Diário de Notícias

Festa do Gnration põe Braga a dançar

AO VIVO Open day oferece hoje música, exposições e workshops.

- TEXTO SARA SOFIA GONÇALVES

Este sábado é ainda tempo de celebrar a liberdade. Em Braga, será pela dança e a cargo de um conjunto cuja história se confunde com o próprio 25 de Abril: os lendários África Negra fazem as honras da noite do Open day, no Gnration.

Trabalhand­o o som de São Tomé e Príncipe, juntaram-se em 1972, ainda as forças coloniais portuguesa­s ocupavam as ilhas. Tentaram, à época, proibir o uso do próprio nome do grupo, por isso, o início aconteceu na rua, junto com o povo. Nos anos 1980, os África Negra conseguem o primeiro disco e, durante uma carreira ainda farta, chegaram a gravar até em Portugal.

A energia e inevitável abanar de anca dos África Negra chega a Braga pela mão do 11.º aniversári­o da casa cultural bracarense.

Como já é costume, a entrada é gratuita para todas as 11 atividades planeadas para quatro locais distintos dentro do espaço do Gnration, das 16.00 horas e até de madrugada. Além da música, há uma exposição e um workshop para crianças.

A festa começa com talento local. Pelas 16.00 horas, Mafalda BS, natural de Braga, estreia os palcos do Gnration para apresentar o seu primeiro EP Canto em cantos, lançado em outubro do ano passado. Seguem-se os também bracarense­s Mutu e, para fechar a tarde, atua o duo Marta Abreu e Adolfo Luxúria Canibal, ambos naturais da cidade dos arcebispos, com a performanc­e de spokenword de Goela Hiante.

Eletrónica não falta

No cartaz de celebração da noite, o radar da influência passa desta feita para o Uganda, com HHY & The Kampala Unit, um agrupament­o fundado por Johnathan Uliel Saldanha e o coletivo Nyege Nyege, que se resume como uma “exploração futurista que mistura o dub e o techno com percussões tradiciona­is e elementos de transe”, diz o comunicado do evento.

Os concertos encerram com o produtor britânico James Holden, que apresenta o seu quinto e mais recente disco, Imagine this is a high dimensiona­l space of all possibilit­ies (2023).

Para todas as ancas

A dança arranca a meio da tarde, mas entrará também noite adentro. Para encerrar este aniversári­o do Gnration, haverá, em simultâneo, dois DJ sets tivos – para que a música agrade a todas as ancas.

De um lado, “entre sons contemporâ­neos e música-antiga-feita-nova”, La Flama, nome artístico de Pedro Azevedo, trará cumbia, perreo e suor. Por outro, Catarina Silva, acompanhad­a pelos visuais de Muluk, irá apresentar uma performanc­e em curadoria conjunta com a Dark Sessions Braga, uma comunidade independen­te de música eletrónica criada na cidade em 2017.

cradas da área de humanidade­s, a par da Geografia.” (p.11). Tal como George Steiner irá comprovar nos capítulos por que se estrutura este seu livro, há uma tese que Maria do Carmo Vieira logo expõe como âncora de todos estes textos: com essas reformas, as humanidade­s não escaparam à “loucura do discurso pragmático”. Essa reforma de 2003 foi “o culminar de um trabalho paciente, orientado por pedagogos frustrados […] que doentiamen­te dependente­s de teorias pedagógica­s, há muito postas em causa, contaram com a anuência de direcções escolares para a execução da mudança que, a seu ver, revolucion­aria o sistema educativo” (p.12).

Uma mudança que teve no discurso da “inovação/ novo”, no “funcional/ utilitário” e na “facilidade/ lúdico” as traves-mestras. Hoje, volvidos vinte anos, ao irmos às escolas falar sobre os 500 anos de Camões, ou sobre a importânci­a de uma data como a do 25 de Abril, vemos bem as consequênc­ias das sucessivas reformas inovadoras, utilitária­s e fáceis levadas a cabo por governos do PSD e do PS: os alunos (e mesmo muitos professore­s, sobretudo se têm menos de 40 anos) ignoram quem foi Camões, deparam-se com dificuldad­es extremas de redacção e de interpreta­ção de textos literários (de Camões ou de quaisquer outros, do 7º ao 12º ano).

Com efeito, à custa da imposição de um paradigma tecnológic­o que atingiu todas as disciplina­s, com a estúpida crença de que só importam as áreas que darão “lucro” no mercado de trabalho para onde encaminham­os uma geração inteira de indigentes digitais (os que serão engenheiro­s, informátic­os, médicos, advogados, arquitecto­s?), o facto é este: hoje muitos alunos não sabem pegar numa caneta, têm uma caligrafia ilegível, a sintaxe que produzem é de uma ilogicidad­e que magoa o pensamento. A morfologia, a semântica e mesmo a fonética (quando lêem em voz alta é assustador ver com que tropeções e hesitações lêem um poema ou uma simples apresentaç­ão do palestrant­e) espelham a catástrofe que inúmeros professore­s, de vários graus de ensino, têm descrito. A menorizaçã­o dos clássicos, bem como o convite permanente a que os professore­s sejam os agentes desta “transição digital” que nada mais fará senão destruir definitiva­mente a escola e o ensino no seu todo, isso está plasmado neste A Lição dos Mestres. Um dado para o debate: por que razão uma peça teatral como

Felizmente há Luar! de Sttau Monteiro foi retirada do 12º ano sem que nos dissessem as razões para tal censura? A quem convém que as crianças e os adolescent­es prefiram jogos online no telemóvel à leitura de livros que podem, de facto, mover os afectos e comover a inteligênc­ia? A quem convém que as humanidade­s sejam perseguida­s por direcções escolares e que disciplina­s como Literatura/Português, História e Geografia, Artes e Música sejam permanente­mente desvaloriz­adas? Será que os senhores adeptos das tecnologia­s e das ciências não leram Einstein? Relembremo-lo: “oponho-me à ideia de que a escola deve ensinar directamen­te aqueles conhecimen­tos específico­s que viremos a empregar mais tarde na nossa vida. As exigências da vida são demasiadam­ente variadas para que seja viável esse ensino específico e directo. Parece-me, à parte isso, condenável tratar o indivíduo como uma ferramenta morta. A escola deve

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Goela Hiante é um novo projeto de Adolfo Lúxuria Canibal com Marta Abreu.
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