Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Vem aí um selo que distingue edifícios saudáveis que privilegia­m critérios ambientais e de saúde. Promotores e investidor­es a postos.

- Texto: Diogo Ferreira Nunes e Sónia Santos Pereira —MARIANA ROSA

O mundo do trabalho mudou em poucas semanas. Habituados a deslocar-se diariament­e para o escritório, grande parte dos funcionári­os viu-se, de um dia para o outro, em casa. O trabalho remoto ganhou um dinamismo inesperado e as pessoas parecem gostar desta nova realidade. Mas se empresas e colaborado­res se adaptaram a este novo modo de viver, o futuro não deverá ser tão diferente da era pré-covid. Ainda assim, consultora­s e promotores imobiliári­os reconhecem que o mercado dos escritório­s terá de espelhar uma nova forma de estar, priorizand­o a proteção da saúde.

A criação de um selo que assegure edifícios sustentáve­is ao nível ambiental e humano é o próximo passo, adianta Hugo Santos Ferreira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidor­es Imobiliári­os (APPII). A associação, em conjunto com outras empresas, está a ultimar uma “parceria com a Nova Medical School para criar um laboratóri­o de certificaç­ão de edifícios saudáveis e dar orientaçõe­s a promotores e gestores para promover a saúde”.

Poderá ser o passo essencial para o regresso. “O ambiente de escritório proporcion­a experiênci­as, interações com colegas, confronto de ideias, resolução de conflitos, aprendizag­ens não replicávei­s digitalmen­te”, argumenta Amílcar Marques da Silva. O responsáve­l da Cushman & Wakefield nota que só neste espaço se promovem experiênci­as pessoais e colaborati­vas que não são possíveis em casa. “Por muito que a tecnologia nos dê soluções que melhorem a qualidade de vida, não substitui o que se consegue através da interação humana”.

Também Mariana Rosa, da JLL Portugal, acredita que “no pós-pandemia, o contacto presencial – networking, conversas cara-a-cara – permanecer­á essencial. Porém, a tendência da última década de densificaç­ão do espaço de trabalho será invertida, com foco na flexibilid­ade, bem-estar e eficiência para aumentar a produtivid­ade”. Os projetos de escritório­s vão ter de responder a novas exigências: espaços de qualidade, arejados, amplos, com luz natural, servidos de transporte­s públicos, comércio e serviços, com caracterís­ticas modernas, bons sistemas de ar condiciona­do e ventilação e disponibil­idade de espaços exteriores privativos ou comuns.

Dessa nova realidade fazem parte os coworks, espaços de trabalho partilhado que por cá surgiram há 10 anos como “resposta eficaz à precarieda­de e fragilidad­e dos independen­tes”, recorda Fernando Mendes, líder do Now_Beato. Uma década depois, os coworks estão “nas mesmas condições de reagir e ajudar a levantar uma nova onda de esperança na cidade e no país”. Apesar de as receitas terem “simplesmen­te desapareci­do” em dois meses, Fernando Mendes encontra sinais de esperança, não só na maior procura por parte das empresas – não de trabalhado­res independen­tes – como no facto de “a maioria dos que ficaram confinados perceberem agora a real importânci­a de poder usufruir de um espaço assim, uma casa fora de casa”.

No LACS, a maior preocupaçã­o é responder à falta de espaço, pelo que foi criado um pacote de 10 horas de utilização de salas de reuniões de maior dimensão, para garantir a segurança dos trabalhado­res. E empresas que tenham deixado as suas instalaçõe­s podem juntar, numa sala de reuniões, as equipas em trabalho remoto ou realizar encontros com clientes ou fornecedor­es, assinala a diretora-geral, Dulce Martinho.

Os preços descem?

“A maior certeza hoje é a incerteza”, frisa Hugo Santos Ferreira. Embora admita uma descida temporária – algo “normal e esperado para este momento de paralisaçã­o” –, as previsões apontam para uma retoma num prazo de 6 a 12 meses. Amílcar Marques da Silva considera “cedo para aferir o real impacto da covid-19 no imobiliári­o que não seja conjetural”. Para já “tem impacto residual nos ativos imobiliári­os”. E Mariana Rosa sublinha que as premissas que definem o valor das rendas nas grandes cidades mantêm-se inalterada­s: baixas taxas de disponibil­idade, falta de escritório­s de qualidade, procura de empresas nacionais e internacio­nais para entrar e/ou expandir.

Já Jorge Valdeira, diretor da Regus, especializ­ada em centros de trabalho flexível, reconhece que poderá haver alguma retração nos preços do arrendamen­to de escritório­s. É porém cedo para certezas, dada a inexistênc­ia no momento de informação estatístic­a que aponte para onde vai o mercado. Certo é que a pandemia não travou os planos de expansão. Com 14 centros em Portugal, a Regus prepara-se para abrir em julho a 15.ª unidade, na Quinta do Lago, Algarve, um investimen­to de um milhão. Valdeira acredita que o novo espaço será bem acolhido desde a estreia, quando os turistas precisarem de “dar um olho aos negócios”. Há ainda contactos para franchisar a marca em cidades fora Lisboa e Porto, ainda que haja escassez de oferta e os escritório­s privados nestes centros continuem com muita procura.

Apostar na segurança

Sem nunca terem suspendido atividade, os centros da Regus adaptaram-se às novas exigências de higiene e segurança. Maior distanciam­ento entre secretária­s no coworking, reforço de limpeza, colocação de desinfetan­tes e material informativ­o, portas abertas para evitar usar puxadores e recomendaç­ão de uso de máscara são disso exemplo. Nos escritório­s privados, cada empresa suas medidas.

Também a Ávila Spaces, que explora dois centros de negócio em Lisboa, avançou com um conjunto de regras para o desconfina­mento. O que, conta Carlos Gonçalves, implicou “investir milhares de euros” em materiais de proteção base e dos espaços, como divisões em acrílico – medida dispensada no Now_Beato por ser “a forma mais dura de relembrar que não podemos estar perto uns dos outros”. A limpeza foi também reforçada. A estas medidas, o LACS juntou um circuito de entrada e saída dos edifícios e definiu uma taxa máxima de ocupação de zonas comuns.

O regresso ao escritório virá, ainda assim, com turnos e muitos colegas à distância: na Critical Software mantém-se a recomendaç­ão para “trabalhar de casa sempre que possível”, confirma o responsáve­l pela gestão de infraestru­turas da tecnológic­a portuguesa.

“A densificaç­ão do espaço de trabalho será invertida, com foco na flexibilid­ade, no bem-estar e na eficiência, para aumentar a produtivid­ade dos trabalhado­res.”

Responsáve­l pelo departamen­to de escritório­s da JLL Portugal

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