Demissão do diretor executivo do SNS surpreendeu ministra
Ana Paula Martins recebeu nota de intenção de saída de Fernando Araújo em Bruxelas e prometeu uma reação para quando chegar a Portugal.
Odiretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, o médico e gestor Fernando Araújo, apresentou ontem a sua demissão à ministra da Saúde, Ana Paula Martins. A notícia foi confirmada pelo DN junto do gabinete de Ana Paula Martins, que se encontra em Bruxelas na reunião dos ministros da Saúde da União Europeia. Ao que apurámos, a decisão de Araújo surpreendeu a ministra, que promete uma reação para quando regressar ao país.
Recorde-se que Ana Paula Martins, nomeada por Fernando Araújo há um ano para presidente do então Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, saiu do mesmo cargo no final de dezembro por considerar que a sua função não se adequava ao novo modelo de gestão que integrava aquela unidade, como outras, nas chamadas Unidades Locais de Saúde (ULS).
As divergências entre a visão do novo Governo para a Saúde e o diretor executivo são visíveis nalgumas áreas, nomeadamente na gestão das ULS, tendo Ana Paula Martins anunciado na semana passada que tinha dado um prazo de 60 dias a Fernando Araújo para apresentar um relatório das mudanças que estão a ser operadas no SNS.
Na missiva à ministra, à qual o DN teve acesso, o diretor executivo, agora demissionário, diz que nos 15 meses em que esteve no cargo liderou a maior reforma que alguma vez foi feita no sistema.
“Apesar dos condicionalismos externos, foi realizada a maior reforma, em termos organizacionais, nos 45 anos de existência do SNS. As reformas em qualquer área são difíceis, mas na saúde particularmente complexas e exigentes. No entanto, foi possível concretizar alterações legislativas, introduzir novos modelos económicos, planear estratégias e organizar processos, envolver as equipas das várias instituições, instituir mecanismos externos para monitorizar e avaliar a reforma e, realmente, mudar o SNS”, lê-se.
Fernando Araújo assume ainda no mesmo documento que a decisão de sair do cargo “foi difícil”, mas que a tomou para que não criar obstáculos à nova tutela. “Esta difícil decisão permitirá que a nova tutela possa executar as políticas e as medidas que considere necessárias, com a celeridade exigida, evitando que a atual DE-SNS possa ser considerada um obstáculo à sua concretização”, prossegue.
O médico e gestor nomeado pelo ex-ministro, Manuel Pizarro, diz que a sua equipa sai “com a noção de que não [fez] tudo o que tinha sido planeado”. “Cometemos seguramente erros, mas o tempo foi sempre curto para executar uma reforma desta dimensão. No entanto, os primeiros sinais são bastante positivos e mais favoráveis do que as previsões que tinham sido inicialmente inscritas nos instrumentos de planeamento. Exerci estas funções com imensa honra e um sentimento de dever público, e irei agora, de forma tranquila, voltar à atividade assistencial, de docente e de investigação, como médico do SNS e professor universitário”, descreve.
Fernando Araújo concluí agradecendo aos “profissionais a disponibilidade e empenho que sempre demonstraram, e em particular aos membros do conselho de gestão da DE-SNS”.
Quanto ao pedido que a atual ministra lhe fez, o médico garante que a entregará, sugerindo à tutela que a demissão da sua equipa tenha efeitos a partir do “dia seguinte à [apresentação] do relatório da atividade exigido”.
Um documento de que “tivemos conhecimento por e-mail, na mesma altura que foi divulgado na comunicação social”, faz questão de referir.