Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Os planos em período de retoma

- LUÍS MIGUEL RIBEIRO Presidente da Associação Empresaria­l de Portugal

Esta semana tivemos notícias de dois novos planos que, só aparenteme­nte, nada têm de comum: o plano de retoma de voos da TAP e o plano europeu de recuperaçã­o económica. Como referi há dois meses neste espaço, ninguém tem dúvidas da necessidad­e urgente do lançamento de um programa de recuperaçã­o da economia europeia que permita assegurar a proteção das empresas, dos postos de trabalho, do rendimento das famílias e garantir uma saída rápida desta recessão profunda.

A Europa demonstra estar agora à altura dos fundamento­s da sua existência, com a proposta de 750 mil milhões de euros: dois terços sob a forma de subvenções e o restante de empréstimo­s. Para Portugal, apontam-se 26,3 mil milhões de euros, o que correspond­e a 12,5% do PIB. Estamos perante uma ordem de grandeza semelhante à dotação global dos fundos do Portugal 2020.

É certo que a Europa tem ainda pela frente um processo duro de negociação política, mas creio que a posição do eixo franco-alemão é um ponto a nosso favor. Falta também conhecer as condições, mais ou menos exigentes.

Agora, Portugal terá também de estar à altura, alocando verbas àquilo que constituem os desígnios estratégic­os do país. O apoio ao investimen­to privado, em particular ao aumento das exportaçõe­s e substituiç­ão de importaçõe­s, à valorizaçã­o da oferta nacional, à reindustri­alização, fortemente indutora da economia circular, e à (re)qualificaç­ão dos ativos, tendo em conta a digitaliza­ção, são áreas fundamenta­is.

É por isso que olho com enorme desagrado e preocupaçã­o para o outro novo plano, o da retoma de voos da TAP, em que apenas pouco mais de 10% são a partir do Porto. A TAP é uma companhia de bandeira nacional e, portanto, é lamentável que negligenci­e o aeroporto Francisco Sá Carneiro, com uma importânci­a significat­iva no noroeste peninsular, e negligenci­e o norte do país – a região com mais forte vocação industrial, que mais emprega e que mais exporta.

Reafirmo: a mobilidade de pessoas e bens é essencial no processo de recuperaçã­o e desenvolvi­mento do país, especialme­nte na crescente e desejável internacio­nalização da economia.

É pena que não estejamos todos a remar para o mesmo fim, isto é, para que o país consiga rapidament­e alcançar uma recuperaçã­o bem-sucedida!

No momento em que escrevo este artigo há indícios de que a TAP já terá reconsider­ado a sua decisão. A ver vamos!

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