na descoberta de novos mundos. Já fomos grandes e maiores do que somos hoje e soubemos, então, conjugar as circunstâncias com as nossas especificidades para criar o valor que nos catapultou para os lugares cimeiros do desenvolvimento mundial.
Os tempos mudaram, tendo a nossa ambição de se adaptar ao contexto presente, contudo o objectivo deve permanecer centrado na criação de valor e de grandeza. Seguem algumas observações e sugestões para atingirmos esse caminho, que tem tanto de desejado, como de demorado.
O que faz um país ser grande?
A primeira questão é precisamente o que faz um país ser grande. Um país desenvolvido com um elevado nível de riqueza, bem-estar e segurança, onde as pessoas se sintam realizadas e gostem de viver. Embora todos os países do G7, que reúne os 7 países mais industrializados do mundo, sejam maiores do que Portugal, a área e o número de habitantes de um país não são, por si, indicadores de desenvolvimento. Por exemplo, a Bélgica, a Dinamarca, a Irlanda, os Países-Baixos e a Suíça são mais pequenos do que nós, mas produzem mais riqueza (https://www.world ometers.info/gdp/gdp-per-capita/). É que a grandeza de um país tem a ver com o valor que constrói e que se traduz no desenvolvimento, riqueza e bem-estar dos seus habitantes.
As lições advindas da União Europeia
Como Estado-membro de pleno direito da União Europeia (UE),
Portugal tem beneficiado de uma estabilidade política e económica ímpar, bem como de extensos programas de investimento e financiamento. Mas a integração na UE comporta, igualmente, a vantagem de poder analisar os diferentes modelos de organização política, social e económica dos outros países e os benefícios da sua possível aplicabilidade. Por exemplo, modelos de representatividade política, de organização da sociedade, de funcionamento dos Sistemas de Saúde, Ensino e Justiça, medidas de fiscalidade, de mobilidade e combate à corrupção, etc. A UE é um autêntico laboratório de experiências no mundo real que não pode ser desvalorizado, permitindo-nos a comparação permanente no sentido da autocrítica construtiva e da aprendizagem.
Lição n.º 1 – O Orçamento do Estado é o dinheiro de todos nós
Nada é gratuito. Seja na Saúde, no Ensino, na Justiça ou em áreas mais vulgares da nossa vida em comum (como portagens, subsídios, isenções, deduções e incentivos), tudo tem um custo. E quando não é o próprio a suportar esse custo, é o Estado que o faz através do seu Orçamento, através da grande fonte de receita que se traduz na carga fiscal. Ou seja, quando o Estado financia, somos nós que financiamos através do dinheiro proveniente dos impostos de que somos alvo. Aqui é de notar que os países mais ricos não são aqueles que gastam mais, mas aqueles que gerem melhor e poupam mais. O que se gasta numa opção deixa de estar disponível para outras escolhas.
Lição n.º 2 – O investimento no Ensino, na Saúde e na Justiça
Não é possível um país e uma sociedade criarem riqueza e valor sem elevados níveis de formação e diferenciação, sem pessoas saudáveis e motivadas e sem um Sistema de Justiça que intervenha em tempo útil. Veja-se o impacto da escola náutica, supostamente em Sagres, fundada pelo Infante D. Henrique no século XV, no período áureo de Portugal.
Lição n.º 3 – O regresso ao Mar
O mar faz parte da nossa identidade nacional. Foi o mar que nos deu glória e desenvolvimento e que nos permitiu crescer e ser maiores do que a terra. O regresso ao mar e a exploração da nossa Zona Económica Exclusiva de quase 2 milhões de Km2 de recursos oceânicos, sol e vento, são essenciais para o desenvolvimento científico, social e económico e para a sustentabilidade energética, alimentar, hídrica e ambiental. Para sermos grandes temos de reencontrar a nossa identidade e voltar a depender só de nós. O mar dá-nos essa oportunidade!
Conclusões
A História de Portugal ensina resiliência e inovação, evidenciada pelos tempos de grandeza aquando da navegação e da exploração marítimas. A actualidade desafia-nos a adaptar essa herança ao contexto moderno, focando-nos na criação de valor e no desenvolvimento sustentável para reafirmar da nossa posição no mundo. Aproveitemos a ocasião para lembrar as sábias palavras do Padre António Vieira: “Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos.”
Nota: Os autores não escrevem de acordo com o novo acordo ortográfico. Filipe Froes é Pneumologista, Ex-Coordenador do Gabinete de Crise para a covid-19 da Ordem dos Médicos e Membro do Conselho Nacional de Saúde Pública.