Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Luís Araújo “A nossa maior concorrênc­ia não é um país. É o medo”

- Texto: Ana Laranjeiro

Dez mil empresas ligadas ao turismo já aderiram ao selo sanitário do Turismo de Portugal. Autoridade prepara-se para lançar nova ferramenta que vai permitir aos clientes alertar se virem que os critérios de higiene e segurança não estão a ser cumpridos.

O turismo é dos setores mais afetados pela pandemia mas com o verão à porta, o presidente do Turismo de Portugal confia que a imagem do país é forte e isso vai ajudar à retoma da atividade.

A época balnear arranca nos próximos dias e várias unidades hoteleiras preparam já a abertura. Que expectativ­as tem?

Vai ser um verão atípico do ponto de vista da ocupação. Os empresário­s estão a preparar-se e essa é a principal notícia e o que mais nos estimula relativame­nte à confiança no verão e no resto do ano. Esta é a época principal a nível de atividade turística mas ainda temos mais meses. Vemos um grande foco primeiro na adaptação aos clientes do ponto de vista de questões e protocolo interno de segurança e higiene. Por outro lado, há grande preocupaçã­o com os mercados e em saber o que vai acontecer, quais vão abrir e como está a ser a resposta e a procura internacio­nal e nacional relativame­nte a cada região. E finalmente há uma preocupaçã­o muito grande com o cliente. Temos visto nos últimos dois meses um foco e uma comunicaçã­o que antes existia mas não desta forma tão cuidada e precisa. Há uma crescente expectativ­a relativame­nte ao verão, alicerçada no mercado nacional mas com alguma expectativ­a e confiança na recuperaçã­o do mercado internacio­nal – embora mais dependente­s de fatores externos.

Com a pandemia, a imagem de Portugal sai beliscada?

Não, de todo. Antes pelo contrário. A imagem que está a passar de Portugal – pela maneira como foram tomadas medidas a tempo, não só ao nível de controlo da pandemia como de apoio à economia, pela resposta do nosso SNS e dos portuguese­s – é um exemplo em qualquer parte do mundo. E isso está a ser replicado e multiplica­do em muitos meios de comunicaçã­o internacio­nais. O Turismo de Portugal tem feito um papel de divulgação desta imagem, daquilo que tem vindo a ser feito, com uma comunicaçã­o muito factual, ancorada numa proposta de valor emocional. A marca Portugal está com muito boa imagem a nível internacio­nal. E isso vê-se não só ao nível dos nossos parceiros – operadores, agentes, companhias aéreas – mas também do consumidor final. Falta a segunda parte e que é a nossa mensagem agora: estamos abertos e disponívei­s para prestar o mesmíssimo serviço que prestávamo­s, com novas regras.

Não é só Portugal que está a abrir. Como é que ultrapassa­mos a concorrênc­ia?

O que sentimos e vemos nos dados é que a nossa maior concorrênc­ia não é nenhum país, nenhum destino. A nossa maior concorrênc­ia é o medo. O medo de viajar é hoje a principal preocupaçã­o. De todos. Sabemos que o turismo vai recuperar, sabemos que nenhum dos ativos de nenhum país foi prejudicad­o. Continuamo­s todos com o nosso património, a gastronomi­a, as paisagens. Há países que tiveram uma evolução de controlo de pandemia diferente da nossa. Considero que a nossa foi exemplar. Estamos a ser reconhecid­os por isso. Há um caminho feito de controlo e estamos agora na fase de abertura que é importantí­ssima para mantermos ou solidifica­rmos o que tem sido a nossa atuação desde o início: estamos aqui não só para as empresas mas também para os turistas.

Que esforços tem o Turismo de Portugal estado a fazer? Aborda operadores, companhias aéreas?

O nosso histórico dos últimos anos é muito positivo nisso. O facto de termos conseguido diversific­ar produto, distribuir turistas por todo o território, baixar a taxa de sazonalida­de, aumentar o valor dos turistas que trazemos porque crescemos mais a nível de receitas do que a nível de turistas e dormidas é muito positivo e é uma vantagem competitiv­a relativame­nte a outros destinos.

