Diário de Notícias

Tocar Joly Braga Santos no seu centenário

Considerad­o um dos nomes maiores da composição do século XX português, Joly Braga Santos nasceu há 100 anos. Parte da sua imensa obra será recordada amanhã e segunda em Lisboa.

- TEXTO MARIA JOÃO MARTINS

Se mais não houvesse (e há muito), Joly Braga Santos ficaria para a História como o compositor português que declinou o convite de Nino Rota para trabalhar na Cinecittà. Acreditand­o que um artista fora do seu país estava desenraiza­do e não produziria obra realmente original, voltou sempre à sua Lisboa, onde nasceu a 14 de Maio de 1924. Para assinalar o centenário do nascimento do compositor, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa apresentam no próximo domingo, no Centro Cultural de Belém, a sua Sinfonia n.º 4, op 16, em diálogo com o concerto para violino e orquestra n.º 1, op. 10 ,de Prokofiev.

O espetáculo, marcado para as 19.00 horas, será antecedido por uma conversa com o compositor (e discípulo de Joly Braga Santos) Alexandre Delgado e Cesário Costa (maestro e programado­r).

Na 2ª feira, 27, mas no Teatro Tivoli BBVA, será a vez da Orquestra Metropolit­ana de Lisboa subir ao palco, com as obras Concerto para Cordas em Ré; Suíte de bailado Encruzilha­da e Staccato Brilhante, de Braga Santos, e ainda a Suite Checa, de Antonin Dvorák. E mais se seguirá na homenagem ao artista que o maestro Álvaro Cassuto considera (na biografia de Joly por si coordenada, editada pela Caminho em 2018) “um dos maiores compositor­es da nossa História da Música e o maior sinfonista português de todos os tempos.”

Nascido na casa da família na Rua Pinheiro Chagas, em Lisboa, José Manuel (na verdade, Joly é epíteto herdado da mãe) Braga Santos cedo demonstrou uma atração vincada por instrument­os musicais. Com menos de 20 anos, compõe as primeiras obras como Nocturno para Violino e Piano (1942), interpreta­da por Silva Pereira (violino) e João de Freitas Branco (piano), que seria o Opus 1 do seu catálogo e Cinco Canções sobre Poemas de Fernando Pessoa (1942/43, entre várias obras de canto e piano.

Também deste período juvenil é a primeira obra orquestral: a

O compositor português Joly Braga Santos.

Abertura Sinfónica n.º 1, estreada em 1946 pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, sob a direção de Pedro de Freitas Branco, seguindo-se a 1.ª Sinfonia , estreada em 1947.

Até aos 26 anos, Joly Braga Santos concluirá quatro sinfonias, a última das quais dedicada à Juventude Musical Portuguesa, de que foi membro fundador e onde conheceu a sua mulher, Maria José Falcão Trigoso, com quem teve duas filhas: a investigad­ora Maria da Piedade e Leonor, interprete da Orquestra Gulbenkian desde 1988.

Notado pela crítica especializ­ada, em 1948, Joly foi convidado a ingressar, como colaborado­r fixo, no Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional, onde se manteve até à extinção do mesmo, em 1954.

Também nesse ano de 1948, conseguiu deslocar-se pela primeira vez ao estrangeir­o, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, para frequentar o Curso Internacio­nal de Direção de Orquestra emVeneza, sob a orientação do maestro alemão Hermann Scherchen. Na sequência desta formação, seria convidado por Ino Savini para desempenha­r as funções de maestro assistente da Orquestra Sinfónica do Conservató­rio de Música do Porto.

Já casado, voltará ao estrangeir­o, com uma nova bolsa do Instituto de Alta Cultura, partindo para Roma em junho e estudando no Conservató­rio com Giulio

Mortari e Godofredo Petrassi. Esteve também no estúdio experiment­al de Gravesano, com António Votto. Continua ainda as aulas particular­es de direção com Scherchen, em Lugano, na Suíça.

Em maio de 1959 estreia, com grande sucesso, a ópera Mérope, no Teatro Nacional de São Carlos, e no ano seguinte o Concerto para Viola, sob a sua direção. Em 1961, antes de regressar definitiva­mente a Portugal, dirige a Orquestra Scarlatti, de Nápoles, para a RAI. Mas declinará o convite de Nino Rota, autor de bandas sonoras de filmes míticos como O Padrinho, Amarcord ou La Dolce Vita, para se fixar na Cinecittà, em Roma.

Em 1982, numa entrevista ao jornalista e escritor João Aguiar, publicada no jornal O País, diria: “Acho que a obra mais importante que escrevi foi a Trilogia das Barcas, uma ópera sobre três autos de Gil Vicente. E aqui voltamos à questão das raízes nacionais: a língua é importantí­ssima pois determina o ritmo natural da música.”

A última obra que estreou em vida foi Staccato Brilhante, trabalho orquestral, apresentad­o no concerto inaugural da Nova Filarmonia Portuguesa, a 22 de maio de 1988, e composta a pedido do seu amigo Álvaro Cassuto. No dia 18 de julho sofreu uma embolia cerebral fulminante e morreu aos 64 anos, na sua casa em Lisboa. A sua obra, no entanto, continua a dar frutos.

Vem aí a época dos exames nacionais.Verdadeiro enxame. Tempo de algum nervosismo, de alguma ansiedade. Justificam-se esse nervosismo e ansiedade nos alunos e nos professore­s? Os próprios encarregad­os de educação, por que razão ficam, nestas três semanas ansiosos e nervosos? Há, talvez, uma explicação para tais estados de espírito: no fundo, no fundo, porque todos sabemos que estes exames podem revelar a ignorância mais soez de quem andou 12 anos na escola a aprender nada. O primeiro exame é a 14 de Junho. De Português. Refiro-me a esse.

Como toda a gente sabe, a palavra “dificuldad­e” foi substituíd­a, neste tempo de acefalia geral, pela palavra “desafio”. Uma vez que os pré-universitá­rios não podem ser confrontad­os com dificuldad­es, o Exame Nacional de Português será, pela enésima vez, um convite a que os examinando­s ultrapasse­m certos “desafios”. Assim se retira a carga dramática a esse exame. Diga-se, já agora, que para o ano, em 2024/2025, o Exame Nacional de Português será (e bem) obrigatóri­o para todos os alunos de todas as áreas científica­s. Não será como este ano, em que só alguns o irão fazer (péssima ideia). Essa mudança é essencial porque – sim, continua a ser verdade – saber escrever português e saber interpreta­r texto literário são competênci­as sem as quais qualquer aluno, em bom rigor, não deveria seguir estudos universitá­rios. Porém, como é quase provável, dado que o Exame Nacional de Português será obrigatóri­o para o ano, o IAVE e os pedagogos do ressentime­nto patológico contra a Literatura irão, com a anuência do Ministro da Educação e da sua equipa, “desafiar” os alunos do ano 24-25 a que façam um exame com “desafios” de escrita e de leitura muito modernos, muito científico­s. Nada de grandes redacções, nada de perguntas que exijam pensar: o Exame Nacional – e o deste ano irá prová-lo à saciedade – deve ter em conta o sucesso que se pretende atingir.

Pois bem, para haver sucesso nada mais fácil: pouca literatura e muitos exercícios de cruzinhas, verdadeiro­s e falsos, preenchime­nto de espaços em branco, coisas assim – acessíveis, muito inteligent­es. Todas essas tarefas, claro, ancoradas num desígnio nacional: não traumatiza­r os alunos que (coitados!) estão muito nervosos com o acesso à Universida­de. E, claro está, a autorizar as re

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