Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Cristina Siza Vieira 2022 poderá ser o ano em que se atingirá os resultados de 2019

- Texto: Ana Laranjeiro

A CEO da Associação de Hotelaria de Portugal não esconde algum otimismo para a atividade turística neste verão, ajudada pelos mercado sportuguês e espanhol. Mas sem comparação com 2019.

O desconfina­mento, o retomar de voos e a abertura de fronteiras são pontos fundamenta­is para a hotelaria, que esteve praticamen­te dois meses de portas fechadas devido à pandemia. Cristina Siza Vieira, CEO da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) nota que há alguma esperança que o segundo semestre corra melhor do que a primeira metade, podendo ajudar a que o ano não seja tão negativo.

A hotelaria preparou-se a tempo para a pandemia?

Parece-me que ninguém se preparou a tempo. Embora em Portugal, quer a hotelaria quer outros setores quer a parte sanitária, não tivessem tanto tempo de preparação, absorveram de maneira diferente o que se estava a passar no resto do mundo e já estavam mais prevenidos. Na hotelaria, fomo-nos conformand­o com aquilo que se ia verificand­o mas nem havia muito bem como nos prepararmo­s. Estávamos precavidos no sentido de saber que isto iria ter o impacto que veio a ter. Da primeira para a terceira fase do nosso inquérito houve alterações substancia­is nas expectativ­as. Na primeira fase, os hoteleiros estavam mais otimistas. Em março, estavam com a expectativ­a de que durasse menos tempo [a pandemia] e que não fosse tão global em termos de impacto nos mercados emissores. Na primeira fase, ainda havia otimismo...

Nessa altura, as estimativa­s para prejuízos eram de 800 milhões. Há dias, eram superiores.

Muito superiores. Temos um gráfico que vai mostrando a evolução do pessimismo e, no início, havia um número elevado de inquiridos que estimavam que as quebras fossem de 10% na ocupação. Foi piorando. Nesta última fase do inquérito, há alguma expectativ­a de que o segundo semestre não seja tão negativo quanto o primeiro.

No atual contexto, o que seria um bom verão?

Gostaríamo­s que fosse, embora seja um ano perdido, um ano a zero; que conseguíss­emos dizer: não ganhámos mas não perdemos; foi neutro do ponto de vista de perdas. É o que os hoteleiros têm vindo a dizer. Conseguimo­s [hotelaria] ter o break-even [receitas iguais aos gastos] apenas com uma taxa de ocupação na ordem dos 60% – é uma regra intuitiva. Neste momento, consideran­do que só vamos ter uma parte, cerca de 50% da capacidade toda de ocupação aberta, se conseguíss­emos fechar a taxa de ocupação a 50% seria um ano já bastante razoável. Estamos a estimar, pelo menos, uma perda mínima de 60% na taxa de ocupação, embora com variações em território nacional. No verão, e fruto do turismo nacional e da abertura das fronteiras com Espanha, talvez possamos atingir os 60% de taxa de ocupação. O mercado interno significou 30% das dormidas em 2019 – mesmo consideran­do que teríamos um mercado interno alargado e contando com o espanhol, teríamos 41% das dormidas: 26 milhões. Estamos aquém da nossa capacidade instalada. Estamos otimistas para estes 41% de dormidas porque temos sinais de abertura do transporte aéreo.

É isso que fará a diferença?

Vamos todos concorrer e Portugal é muito dependente do transporte aéreo. A abertura do espaço aéreo é um sinal interessan­te numa dupla perspetiva. Primeiro, as companhias aéreas estão a levantar do chão, com ajudas de Estado mas também com uma perspetiva de negócio; e é um sinal ótimo para toda a economia. Além disso, há a perspetiva do combate ao medo e que a pulsão por viajar é superior ao medo. Isto não é igual em todas as classes etárias e mercados. Depende de como o mercado de origem lidou com a situação.

Lidamos bem com a situação?

Lidamos. A todos os níveis. Por um lado, já estamos um pouco mais precavidos para lidar com a questão da curva e do ponto de vista sanitário conseguir responder. A imagem que projetamos no exterior e, esta situação que é um golpe de comunicaçã­o fantástico, o selo Clean&Safe. O selo ser emitido pela autoridade pública que tutela do turismo é fortíssimo.

“No verão, fruto do turismo nacional e abertura das fronteiras, talvez possamos atingir 60% de taxa de ocupação.”

Nestas circunstân­cias, e por causa da nossa dependênci­a, o transporte aéreo é para nós o maior problema. Temos de ter uma estratégia bem definida de como é que vamos posicionar-nos para captar as rotas. Consideram­os que o maior problema é também ainda haver muita indefiniçã­o sobre a retoma do transporte aéreo e abertura das fronteiras. Por outro lado, fomos crescendo e a capacidade instalada também nos mercados de longo curso – que foi uma aposta estratégic­a – deu imenso resultado. O mercado dos EUA é o quinto em receitas, o sexto em hóspedes e cresceu 20% em dormidas. Uma aposta que estava a ser ganha.

Essa aposta foi também graças à TAP. Como é que a TAP pode ser fator decisivo para o turismo?

A TAP representa 50% do movimento na Portela. É uma das maiores empresas portuguesa­s e é estratégic­a. Por si só, tem um peso muitíssimo importante no turismo e no PIB. Este cresciment­o nos EUA foi uma estratégia da TAP acompanhad­a por uma promoção muito ativa e interessan­te do Turismo de

A nossa expectativ­a é que não. Durante 2021, atingir os resultados de 2019 vai ser muito complicado. A não ser que a vacina seja encontrada ou tratamento­s muito eficazes, vamos estar ainda num período de contenção e isso torna a operação hoteleira mais cara e complexa.

Não esperam promoções?

É isso. As pessoas estão a fazer contas e a perceber até onde é que compensa, ir depois de investir 3800 euros – que foi a nossa média por hotel e apenas nos quartos que estão abertos só em medidas de higiene e segurança – e não podem praticar saldos. Portanto, 2021 ainda não vai ser o ano em que as coisas vão estar equilibrad­as do ponto de vista económico-financeiro. Cremos que 2022, se não houver nenhum percalço, pode ser o ano em que se atinja resultado de 2019.

Grande parte do setor recorreu às linhas de crédito. Foi o balão de oxigénio de que o setor precisava?

A opinião da AHP é que houve ali algum momento de desacerto inicial, como sabemos até à aplicação do lay-off simplifica­do. As linhas de apoio e financiame­nto foram fundamenta­is, particular­mente para PME e microempre­sas. O nosso inquérito dá nota que o fundamenta­l foi o recurso ao lay-off, ou seja, havia estofo financeiro para aguentar mas não para suportar encargos fi

A AHP ainda está a estudar como é que isto vai funcionar. Por um lado, consideram­os que esta extensão do lay-off nos moldes em que está feita – incentivo ao retorno ao emprego – parece bem ponderada e que vem ajustada àquilo que são as nossas necessidad­es, porque não vamos ter a hotelaria a funcionar em pleno. Mas neste momento há que perceber que, se vou ter no máximo 50% da capacidade instalada, tenho de ter medidas de apoio enquanto a situação se verificar. Para já, até fim do ano, com extensão ao primeiro trimestre de 2021 e perceber como é que vai retomando. Achamos que isto tem de se ir medindo aos poucos.

Para a AHP, faz sentido continuar com o projeto do Montijo?

O presidente da AHP já se pronunciou. Já estava tomada essa decisão, a par das obras da Portela, e no nosso entender não vale a pena revisitar decisões tomadas.

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