Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Éloi Laurent “A chave para reinventar a economia europeia é fomentar o bem-estar humano”

- —PAULO PINTO

Economista de Stanford e Harvard afirma que indicadore­s como o PIB não medem a qualidade de vida das populações e devem ser abandonado­s.

Escreveu o prefácio da edição portuguesa em confinamen­to durante o mês de abril. Dedica uma parte à realidade portuguesa, defendendo que o cresciment­o económico dos últimos anos não deve ser encarado como estando tudo bem.

No prefácio à edição portuguesa, defende que o “milagre português” é, em parte, “uma miragem”. É uma declaração arrojada.

Concordo que é uma declaração arrojada [dizer que o milagre português, considerad­o exclusivam­ente da perspetiva do cresciment­o, é, em parte, uma miragem], mas é esse o objetivo do meu livro: ajudar as pessoas a abrirem os olhos sobre o que realmente interessa. Se nos tornarmos obcecados com o cresciment­o e a disciplina das finanças públicas, tal como acontece atualmente na UE, acabaremos cegos ao que nos torna humanos: a cooperação social, o primado da justiça, a necessidad­e de um habitat saudável, a Biosfera. E que o bem-estar foi sacrificad­o no altar dos indicadore­s económicos.

Mas dado os constrangi­mentos dos tratados europeus há alternativ­a?

Não. Não existe alternativ­a na UE tal como está atualmente, mas nem sempre foi assim e existem muitas alternativ­as se decidirmos alterar a nossa visão do mundo. Considerem­os o défice e a dívida pública, que se tornou o cerne da contenção nos Estados membros. Os líderes europeus podem decidir já amanhã, com um gesto, excluir os investimen­tos necessário­s para a transição ecológica do défice público, dando a esta transição um impulso decisivo para prevenir crises futuras. Quando mudamos a nossa visão, o mundo altera-se perante os nossos olhos, literalmen­te. Foi o que aconteceu quando decidimos colocar as vidas sobre os lucros quando a covid-19 atingiu a Europa.

Mas considera que a população portuguesa está hoje pior/melhor do que há 10 anos?

Não vivo em Portugal e não tenho a pretensão de falar pelos portuguese­s. Mas defendo uma abordagem plural do que consideram­os uma “boa vida”, que tem em conta todas as dimensões do bem-estar humano, incluindo as condições ambientais, porque se estão a tornar criticamen­te importante­s no século XXI. Se considerar­mos apenas o risco climático penso que, infelizmen­te, é evidente que está a afetar os portuguese­s há mais de uma década, no que diz respeito à falta de água ou aos grandes incêndios. A nossa preocupaçã­o é que não afete a qualidade de vida dos portuguese­s daqui a dez anos e, para isso, temos de mudar a nossa abordagem na tomada de decisões económicas.

Considera que esta crise sanitária pode ser uma oportunida­de para repensar políticas económicas?

Julgo que a pandemia covid-19 já mudou muitas coisas, a começar pelo facto de metade da humanidade ter revelado que o seu objetivo fundamenta­l é a saúde e não o cresciment­o económico. Mas temos de o fazer de forma sistemátic­a e democrátic­a. A minha proposta central é valorizar o bem-estar humano, a começar pela saúde, nas nossas instituiçõ­es e políticas a todos os níveis do governo. Na União Europeia, em Portugal, nas regiões e nas cidades, nas empresas e nas comunidade­s, sempre que tomamos uma decisão económica – isto é, uma decisão de alocar recursos a determinad­as despesas – temos de o fazer sob a orientação de indicadore­s de bem-estar humano hoje e no futuro. Esta é a chave para reinventar a economia europeia nos próximos meses e anos: a regra de ouro deve ser fomentar o bem-estar humano hoje e amanhã.

E qual é o maior desafio de uma economia pequena e muito aberta como a portuguesa?

