Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Ajudar a TAP sem preconceitos
Os acionistas privados têm de mostrar que querem investir, que estão na TAP para ficar, sublinha o governo – que atrasou a intervenção de forma a tentar forçar a sua mão na gestão. O governo insiste que quer proteger os interesses nacionais mas repreendeu a TAP por anunciar planos de voos “antes de tempo” – não reagindo, porém, ao anúncio da easyJet de que retomaria 75% dos voos em Portugal.
Sejamos claros. Quanto mais cedo for retomada a operação da TAP, mais cedo se estacam perdas. Perdas que são comuns a todas as companhias europeias, provocadas pela pandemia, não por uma gestão desadequada. E não é ao Estado que cabe gerir linhas aéreas – a interferência pública na gestão privada já deu provas suficientes de ineficácia e neste caso com a agravante do garrote imposto por Bruxelas aos auxílios de Estado.
A verdade é que os privados que compraram a TAP investiram muito na companhia e deram provas de estarem empenhados em ficar e vender Portugal no mundo. Se os prejuízos persistiam antes da covid, eram justificados pelos passos ambiciosos que foram dados – ao contrário das décadas de gestão pública – e as dores de crescimento estavam a merecer cuidados até a pandemia deixar todos os aviões em terra. Foi a covid que deu o golpe na sustentabilidade da TAP. E pretender contar uma história diferente para iludir a opinião pública, ou insistir numa nacionalização que pelas regras europeias seria sentença de morte, é desonesto. Ou revelador do mesmo preconceito ideológico que empurrou este governo para a reversão da privatização, um mau negócio que lhe garantiu os 50% mas uns míseros 5% de poder na TAP – e justamente, já que quem financiou, renovou, multiplicou trabalhadores, rotas e frequências foram os privados que em 2015 pegaram numa companhia falida, de aviões velhos, quadros insuficientes e prejuízos brutais acumulados e a devolveram à vida.
O lockdown mundial obrigou a TAP – como a Lufthansa, a Air France e demais gigantes – a recorrer ao apoio estatal. O impulso, que pode ir a 1,2 mil milhões, foi aprovado na Europa mas o governo avisa – lá estão as regras de Bruxelas... – que tem de ser pago a seis meses ou levará a despedimentos e cortes na operação. O governo, não a TAP. Porque os apoios europeus são excecionais e têm sempre condições.
Uma TAP pública não podia financiar-se de outra forma que não pelos seus resultados – ou tornando-se em mais um elefante alimentado pelo contribuinte.
P.S.: João Leão assume segunda-feira a pasta das Finanças, contando com António Mendonça Mendes, Cláudia Joaquim, João Nuno Mendes e Miguel Cruz como secretários de Estado. Uma mudança que se espera que continue a privilegiar o rigor das contas públicas.