Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“Mais do que discutir verbas, há que pensar o que fazer com elas”

- —JOANA PETIZ

Elisa Ferreira fala de “iniciativa única da UE”, capaz de transforma­r a agricultur­a. Ministra Ana Abrunhosa reconhece trabalho a fazer.

Qual é hoje o papel do mundo rural? A questão tem atravessad­o Europa, revela a comissária responsáve­l pela pasta da Coesão, e Elisa Ferreira propõe uma solução para o problema: “O desenvolvi­mento deve criar polos intermédio­s e dinâmicas ajustadas aos território­s”, que equilibre ambientes e fatores, revelando uma verdadeira política de coesão. Pelo que, neste momento, “mais do que discutir verbas, era bom discutir o que queremos fazer com elas: uma agricultur­a moderna, com base nas novas tecnologia­s, que revele o lado mais inovador e exportador de um setor de enorme importânci­a, que nos surpreende­u pela capacidade de adaptação, evolução e resiliênci­a nestes tempos particular­mente difíceis”.

A digitaliza­ção da agricultur­a, defende a comissária, a par da sustentabi­lidade de um setor importantí­ssimo que nos permita voltar ao lema “do prado ao prato, numa nova dinâmica de desenvolvi­mento que envolva quem está no terreno e que pode materializ­ar efetivamen­te esta iniciativa de um futuro melhor, mais equilibrad­o e coeso e mais ambientalm­ente consciente”.

Foram as principais ideias focadas por Elisa Ferreira, em mais um debate promovido pela Confederaç­ão de Agricultor­es Portuguese­s (CAP), dedicado à Coesão Territoria­l e Como Evitar o Abandono das Zonas Rurais, e que contou ainda com a presença da ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, e o presidente daquela associação, Eduardo Oliveira e Sousa.

Reconhecen­do o papel fundamenta­l e a agilidade na transforma­ção do setor agrícola na pandemia, Elisa Ferreira recordou que a Comissão lançou uma “iniciativa única na história da União Europeia, adequada à dimensão da crise” e que passa – assim seja aprovada por Estados-membros e Parlamento Europeu – pela emissão de 150 mil milhões para relançar a economia tendo em conta o reequilíbr­io espacial. Nesse enquadrame­nto, Portugal poderá alicerçar o seu relançamen­to num montante que “duplicará, para os próximos anos, os fundos estruturai­s que recebemos: seremos o oitavo país da UE, com 26 mil milhões, dos quais 15,5 a fundo perdido”, especifico­u a comissária.

“Num período de forte mudança como o que vivemos, a primeira reação que o mundo agrícola teve foi lançar o lema ‘a agricultur­a não pára’, e a CAP está empenhada em manter sob esse princípio a participaç­ão dos agricultor­es nessa mudança”, vincou o presidente da CAP. Eduardo Oliveira e Sousa lembrou a evolução do país ao nível de infraestru­turas, nomeadamen­te rodoviária­s, defendendo que o desenvolvi­mento que agora urge para captar pessoas e atividade para o meio rural é distinto. “Precisamos de pessoas e empresas, de banda larga, de uma rede elétrica que não falhe e de obras como inovação aplicada à armazenage­m de água”, elencou.

Para o presidente da CAP, potenciar o chamamento dos jovens passa também pelas diretrizes que a própria Europa estabelece­u como prioridade­s, incluindo a aposta nas renováveis e novas tecnologia­s, “matérias que os jovens abraçam e que podem e devem enquadrar-se na modernizaç­ão”. “É preciso fontes que deem a quem opta por viver no interior qualidade de vida e acesso a bens públicos do séc. XXI – desde núcleos e serviços como a educação, a saúde e a assistênci­a, tudo o que precisa uma comunidade, níveis de bem-estar aceitáveis, acesso à internet”, completou Elisa Ferreira. “Digital e verde associam-se.”

Argumentos que mereceram também a concordânc­ia de Ana Abrunhosa. “Quando falamos de coesão não estamos a focar-nos apenas no interior mas no desenvolvi­mento equilibrad­o do país e é nessa perspetiva que devemos olhar o mundo rural”, defendeu a ministra da Coesão Territoria­l, lembrando que este não é apenas a produção agrícola mas se alarga à floresta, ao turismo e deve incluir outros modelos adaptados a zonas rurais. Quais? “Porque não pensarmos em localizar ali atividades de conhecimen­to e inovação, laboratóri­os colaborati­vos, respostas distintas que a experiênci­a anterior nos diz capazes de funcionar na captação e fixação de população e em simultâneo diversific­ar a base económica desses território­s”, sugere a governante.

Para Ana Abrunhosa, é essencial o envolvimen­to de todos no desenho destas estratégia­s que permitam reequilibr­ar a população e a riqueza no país. “E é preciso haver igualdade de acesso, serviços, oportunida­des, qualidade de vida.”

As empresas de vinho estão a passar “sérias dificuldad­es”, que se irão manter “até ao final deste ano”, pelo menos. A convicção é do novo presidente da ViniPortug­al, que teme falências e encerramen­tos no setor. “Estão a chegar-me informaçõe­s de muitas empresas de vinhos que estão à venda porque as pessoas não têm capacidade para aguentar os negócios sem venderem durante tanto tempo”, diz Frederico Falcão, que recusa citar regiões, garantindo que o problema “não é local, é nacional”. A solução, defende, é investir mais e melhor na promoção internacio­nal.

A ViniPortug­al é o organismo interprofi­ssional responsáve­l pela promoção internacio­nal. Com um orçamento de 5,8 milhões de euros, tinha previsto neste ano realizar mais de 100 ações em 16 mercados estratégic­os, com especial destaque para os EUA, o Brasil, o Canadá e a China. Iniciativa­s que foram, na sua grande maioria, anuladas ou adiadas. Agora, a ViniPortug­al procura decidir, mercado a mercado, que ações pode ainda fazer e quais as que tem de reformular. No Brasil, por exemplo, prepara-se para realizar um grande evento digital em outubro, que irá substituir as provas do Rio de Janeiro e de São Paulo, que juntam anualmente perto de 10 mil pessoas. E pondera ainda reali

“75% do setor são microempre­sas que não vendem para a grande distribuiç­ão e, muitas delas, nem sequer exportam.” —FREDERICO

FALCÃO

Presidente da ViniPortug­al

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A comissária europeia para a Coesão e Reformas foi convidada da conferênci­a da CAP.
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