Diário de Notícias

Carmen, indomável sevilhana, interpreta­da pelo Slovak Dance Theatre

Com libretto e música de dois franceses, a ópera Carmen é uma homenagem global à cultura espanhola e às mulheres andaluzas. No próximo domingo, podemos vê-la num espetáculo de dança moderna vindo da Eslováquia.

- TEXTO MARIA JOÃO MARTINS

Já teve os rostos de Maria Callas, Dorothy Dandrige ou Teresa de Berganza, mas diz a lenda que Carmen, sevilhana de queixo erguido e olhar de fogo, nasceu das histórias andaluzas que a Imperatriz dos franceses, Eugénia (espanhola de Granada, casada com Napoleão III) contava ao escritor Prosper Mérimée. Apaixonado por uma certa ideia romântica de Espanha, este criaria a sua Carmen e relataria o seus amores e desventura­s num folhetim, como era moda na Europa oitocentis­ta, publicado pela primeira vez pela Revue des Deux Mondes. Anos depois, Georges Bizet transformá-lo-ia numa ópera de enorme sucesso e estava criado o mito de Carmen, misto de mulher fatal e de senhora de si mesma, imolada, por isso, na fogueira do patriarcad­o.

O que Lisboa verá no próximo domingo, 19, no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém (às 19.00 horas) não será a ópera de Bizet, mas um espetáculo de dança/performanc­e interpreta­do pelo Slovak Dance Theatre (companhia privada, com apoios pontuais do Estado eslovaco, nomeadamen­te para deslocaçõe­s ao estrangeir­o), com produção da Embaixada da Eslováquia em Portugal.

Como nos conta o encenador, coreógrafo e também autor do libreto, Jan Durovcik: “Gosto muito de encenar narrativas históricas ou mundialmen­te conhecidas de uma forma moderna e optei por Carmenporq­ue a cultura espanhola está muito próxima do temperamen­to eslovaco, já que também nós conhecemos muito bem os ciganos. Quando, pela primeira vez, me deparei com a ópera ou outras formas de géneros e produções deCarmen, tive uma visão clara de como queria montar a minha encenação, usando, no entanto, expressões de movimento modernas.”

Apesar de algumas liberdades assumidas (como a introdução de elementos do folclore eslavo, nomeadamen­te na personagem de Escamillo), a sedução de Carmen apoderou-se do encenador: “O que considero mais atraente é a história em si, bem como o facto de o comportame­nto das personagen­s estar muito próximo daquilo com que me identifico, a filosofia e o temperamen­to da nação espanhola. Mas também me interessam temas como a divisão de classes, o sentido de fidelidade e do erro cometido, bem como o mito da bela cigana, Tudo isto está, afinal, muito próximo da realidade que vivemos.”

É com naturalida­de que encara a passagem de um libreto de ópera para dança moderna: “Em primeiro lugar, devo dizer que abordo todos os libretos, em geral, com enorme humildade, não importa se estou encenando Mozart, Stravinsky, Verdi ou Smetana, e tive a mesma abordagem aqui. Claro que este é apenas um excerto do que considero mais importante, mas também do que achei mais adequado para a minha encenação. Então, ao falar dos libretos, procuro ser fiel à história original respeitand­o os autores e homenagean­do a obra. De qualquer forma, para mim o mais importante é a inteligibi­lidade dos meus trabalhos pelo público.”

Segundo o embaixador da Eslováquia em Portugal, Tibor Králic, “estamos muito orgulhosos pelo nosso envolvimen­to neste espetáculo, que está a ter muito sucesso em todo o lado por onde tem passado. Há alguns anos, eu era embaixador na Finlândia, e pude constatar o entusiasmo que esta versão da Carmen suscitou em Hämienlinn­a, um centro cultural muito importante, onde nasceu o compositor Sibelius.”

O Slovak Dance Theatre já apresentou Carmen em Nova Iorque, Tóquio, Londres, Roma, Madrid e Cidade do México, com boas críticas em jornais como The New York Times, China Daily ou El País. A 1 de Setembro, Jan Durovcik apresentar­á no Teatro Tivoli, em Lisboa, o espetáculo Gypsies Go to Heaven, baseado na história de vida do realizador moldavo Emil Loteanu. Os bilhetes para Carmen podem ser adquiridos na bilheteira do CCB ou no site da Ticketline.

O que Lisboa verá no próximo domingo, 19, no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém (às 19.00 horas) não será a ópera de Bizet, mas um espetáculo de dança/performanc­e.

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O Slovak Dance Theatre já apresentou Carmen em Nova Iorque, Tóquio, Londres, Roma, Madrid e Cidade do México.

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