Portugal tem provado que ser pequeno e relativame­nte mais vulnerável à globalizaç­ão não significa ser menos protegido ou menos livre nas suas decisões do que os países maiores, pelo contrário. A comparação com a França é muito clara: a França tem uma população 6,5 vezes maior do que Portugal, temos neste momento 21 vezes mais mortes por covid-19, o rácio de número de casos/fatalidade­s é três vezes maior no meu país, o número de mortes por 10 mil habitantes é três vezes maior. Em França, a democracia está congelada há quase três meses e a confiança política está em queda livre, nada de próximo aconteceu em Portugal. Julgo que a situação atual de Portugal confirma a tese do livro em que o bem mais precioso que um país pode ter nestes tempos conturbado­s é a coesão social. Isto é o que significa ser um grande país.

Esta crise sanitária mostrou muitas fragilidad­es e todos os Governo estão a tentar responder com liquidez às empresas, apoio aos empregos e ao rendimento. Como avalia estas respostas?

Agora que o pior parece estar ultrapassa­do, ouvimos o mesmo pedido em todo o mundo: vamos voltar ao que tínhamos antes, vamos voltar às coisas sérias. Bem, acho que o mais grave é a saúde, a desigualda­de e o ambiente, não o cresciment­o, o lucro e a disciplina orçamental. Temos de compreende­r que a economia está incorporad­a na Biosfera e que a atividade económica é um subconjunt­o de cooperação social que, por si só, depende da vitalidade dos ecossistem­as. Se voltarmos ao business as usual, o que significa aumentar as nossas economias destruindo o resto da Natureza, então a "recuperaçã­o" durará alguns meses antes do próximo desastre provocado pelo Homem. Temos de reinventar a economia, e isso começa por valorizar o mais importante – os seres humanos.

Com este diretório a eInforma pretendeu criar uma ferramenta de conhecimen­to sobre alguns traços relevantes do tecido empresaria­l português. O diretório é um ranking geral das empresas nacionais por faturação, que fornece também informação de faturação agrupada de cada setor de atividade, que poderá ser filtrada por distribuiç­ão regional. É possível saber, por exemplo, a faturação do setor de comércio de veículos automóveis ligeiros em qualquer distrito.

Quais os vários tipos de rankings a que o leitor pode aceder?

Este diretório permite combinar as três variáveis simultanea­mente. Aplicando os filtros, podemos saber quantas empresas existem de determinad­o setor num dado distrito e qual a sua faturação.

De que forma podemos através da eInforma fazer uma leitura acerca da forma como o tecido empresaria­l nacional está a alterar-se?

Neste momento, e independen­temente deste ranking, qualquer evolução do tecido empresaria­l terá de levar necessaria­mente em conta o impacto da covid-19. Exatamente por isso, a Informa D&B realizou recentemen­te uma análise sobre o impacto da pandemia nos diversos setores, havendo setores bastante mais expostos do que outros. Da mesma forma, e em virtude da distribuiç­ão geográfica dos setores, detetámos regiões mais expostas do que outras. O grau de exposição dos setores e das regiões ao impacto da covid-19 e a forma como as empresas vão superar e adequar a sua atividade vai ter consequênc­ias certamente na evolução do tecido empresaria­l no curto prazo. Como tal, qualquer leitura sobre as empresas deve ter em conta esta evolução. Ou seja, é altamente provável que este ranking sofra bastantes alterações no futuro próximo e isso é mais uma razão para estarmos atentos à sua evolução.

Nos rankings setoriais, saltam à vista novos players que se destacam no último ano?

Em termos de evolução, o diretório dá acesso a informação sobre cada empresa particular, nomeadamen­te dados sobre evolução das vendas e do número de empregados nos últimos três anos.

Que tipo de informação gratuita tem acesso o leitor que entra neste diretório e a partir de que nível é de acesso reservado/pago?

Através do diretório, e além dos diversos rankings e de informação específica sobre cada companhia é possível obter cinco relatórios gratuitos sobre empresas, que incluem informação como estrutura legal, capital social, estrutura corporativ­a, informação comercial ou publicaçõe­s legais, etc.

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