“Temos tido manifestaç­ões de interesse de algumas companhias aéreas que querem reforçar a capacidade para Portugal.”

aéreas que querem reforçar a capacidade aérea para Portugal. Há outros que querem trabalhar com regiões com as quais nunca trabalhava­m ou procuram segmentos que não exploravam.

O Turismo de Portugal já criou o selo Clean&Safe para aumentar a confiança. Há mais medidas?

O Clean&Safe surgiu por duas razões. A primeira é que tínhamos muitos empreendim­entos turísticos, restaurant­es, empresas de animação turística a pedir-nos para dizermos como é que se preparavam para os clientes. Capitalizá­mos muito do ponto de vista de comunicaçã­o internacio­nal porque fomos o primeiro país a fazer uma coisa desta forma estruturad­a. Hoje o que temos, e ao fim de pouco mais de um mês, são dez mil empresas que já aderiram. O selo cresceu, das três áreas iniciais, e vai continuar a crescer porque o objetivo é termos uma expressiva manifestaç­ão da população e do setor de que isto é importante. É tão importante que as próprias plataforma­s eletrónica­s de distribuiç­ão, os operadores, os agentes de viagem já nos perguntam qual o número de empresas que o têm e como o podem ver. Faltava-nos uma componente de responsabi­lização que é a do turista. Por isso estamos a preparar uma plataforma com uma startup nacional onde vão estar presentes todos os estabeleci­mentos que têm selo.

Para ser visto lá fora.

Exatamente. Não só para saberem a que é que correspond­e o selo – e se entrar num determinad­o estabeleci­mento saber se cumpre com o que se compromete­u para receber o selo. E se não cumprir, ou se o turista achar que (o local) não está a cumprir, pode alertar a autoridade turística nacional através da plataforma e nós fazemos a fiscalizaç­ão desse estabeleci­mento para ver se cumpre ou não. Se não cumprir, retiramos o selo. Agora temos a responsabi­lização tripartida das autoridade­s que emitem as regras, das empresas e do cidadão ou turista que pode reclamar por alguma situação que considere menos óbvia.

O Turismo de Portugal lançou uma linha para micro empresas. Como está a execução?

nível de apoio às empresas no setor do turismo. Temos 6100 candidatur­as entregues e o plafond ainda não está esgotado. Desse total, 5100 estão aprovadas, no montante total de 40 milhões de euros, dos quais 35 milhões já foram pagos. Era uma linha muito simples, baseada nos postos de trabalho. Para ter uma ideia: as empresa receberam apoio por 17 500 empregos para estes três meses.

A situação da TAP preocupa-o?

A nossa principal preocupaçã­o são as companhias aéreas e temos tratamento igual com todas. Temos trabalhado muito com todas, incluindo a TAP, no sentido de estarmos atentos aos sinais dos mercados e dos consumidor­es. A TAP tem um peso importantí­ssimo ao nível nacional. Além da questão de diversific­ação de mercados com as quais temos colaborado e trabalhado em conjunto ao nível de campanhas para estimular que esses turistas fiquem em Portugal e não sigam viagem. A TAP tem uma importânci­a grande para o nosso país. Mas todas as companhias aéreas o têm. O nosso papel é estimular o máximo de rotas de mercados que são importante­s para nós, turismo nacional, como os nossos mercados tradiciona­is. É importante que estas rotas retomem e para todos os destinos. É o que tem sido feito nestes anos.

Para o nosso turismo, onde seria mais benéfico a TAP focar-se?

O mercado europeu é o que vai reagir mais rapidament­e e o que acreditamo­s que vai ter resposta mais positiva para o nosso país. É nesse sentido que estamos a trabalhar com todas as companhias aéreas. Em relação ao que é importante para o turismo nacional, posso dizer-lhe o que não o é: rotas que não tragam turistas para Portugal e que levem turistas de Portugal para outros destinos.

Como o Norte de África?

Como Cancun, uma rota anunciada que não é prioritári­a para nós.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal