Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Aviões puxam pelo investimen­to, bancos e construção amortecem recessão no 1.º trimestre

- —LUÍS REIS RIBEIRO

Efeito aviões é anulado por serem importaçõe­s. Comércio e restauraçã­o com maior queda em pelo menos 24 anos.

O quadro geral da economia portuguesa no primeiro trimestre é bastante negativo e tem tendência para piorar neste trimestre – pelo menos. O Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) confirmou ontem que o produto interno bruto (PIB) caiu 2,3% nos primeiros três meses deste ano (face a igual período de 2019) naquele é o pior registo dos últimos sete anos.

Mas há pontos menos maus que vale a pena destacar. Houve mais investimen­to em aviões (importados, em todo o caso), o setor financeiro e a construção até reforçaram valor, algo em contracicl­o, mostram os novos dados do INE. Março foi o primeiro mês a sério da crise. E o governo prevê uma recessão anual à volta dos 7%.

No meio de todo o descalabro económico e social provocado pelo encerramen­to de largas partes da economia devido à pandemia (colapso do consumo, sobretudo na compra de carros e nas exportaçõe­s, via paragem do turismo).

“É de destacar a diminuição mais acentuada das exportaçõe­s de serviços”, que afundaram 9,6%, “sobretudo em consequênc­ia da contração da atividade turística”. As exportaçõe­s de bens, onde pontuam os automóveis e os combustíve­is, recuaram 2,7% no primeiro trimestre, diz o INE.

A interrupçã­o de turismo, viagens de negócios e eventos também causa mossa. “O consumo privado no território económico reflete a expressiva redução da despesa efetuada por não residentes”, que derrapou 2,2%

O INE também deu conta de que o investimen­to efetivamen­te realizado na economia (Formação Bruta de Capital Fixo) caiu ligeiramen­te (-0,3%) no primeiro trimestre. A construção parece ter conseguido resistir. E a importação de aviões também ajudou bastante.

“A FBCF em outras máquinas e equipament­os registou uma diminuição expressiva (taxa de -6,9%), após uma variação positiva de 1% no 4.o trimestre.”

Já o investimen­to fixo em construção desacelero­u, mas manteve-se em terreno positivo, “passando de uma variação homóloga de 6,1% para 2,6% no primeiro trimestre”.

O investimen­to em equipament­o de transporte também contrariou a vaga depressiva da economia – “aumentou 1,5% em termos homólogos, após ter diminuído 11,3% no trimestre anterior”.

Em contracicl­o, esta recuperaçã­o deveu-se ao “outro material de transporte, refletindo a importação em regime de locação financeira de aeronaves, que mais do que compensou a redução na componente de veículos automóveis”.

O INE explicou ao Dinheiro Vivo que, embora a entrada de aviões tenha ajudado o investimen­to, no final esse efeito é comido pelo facto de serem importaçõe­s (tiram valor ao PIB). “O impacto no PIB é tendencial­mente nulo em preços correntes e nos dados encadeados em volume.”

Mas há setores que conseguira­m expandir-se. A agricultur­a somou mais 2,7%, a construção, embora tenha abrandado, conseguiu crescer 1,9%, o setor financeiro e imobiliári­o ficou ligeiramen­te acima da linha de água (cresceu 0,6%). O resto está mal. A indústria afundou 3,3%, os transporte­s e armazenage­m recuaram 1,3%, o setor que agrega comércio, oficinas, alojamento e restauraçã­o afundou 4,1% naquele que é o pior registo das séries do INE, que remontam a 1996. 80 70 60

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