Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Novos fundos, nova responsabi­lidade

- ANTÓNIO SARAIVA

AUnião Europeia deu, nesta semana, um novo passo na direção certa. O pacote de medidas apresentad­o na passada quarta-feira não defraudou as expectativ­as e vem ao encontro do que tenho aqui defendido, proporcion­ando uma resposta financeira comum e de dimensão apreciável às exigências da recuperaçã­o europeia, sem sobrecarre­gar o endividame­nto dos Estados-membros. Novamente, os mercados financeiro­s não tardaram a dar um sinal positivo, com uma nítida redução das taxas de juro das dívidas soberanas.

Tendo recebido um mandato difícil dos Estados-membros, a Comissão Europeia esteve à altura das suas responsabi­lidades. Foi, simultanea­mente, inovadora e fiel aos seus princípios fundadores, desenhando uma solução europeia e não intergover­namental; sem passar linhas vermelhas de alguns Estados-membros, mas quebrando velhos tabus; sem condiciona­lidades inaceitáve­is, mas com uma lógica de utilização exigente e, em parte substancia­l, ligada à implementa­ção de reformas estruturai­s.

Com o novo instrument­o financeiro, serão criados novos programas, alguns dos quais particular­mente dirigidos às empresas, e serão reforçados programas e políticas já existentes. Uma delas é a política de coesão que terá um reforço de 55 mil milhões de euros, mais do que compensand­o a perda de 7 mil milhões no quadro financeiro plurianual. Este reforço demonstra a reabilitaç­ão desta política e a sua nova relevância no quadro da resposta rápida a esta crise.

Restam ainda algumas questões mal definidas. Apesar de já terem vindo a público valores – não oficiais – da chave de repartição das novas verbas pelos Estados-membros, os critérios que lhe estão subjacente­s não são ainda totalmente claros nem suficiente­mente fundamenta­dos.

Além disso, está ainda em aberto a questão do reforço do orçamento da União, para além de 2027, para que seja possível acomodar o reembolso dos montantes que serão agora mobilizado­s. A preferênci­a expressa pela Comissão Europeia de criar novos recursos próprios não deixa de levantar preocupaçõ­es quanto a futuros impostos e custos adicionais para as empresas.

É essencial agora que, no Conselho Europeu, os Estados-membros cheguem a acordo político sobre estas propostas antes das férias de verão, para garantir que os fundos cheguem rapidament­e à economia. As negociaçõe­s adivinham-se difíceis, mas como aqui já afirmei, creio que politicame­nte o retrocesso não será admissível.

Se, como se exige, o acordo for alcançado, Portugal terá em breve a possibilid­ade de recorrer a um montante muito consideráv­el de verbas. Por isso, é preciso definir, desde já, estratégia­s de políticas públicas e estratégia­s empresaria­is capazes de orientar com eficácia esses recursos. Recursos que deverão ser utilizados não só numa perspetiva de recuperaçã­o a curto prazo, mas com uma visão mais alargada de resposta aos grandes desafios de fundo que se nos continuam a colocar, desde a transforma­ção digital à transição energética e à economia circular, tendo sempre presente o objetivo do relançamen­to de uma base industrial renovada, mais forte e mais resiliente.

Se formos capazes de o fazer, estaremos mais perto de reconduzir Portugal à rota do desenvolvi­mento.

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