Livre quer “estar pronto para governar”. Mas para isso tem a missão de se “manter unido”
Partido está reunido em Almada. Além da nova direção, será também votado o programa para as europeias.
A líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes, pediu união à esquerda.
Orepto foi lançado pelo próprio porta-voz Rui Tavares: o Livre cresceu, assim quer continuar, e passar “de médio a grande” e tem de estar “pronto a governar” num próximo ciclo. Afinal, “as legislativas podem ocorrer antes das autárquicas [2025] ou depois”.
No entanto, é preciso aliar aquilo que o partido “sempre foi”, “de projeto e de proposta”, a uma perspetiva de “implementação, de poder e de governação”. Esse é um trabalho que dá “uma responsabilidade muito maior”.
Discursando no segundo dia (o primeiro com trabalhos presenciais) do 14.º Congresso do Livre, que acontece em Almada, o deputado e fundador do partido pediu ainda uma outra responsabilidade: “Manter o partido unido, sempre vendo a pluralidade como positiva, reforçar a participação ativa das pessoas” e, com isso, “envolvendo-as nos processos internos e externos do partido”.
No entanto, esta abertura à sociedade foi questionada e causou problemas nas últimas primárias do partido (que servem para ordenar os candidatos em cada lista). Com o processo a ser aberto a não-militantes, o candidato Francisco Paupério (que depois se tornou cabeça de lista às europeias) teve uma quantidade significativa de votos, e isso levou a Comissão Eleitoral a levantar dúvidas sobre uma putativa “viciação de resultados”.
Este caso foi, inevitavelmente, alvo de debate no congresso. Em várias intervenções, foi reconhecido que é necessário melhorar este processo. A presidente da Assembleia cessante, Patrícia Gonçalves, afirmou que “o regulamento tem de ser revisto”. Mas, salientou, o problema só surgiu porque o Livre escolheu fazer política de forma diferenciada. “Não há nenhum partido em Portugal com processos mais democráticos do que o Livre. (...) Lembrem-se dos outros que não têm a coragem da abertura que nós temos, não o querem fazer e não o vão fazer”, disse Patrícia Gonçalves.
Por sua vez, o deputado Paulo Muacho reforçou que o partido se deve focar em “melhorar a vida das pessoas” sob pena de, com guerras internas, se perder a proximidade e o apoio popular. “Temos exemplos de partidos que crescem, que conseguem grupos parlamentares, representações a vários níveis e que se perdem em conflitos internos, em lutas pelo poder”, apontou.
Com um foco diferente, a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, pediu união à esquerda para que o próximo Presidente da República seja alguém “que defenda liberdades e direitos cívicos”. “Há quase 20 anos que a direita ocupa o Palácio de Belém, muitas vezes colocando em causa ou tentando adiar e protelar avanços sociais importantes. E se podemos dizer que isto aconteceu por organização e união das áreas da direita, podemos dizer também que a esquerda não se tem organizado como devia”, salientou.
O dia de ontem ficou ainda marcado pelo debate sobre o programa das europeias, com uma emenda sobre o conflito em Gaza a dividir a opinião dos congressistas. A proposta em causa defendia que todos os ataques do Hamas têm servido “para fortalecer a extrema-direita ultraortodoxa e as forças hostis à solução de dois Estados”. Isto acabou por ser alterado, retirando-se a referência ao Hamas.
O Congresso do Livre termina hoje. Além do programa para as eleições europeias, será também votada a nova composição do Grupo de Contacto (direção) do partido.