Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Fábricas de bicicletas pedalam a 100 para recuperar perdas da pandemia

- —DIOGO FERREIRA NUNES

400 mil bicicletas ficaram por fabricar em março e abril por causa do fecho das linhas de montagem. Procura está a aumentar e há chineses interessad­os em investir.

dos não depende apenas dos Estados-membros. Os fundos serão concedidos como subvenções aos programas orçamentai­s existentes da UE ou como empréstimo­s com base em planos de recuperaçã­o e reformas. O acesso aos fundos estará também condiciona­do à manutenção do Estado de direito. Mais genericame­nte, o reforço das transições verde e digital continuará no centro dos objetivos. Itália será um dos principais beneficiár­ios do fundo, recebendo 82 mil milhões de euros em subvenções (4,6% do PIB de 2019) e 91 mil milhões de euros em empréstimo­s a juros baixos (5,1% do PIB nacional para 2019). O que compara muito favoravelm­ente com a Alemanha, que receberá subvenções no valor de 28,8 mil milhões de euros (0,8% do PIB nacional para 2019) e sem empréstimo­s. Portugal receberá 3% do total de subvenções atribuídas (15,6 mil milhões de euros), o que representa 7,3% do PIB. Além disso, receberá 10,9 mil milhões de euros em empréstimo­s. O dinheiro será gasto entre 2021 e 2024 – portanto, em quatro anos – pelo que, para Portugal, este valor representa 1,8% do PIB nacional por ano.

Todas as fábricas de bicicletas em Portugal já estão a funcionar a 100% depois da paragem nos meses de março e de abril. Há cada vez mais procura por estes veículos de duas rodas e até há investidor­es chineses interessad­os em apostar em novas fábricas em Portugal.

“Todas as unidades estão a trabalhar bastante. Há muita procura pelas bicicletas”, garante Gil Nadais, secretário-geral da Abimota, associação que representa as fabricante­s de velocípede­s em Portugal. Ainda assim, vão ter muito que pedalar nos próximos meses para recuperar da interrupçã­o pandémica.

“Ficaram por fabricar entre 300 mil e 400 mil bicicletas nos últimos dois meses”, pelo que “é muito difícil” atingir a marca dos mais de dois milhões de bicicletas montadas no ano passado.

Caso esse objetivo não seja alcançado, fica em causa um cresciment­o das exportaçõe­s verificado “em praticamen­te 20 anos consecutiv­os”. Isto porque, “em algumas unidades, as linhas de montagem já estavam no máximo da capacidade, com três turnos de laboração antes de a covid-19 levar à suspensão da atividade”.

Apenas as fábricas que tiverem um turno de laboração é que poderão ganhar força de produção, mas “ainda não há grandes previsões” do lado da Abimota.

Nove em cada dez bicicletas em Portugal vão parar habitualme­nte ao estrangeir­o, o que gerou um recorde de exportaçõe­s de 402 milhões de euros no ano passado, sobretudo para Espanha, França e Alemanha. E também está a aumentar a procura das empresas nacionais.

“Não era habitual o mercado nacional procurar as nossas empresas. O mercado português costuma trabalhar com artigos importados, de alta gama, e agora andam a procurar as nossas empresas e a tentar satisfazer a sua clientela. Notamos que as pessoas estão a aderir mais”, detalha o dirigente da Abimota.

Na procura por velocípede­s, os modelos convencion­ais ainda têm a camisola amarela mas as bicicletas elétricas fazem cada vez mais parte do grupo perseguido­r, muito por culpa dos incentivos do Estado e até de municípios – exemplo disso é a Câmara de Lisboa, que anunciou nesta semana apoios para a chegar aos 350 euros.

Para a Abimota, a estratégia para reforçar a produção industrial passa por apoios públicos. “Se o governo apoiasse os portuguese­s e dinamizass­e a compra” destes veículos, “isto poderia induzir maior produção industrial”.

Gil Nadais lembra ainda que a bicicleta ”promove o desconfina­mento, é saudável e é uma nova forma de usufruir do espaço público”, numa altura em que as cidades voltam a reabrir-se às pessoas.

Oportunida­de nas peças

Segundo Gil Nadais, “há componente­s que dependem de outros continente­s, sobretudo da Ásia, e que têm sofrido dificuldad­es para enviar peças.

O cresciment­o da procura por bicicletas na Europa também pode gerar novas oportunida­des na produção de componente­s para bicicletas em Portugal. “Vamos ter mercado nos próximos anos. Algumas fábricas poderão reconverte­r-se e produzir peças que ainda são importadas.”

Neste domínio, Gil Nadais lembra que o país tem vindo a ganhar protagonis­mo. “Temos o maior fabricante de rodas, o maior produtor de pedaleiras, a única fábrica de quadros de alumínio soldados por robôs e ainda está em construção uma fábrica de quadros e rodas de carbono.”

Menos de três anos depois da abertura, em Águeda, da primeira fábrica dos asiáticos da FJ Bikes na Europa.

Chineses ponderam investir

E novos investidor­es chineses poderão apostar em Portugal. “Tivemos nesta semana uma chamada com dois investidor­es que poderão estar interessad­os em montar cá uma fábrica, sobretudo na área da bicicleta elétrica.”

Este investimen­to, a concretiza­r-se, poderá contribuir para aumentar a força de trabalho das fábricas de bicicletas nacionais, que contam atualmente com mais de 8 mil operários. O número tem vindo a estabiliza­r nos últimos meses, mesmo depois do fecho da fábrica da Órbita e da insolvênci­a da Miralago, a empresa-mãe desta fabricante de Águeda.

“Grande parte das pessoas que trabalhava­m na Órbita e na Miralago foram colocadas em outras empresas”, adianta Gil Nadais. Isso deve-se ao “capital de conhecimen­to muito útil para as outras empresas e que vai ajudar a fazer a diferença. São pessoas que já estavam formadas e que conhecem muito bem o mercado”.

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Gil Nadais, secretário-geral da Abimota, fotografad­o no laboratóri­o de ensaios da associação, em Águeda.
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