Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Gonçalo Byrne “Fazer contentore­s de vida é o fim da arquitetur­a”

- —SÓNIA SANTOS PEREIRA

Às eleições de 26 de junho, da Ordem dos Arquitetos, leva o lema “Isto só lá vai com todos”. E fala sobre o movimento de transforma­ção nas cidades.

este momento de transforma­ção pode ser uma oportunida­de muito importante para começar a desencadea­r ações na sociedade civil, no ensino público, com os encomendad­ores públicos e privados, de incrementa­r o diálogo com os projetista­s.

Os arquitetos não fazem projetos se não tiverem consigo os engenheiro­s, os historiado­res, os arqueólogo­s. A arquitetur­a é um mundo generalist­a, nós somos especializ­ados em gerir a transforma­ção, que é o que se chama projeto, mas sobretudo em transforma­r o projeto numa construção. O fim da arquitetur­a é pensar, projetar e construir contentore­s de vida, ou seja, edifícios, espaços públicos, pedaços de cidade onde se processa a vida das pessoas. Desenvolve­r um programa deste tipo não é fruto de um presidente, de um iluminado, ele não vai a lado nenhum sozinho. As ordens profission­ais têm de ser inclusivas. E a cidade contemporâ­nea tem de seguir este modelo. E isto só lá vai com todos.

Há quatro candidatur­as às eleições. Como vê esta mobilizaçã­o?

estão longe de representa­r todos os arquitetos que vivem em Portugal. Há três ou quatro mandatos, a taxa de votação andava à volta dos 5%, o que é um desastre. Uma ordem que elege os seus corpos dirigentes com uma participaç­ão de 5% espelha que qualquer coisa vai muito mal. No último mandato, creio que a participaç­ão já chegou aos 25%. Espero que o facto de haver quatro candidatur­as seja uma oportunida­de para um apelo forte ao voto.

Para um país tão pequeno não teremos demasiados arquitetos?

Portugal é o segundo país da Europa com o maior número de arquitetos por habitante. O primeiro é a Itália. Em boa verdade poder-se-ia dizer que há arquitetos a mais para o país que somos. E isso tem que ver com um fenómeno que acontece a partir de meados dos anos 1980. Com a abertura do ensino universitá­rio privado apareceram 23 ou 24 faculdades de arquitetur­a privadas em três anos. Essas escolas privadas tiveram um sucesso incrível. Com a crise de 2008, um grande número fechou. Pode haver um número excessivo de arquitetos para o volume de encomendas públicas e privadas. As estatístic­as estão um pouco desatualiz­adas, porque não se sabe ao certo a dimensão da diáspora dos jovens arquitetos devido à crise de 2008. Mas também há a diáspora interna. Há, por exemplo, arquitetos a trabalhar em lojas, como caixa, alguns conseguira­m ir para o ensino, para a administra­ção pública. E há sobretudo os que não têm trabalho ou têm mas com enorme precarieda­de.

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