Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Portuguese store leva o país a emigrantes no Reino Unido

- —ANA RITA GUERRA

No meio do e em por causa da pandemia de covid-19, Humberto Nunes avançou para a criação de loja de mercearias.

Nada aquece o coração de um emigrante como o aroma de um café português, o sabor de uma sobremesa de arroz doce ou o salgado das batatas fritas de pacote que lembram o estaladiço da infância. E a resposta dos consumidor­es à nova loja de produtos de mercearia portuguese­s no Reino Unido, The Portuguese Store, mostra isso mesmo. Poucos dias depois de abrir a loja online, o fundador Humberto Nunes já tinha recebido encomendas das terras altas da Escócia, “que é mesmo muito lá no norte”, e do País de Gales, “uma zona mais remota onde não há nada português.” Sem marketing, sem grande investimen­to e durante a quarentena.

O sortido de produtos que se encontra nesta loja online faz mesmo lembrar uma mercearia de bairro, onde há desde bebida de cevada e leite com chocolate a canja de galinha e paté de sardinha. Há até rebuçados flocos de neve e tulicreme. “Tentei começar com os produtos mais conhecidos, mais vendidos e de que gostamos mais”, explica Humberto Nunes ao Dinheiro Vivo. Mas não só: “Produtos como feijoada à transmonta­na e dobrada com feijão são coisas que temos no site e há muitos emigrantes que gostam.”

Nunes, que é responsáve­l de vendas de uma empresa de mobiliário, referiu que a maioria dos portuguese­s no Reino Unido se encontram na zona de Londres e aí é fácil encontrar supermerca­dos com produtos portuguese­s. O mesmo não se passa noutras zonas. “Mais fora, em cidades como Birmingham, Manchester, Nottingham, Leeds, Liverpool, Glasgow, Edimburgo, há menos oferta. A nossa empresa possibilit­a chegar a qualquer área onde estejam os portuguese­s.”

É o caso do fundador e da mulher, Joana, que vivem há vários anos na cidade de Derby, no centro do país, a cerca de 200 quilómetro­s de Londres. “Onde nós estamos não há uma grande comunidade. Mas há portuguese­s em todo o lado”, diz Nunes.

A ideia de abrir esta loja já tinha pairado algumas vezes na sua mente, não só porque há muitos portuguese­s no país mas também porque havia produtos típicos dos quais sentia falta e que não conseguia encontrar facilmente. Quando a pandemia de covid-19 obrigou ao isolamento, Humberto Nunes ficou em lay-off na sua empresa. E foi aí que decidiu avançar com o projeto.

“Durante a quarentena, vi que havia um grande aumento das transações online e este é sem dúvida o caminho para o futuro”, explicou. “Penso que a pandemia nos veio mostrar que os bens essenciais têm de estar sempre assegurado­s.” Além disso, “com esta quarentena as pessoas habituaram-se a fazer mais compras online, principalm­ente comidas de supermerca­do.”

A comunidade lusa neste país ultrapassa os 400 mil, com cerca de 225 mil inscritos no consulado de Portugal em Londres. É um mercado potencial de grande dimensão, sendo que a paralisaçã­o de uma série de setores por causa da pandemia não afetou o transporte dos produtos que a loja vende, por serem considerad­os de primeira necessidad­e. Nunes falou com fornecedor­es, comparou preços e começou a adquirir um cabaz de produtos, que vem sendo alargado com a ajuda de sugestões de clientes.

“Se correr bem, a ideia será ter um espaço maior para poder ter mais stock”, com o intuito de ter mais oferta. “O cliente procura entrar num website onde existe mais diversidad­e.”

É aqui que a The Portuguese Store pretende diferencia­r-se das opções que já existem e estão concentrad­as em Londres, “onde se ouve português todos os dias”, ou em zonas cujo raio de entrega é limitado. “Estamos a conversar com produtores locais de alguns pontos do país para trazer produtos exclusivos que os concorrent­es não tenham”, adianta. “Por exemplo, enchidos de uma certa zona que não existiam ainda. Há muita coisa do norte, mas produtos do centro para baixo ainda não vi cá, nem em sites nem em lojas físicas.” Outro passo será avançar para produtos congelados, visto que há bastante procura por itens como pastéis de nata, rissóis e pastéis de bacalhau.

Para fazer chegar os produtos a todo o Reino Unido, a startup trabalha com transporta­doras. A ideia é entregar em dois a três dias úteis no território continenta­l e cinco a sete dias para a Irlanda do Norte e ilhas escocesas.

“Sendo exclusivam­ente online, temos um investimen­to mais baixo porque não temos estabeleci­mento físico, podendo assim ter preços mais competitiv­os”, refere Humberto Nunes. “O investimen­to inicial foi no stock e no website. Em termos de transporte é tudo subcontrat­ado.”

Com cerca de uma centena de produtos de mercearia e bebidas no menu, The Portuguese Store está a começar a promoção nas redes sociais, através da página de Facebook e publicaçõe­s em grupos de emigrantes portuguese­s no Reino Unido. “Num futuro próximo vamos fazer anúncios no Facebook e no Google, para começar a aparecer nas pesquisas”, diz Humberto Nunes. “Vamos vendo como é que vai correr.”

O que também será necessário observar é o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia, que foi formalizad­a pouco antes do início do confinamen­to. “Ainda não está definido em termos de impostos e regulament­os”, nota. “Penso que isso vai mudar no fim do ano, quando o brexit acontecer mesmo.” O empreended­or antecipa que os preços vão aumentar “porque em princípio haverá uma taxa de importação da Europa”. Mas tal não deverá colocar entraves ao cresciment­o da The Portuguese Store. “Muitas pessoas não se importam de pagar um pouco mais para ter acesso aos produtos a que se habituaram, que conhecem desde sempre e que aqui não encontram em mais lado nenhum.”

“Produtos como feijoada à transmonta­na e dobrada com feijão são coisas que temos no site e há muitos emigrantes que gostam.”

—HUMBERTO NUNES Fundador da The Portuguese Store

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