Um Governo com agenda
OGoverno está empenhado em marcar uma agenda duradoura e de preferência que vá comprometendo a oposição com a ideia de diálogo – diálogo esse que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, sabe que será tirado a ferros. É o jogo do comprometimento que se tem exercido, de parte a parte, com algum savoir-faire na gestão das polémicas, mas em que todos antevemos o que irá acontecer quando verdadeiramente se crisparem.
Primeiro, teremos de passar pela campanha eleitoral para as europeias, numa altura em que o primeiro-ministro, na tomada de posse, há 30 dias, reconheceu que “temos o desafio de executar o mais volumoso plano de investimentos desde a adesão à União Europeia”. Uma oportunidade que Portugal não tem valorizado devidamente, mas que vai ainda a tempo de corrigir a mão.
Será também por causa desta campanha que a Aliança Democrática (AD) tem definido prazos de execução de medidas, tanto na Saúde, Educação, habitação como em outras matérias prioritárias. Não tendo havido tempo, naturalmente, para este Governo apresentar obra, Luís Montenegro marcou prazos e refugiou-se na abertura ao diálogo.
É com esta estratégia – e a aproximação do cabeça de lista Sebastião Bugalho a um eleitorado jovem e esclarecido – que a AD se está a preparar para o confronto eleitoral com um PS, que foi buscar Marta Temido, a ministra mais popular que atravessou, juntamente com o almirante Gouveia e Melo e a então diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, o difícil período da pandemia de covid-19 e que se tornou um dos rostos mais promissores do Partido Socialista.
Acresce ainda um Chega, empoderado por 50 deputados na Assembleia da República, que se tem imposto no espetro da política nacional, fragmentando a direita. São estes agora os adversários que Luís Montenegro terá de enfrentar num período em que o projeto europeu enfrenta várias ameaças sérias.
Segundo, e por último este ano, o grande desafio da política nacional será a discussão do Orçamento do Estado para 2025 (OE25), que irá pôr à prova o ministro das
Finanças, Joaquim Miranda Sarmento. Mas Luís Montenegro terá ainda de esperar pelos resultados das europeias para saber uma de duas coisas: se a estratégia que montou resultou, ou se terá de criar nova estratégia. O OE25 é determinante para o investimento em áreas estruturais como a Saúde, a Educação, a Justiça, as infraestruturas. Só que, até à entrega da proposta, a discussão e a sua aprovação, entre outubro e novembro, o país enfrenta ainda a incerteza do que se irá passar nas Urgências hospitalares neste verão, como será o combate aos incêndios, se se consegue pacificar os protestos das forças de segurança, como irá decorrer o início do próximo ano letivo. São muitos os ministros que vão estar à prova.
A agenda do Governo, a determinada altura, vai ter de começar a apresentar resultados que apontem caminhos inequívocos para as linhas orientadoras do OE25. Se houver forças de bloqueio entre os dois principais partidos da oposição, quem governa terá de fazer escolhas. Neste entretanto, Luís Montenegro vai ter de se desamarrar deste jogo político.
Não tendo havido tempo, naturalmente, para este Governo apresentar obra, Luís Montenegro marcou prazos e refugiou-se na abertura ao diálogo. (...) A agenda do Governo, a determinada altura, vai ter de apresentar resultados que apontem caminhos inequívocos para as linhas orientadoras do OE25.”