Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
AgroGrIN Tech Restos da fruta viram produtos nobres
Desperdícios de vegetais dão origem a enzimas e vitaminas, altamente valorizadas pelas indústrias farmacêuticas, de cosmética e nutracêutica.
Indústrias que processam frutas e vegetais vão poder ver nos resíduos orgânicos nelas produzidos uma mais-valia, graças a uma tecnologia desenvolvida na Escola Superior de Biotecnologia e que permite extrair desses desperdícios ingredientes de alto valor económico, como enzimas, vitaminas e polifenóis.
A inovação surgiu no âmbito do doutoramento de Débora Campos, no início de 2015, e tudo começou pelo ananás. Agora, até já tem uma patente europeia aprovada na primeira instância, o que é “muito bom sinal”, diz a promotora do AgroGrIN Tech, assim se designa o projeto, integrado na primeira sessão do programa Biotech.
“Utilizamos resíduos das indústrias que seriam depositados em aterros e agregamos valor económico”, explica Débora Campos, para mostrar como a solução se enquadra na tendência atual de apostar na economia circular. “Esta tecnologia é uma alternativa às atualmente aplicadas na in- dústria produtora de enzimas, pois dispensa o uso de produtos químicos poluentes e potencialmente tóxicos, cujos resíduos se encontram normalmente presentes neste tipo de produtos (enzimas)”, lê-se numa nota explicativa do projeto.
Por outro lado, a investigadora de 29 anos, nascida em Barcelos, aluna de doutoramento em Biotecnologia e que conta na equipa do projeto com Ezequiel Coscueta e Manuela Pintado, mostra outro motivo para o seu entusiasmo: “Falta transferência de conhecimento científico do laboratório para a indústria, e este projeto vem exatamente neste sentido. Até à data, a aceitação pela comunidade científica e pelas indústrias tem sido ótima e pretendemos continuar a trabalhar neste sentido.”
A tecnologia ganhou ainda outra importância quando, enquanto ideia de negócio, foi selecionada para o programa europeu de aceleração de negócios EIT Food (Food Accelerator Network), na área alimentar, no qual apenas participam 30 ideias de negócio.
O AgroGrIN Tech está agora a dar-se a conhecer às empresas, para arranjar parcerias estratégicas, por forma a crescer e posicionar-se no mercado. Os produtos que advenham da aplicação da tecnologia terão como mercado final as indústrias farmacêutica, nutracêutica e cosmética, enumera a investigadora.
Atualmente, e a par com as restantes tarefas, estão a decorrer duas provas de conceito com empresas nacionais, uma da tecnologia desenvolvida e outra do primeiro produto extraído.
Débora Campos reconhece, no entanto, que a concorrência pode ser forte: “O mercado é muito agressivo, mas somos pioneiros na União Europeia. Temos a vantagem de ter uma tecnologia inovadora, com matéria-prima a custo zero.”
E reforça em favor da sua causa: “A nossa tecnologia permite ser verde, rápida e barata, aliada a uma elevada qualidade dos produtos extraídos, com elevado grau de pureza.”
Neste momento, estão a decorrer duas provas de conceito com empresas nacionais: uma da própria tecnologia AgroGrIN Tech e outra do primeiro produto extraído.