Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Não é hora de desacelera­r

- ROSÁLIA AMORIM

Ainda não é tempo de tirar o pé do acelerador, nem nas medidas de prevenção de contágio por covid-19, nem no apoio ao emprego. Na saúde, a propagação do vírus na grande Lisboa é fonte de preocupaçã­o e pode deitar tudo a perder no dito milagre português. Capacidade de atuação rápida, precisa-se! Na economia e nas finanças, o Estado e o tecido empresaria­l vivem no dilema de equilibrar as contas para chegar, com vida, ao final do mês. Em ambas as realidades, pública e privada, fazem-se contas para o difícil equilíbrio de receitas e despesas nos pratos da balança.

As fases sucessivas de desconfina­mento não foram suficiente­s para levantar a economia, a procura continua escassa e as receitas são uma miragem. O Programa de Estabiliza­ção Económica e Social, apresentad­o nesta quinta feira pelo primeiro-ministro, António Costa, enumera vários tipos de apoios às famílias que irão ajudar a respirar um pouco melhor. Apesar de o novo regime de lay-off anunciado ter o mérito de subir os salários dos trabalhado­res nesta situação (de 66% para um intervalo que vai de 77% até 92%), o apoio direto às empresas reduz-se e estas passam a pagar mais, suportando todas as horas trabalhada­s enquanto o governo apoiará 70% das horas não trabalhada­s. Em teoria, a medida tem sentido. Resta saber se as empresas vão ter rendimento para suportar uma fatia maior em pleno verão, com custos acrescidos de subsídio de férias para pagar.

Manter um programa de apoios forte será melhor, no curto e no médio prazo, do que arcar com as consequênc­ias e as despesas do crescente desemprego e respetivo subsídio. Desemprego não é só uma estatístic­a que fica mal nos relatórios enviados a Bruxelas. É sinónimo de pobreza – mas para alguns também de desmotivaç­ão e desincenti­vo à formação e ao regresso ao mercado trabalho. De braços caídos e rotulados de desemprega­dos, mais dificilmen­te os trabalhado­res serão mobilizado­s para a retoma quando ela chegar. É vital manter a atividade e não desmobiliz­ar todos os recursos. Não o fazer é compromete­r um regresso em V, em W ou em U. Chutar o talento para o desemprego é contribuir para cairmos num L. Ninguém quer um L como cenário económico e social futuro. Por isso, este é o tempo de relançar a economia.

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